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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Malone folheia o Caderno de Cinema buscando em achar um bom filme para se
distrair e relaxar. Queria um filme preferencialmente de arte, para o qual pudesse
convidar Olga para assistirem à noite. Contudo, todos os filmes em cartaz abordam
violência ou política. Alguns, financiados por políticos, enalteciam suas figuras como
homens do povo. Havia virado moda fazer filmes de políticos bancados por amigos
empresários, como uma forma de agradecer aos benefícios vindos de obras sem
licitação.
O gênero político não era o que Olga apreciava, portanto estava fora de
cogitação um cineminha à noite. Havia uma escassez tremenda de produções de
qualidade, tanto no cinema como no teatro. Shows bizarros, obras nada criativas, obras
de arte de qualidade duvidosa assolavam o país. Em vez de tintas e pincéis eram usados
materiais exóticos na composição das obras, incluindo carnes, macarrão, feijão e arroz –
que, digitalizados em alto relevo, integravam a arte contemporânea. Usava-se até sangue
humano e fogo para a pintura de quadros. Olga estava horrorizada com o Movimento de
Vanguarda, tal como era denominado. Para ela, a pobreza intelectual também fazia
vítimas no seu meio. Nem sequer os rios de dinheiro que o governo federal colocava em
patrocínios para incentivar a arte melhoravam o nível das produções. Somente o
patrimônio dos produtores apadrinhados tinha aumentado e os verdadeiros atores e
produtores ficavam de fora do processo, impedidos de produzirem suas obras e
descapitalizados. Malone, indignado, pensava: “Que merd...”. Ele sabia que sua esposa
tinha de engolir certas coisas como diretora de museu, pois artistas apadrinhados não
podiam ser vetados. Isso contrariava o delegado, razão pela qual ele fechou o jornal e
jogou-o no lixo. Estava fora de cogitação, definitivamente, terminar bem a noite de um
dia que começou mal.
Passava das 13 horas e a aparente calma na delegacia foi interrompida. Homens
algemados são empurrados por dois policiais, acusados de tentativa de estupro no
metrô.
Inúmeros problemas tiravam o sono de Malone, mas estupro no metrô em plena
luz do dia era demais para o delegado. Já atordoado com o alto índice de assaltos a
banco, o evento do estupro o indignou bastante. Além disso, havia também a pressão do
secretário de segurança que acabara de ligar e já cobrava resultados de Malone, pois as
eleições estavam próximas e o governo dependia da queda nos números da violência

sábado, 23 de julho de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME



O início da nova jornada
Toca o despertador às 6h30. É quinta-feira de uma manhã chuvosa, um daqueles
dias em que não se deve sair de casa. O delegado Antunes Malone acorda, beija a
mulher e vai até a janela do quarto, que fica no segundo andar de sua casa no bairro
Azul. Desloca ligeiramente a cortina e observa, por um instante, a chuva que cai. Em
seguida, faz um breve alongamento na sala, vai para o banheiro e liga o chuveiro.
Enquanto a água esquenta, olha-se no espelho e o que vê é um homem cansado. Sua
viagem a Paris não fora suficiente para descansar seu corpo e sua mente. O dia a dia tem
sido estressante nos últimos tempos, com noticiários divulgando ameaças de meteoros
vindos contra a Terra.
A cobrança por resultados é também constante, mas Malone não o lamenta.
Afinal, havia sido a vida que escolhera para si. Poderia ser economista como seu irmão,
mas tinha lá suas razões quanto ao capitalismo selvagem contra seu país e supunha não
dar certo em tal carreira. Talvez poderia seguir a medicina tal como seu pai, mas ele
mesmo acabou morrendo por um erro médico e Malone pensava com seu botões:
“Ainda bem que os meus dois filhos estudam no exterior e escolheram ser cientistas”.
Para ele isso era um conforto, até porque havia muita violência em Rio de Rosário. Sua
profissão era de risco e, com os filhos estudando em outro país, Malone ficava mais
tranquilo e com menos uma preocupação em sua vida.
Malone imagina como seria sua primeira manhã após sete meses. Não precisaria
correr para o banheiro nem escovaria rapidamente os dentes, podendo tomar relaxante
banho na sua casa de campo e desfrutando da hidromassagem que somente sua mulher
usufruía quando subiam a serra aos fins de semana. Já na cidade, aqui ela tinha toda
manhã a seu dispor. Formada em Artes Plásticas e Literatura e diretora do Museu de
Arte Contemporânea, Olga era o equilíbrio na sua vida e Malone pensou sobre isso
antes de sair.
Na delegacia, como sempre, um café frio o esperava.
O sentido de responsabilidade não é comum nos dias de hoje, contudo o
delegado Antunes Malone sempre levou a sério sua profissão. Acabou de ser transferido
para uma nova delegacia, o que ele considerava um castigo de final de careira e também
um desafio e uma missão

domingo, 17 de julho de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR.

Maravilha. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia, pois haviam estabelecido um código de crendice entre eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso das vendas do seu armazém à magia do lugar. Os contadores de história ficavam envolvidos pelo público ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos ilustres membros noctívagos, sentados em número de doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos, e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça. A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados, contando suas fábulas e suposta falácias e aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha, que durante um século guardaram potes de ferro repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da região e escondiam dos seus senhores engolindo-as. Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como a abolição chegou antes, eles não puderam usar as pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé Queiroga com sua voz de trovão depois desta explanação. Contou que, num belo dia, estava arando a terra da sua propriedade no final da tarde, e tocou a enxada em uma borda de metal, que tilintou como um sino da igreja local. Agachado, limpou as bordas, pensando ter achado um sino da corroa imperial, como tantos outros perdidos na estrada do coqueiral, mas, para sua surpresa, ao terminar a escavação, deparou-se com um caldeirão de ferro, repleto de pepitas de ouro

O MENINO QUE QUERIA VOAR.

Maravilha. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia, pois haviam estabelecido um código de crendice entre eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso das vendas do seu armazém à magia do lugar. Os contadores de história ficavam envolvidos pelo público ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos ilustres membros noctívagos, sentados em número de doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos, e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça. A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados, contando suas fábulas e suposta falácias e aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha, que durante um século guardaram potes de ferro repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da região e escondiam dos seus senhores engolindo-as. Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como a abolição chegou antes, eles não puderam usar as pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé Queiroga com sua voz de trovão depois desta explanação. Contou que, num belo dia, estava arando a terra da sua propriedade no final da tarde, e tocou a enxada em uma borda de metal, que tilintou como um sino da igreja local. Agachado, limpou as bordas, pensando ter achado um sino da corroa imperial, como tantos outros perdidos na estrada do coqueiral, mas, para sua surpresa, ao terminar a escavação, deparou-se com um caldeirão de ferro, repleto de pepitas de ouro

O MENINO QUE QUERIA VOAR.

Maravilha. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia, pois haviam estabelecido um código de crendice entre eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso das vendas do seu armazém à magia do lugar. Os contadores de história ficavam envolvidos pelo público ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos ilustres membros noctívagos, sentados em número de doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos, e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça. A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados, contando suas fábulas e suposta falácias e aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha, que durante um século guardaram potes de ferro repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da região e escondiam dos seus senhores engolindo-as. Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como a abolição chegou antes, eles não puderam usar as pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé Queiroga com sua voz de trovão depois desta explanação. Contou que, num belo dia, estava arando a terra da sua propriedade no final da tarde, e tocou a enxada em uma borda de metal, que tilintou como um sino da igreja local. Agachado, limpou as bordas, pensando ter achado um sino da corroa imperial, como tantos outros perdidos na estrada do coqueiral, mas, para sua surpresa, ao terminar a escavação, deparou-se com um caldeirão de ferro, repleto de pepitas de ouro

quarta-feira, 13 de julho de 2016

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO


“Hoje é o dia mais feliz da minha vida; resgatei uma vida
para me dedicar e amar”. Somente assim consegui superar a
humilhação e suplantei a dor; perdi a vergonha do passado e
hoje pode ser o recomeço de uma nova vida. Acredito que o
destino me reservou algo melhor para superar o passado, e
essa criança resgatará algo de bom dentro de mim que estava
perdido todos esses anos. Como se quisesse fazer uma meia
culpa Hortência escreveu em letras vermelhas em uma pagina
separada e sublinhada a seguintes frases.” Sei que paguei um
preço alto pelas injustiças às quais fui submetida e das quais
possa ter cometido e por isso peço perdão a Deus, mas o
tempo é o senhor da razão e o destino a Deus pertence”.
Assim terminava o diário de Hortência Albuquerque.
Todas essas descobertas não esclareceram muito para Marcos,



Augusto e sua esposa Helena dedicavam ao filho toda
atenção. Helena, por sua vez, apresentou-o sempre como
filho legítimo. Ela o matriculou na mesma escola em que
dava aula, José cresceu sadio e se mantiveram as expectativas
deles com relação aos seus desejos de ter um filho carinhoso,
inteligente, e bonito. É como se referiam ao filho em
conversas com os amigos e parentes quando falavam dele,
enaltecendo suas qualidades. Com o tempo, alguns sintomas
no seu aprendizado estavam deixando Helena um pouco
irritada. José às vezes necessitava de um pouco mais de
atenção da sua mãe para aprender a lição. Helena, por sua
vez, demostrava pouca paciência com a criança, enquanto
Augusto, que pouco ficava em casa, tentava amenizar as suas
frustações, e sempre que podia levava o menino por longos
passeios pela cidade, ou em parques, mas do que o menino
mais gostava era visitar os museus, ou bibliotecas. Apesar da
sua dificuldade no aprendizado, era fascinado por locais do 
conhecimento, como se soubesse que ali estaria a sua cura
 para o mal que o afligia sem um diagnóstico conclusivo.
Sua mãe o qualificava como desleixado e preguiçoso para o
estudo. Helena não sabia, ou não queria acreditar, aceitar, que
seu filho pudesse ter algum problema. Ela rejeitava essa ideia,
que ia contra a sua vaidade. Preferia não procurar um médico
da neuropsicologia, que poderia explicar a ela que seu filho
talvez fosse portador de uma doença chamada dislexia, que
afeta o aprendizado. Ela, sem procurar entender o dilema de
José Francisco, lamentavelmente o tratava de forma errônea,
aumentando o seu problema.
Com o tempo, Helena passou a não levá-lo mais às festas
da família.
Justificava-se dizendo que ele não gostava de sair de casa.
Com o tempo, trocou o menino de escola, matriculando-o em
outro bairro. Augusto voltara a beber, e não conseguia impor
a sua autoridade. Estava dominado por Helena, cada vez mais
autoritária. Ela, quando estava aborrecida, jogava em sua
cara a culpa de ter adotado o menino. Augusto simplesmente
amenizava suas frustrações na bebida e levava o menino aos
jogos do seu time no Maracanã, proporcionando a si e ao
menino raros momentos de alegria.

sábado, 9 de julho de 2016


TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

TRECHO DO LIVRO


Ele já tinha sua própria casa e com trinta anos se casara
com uma mexicana, meio hippie, chamada Dolores Ortega.
Mas a alegria da sua mãe não foi completa. José estava com
uma aparência que não a deixou feliz: barbudo, com cabelo
longo e dentes amarelados, sendo sintomas de certo desleixo ou
de muita droga. Apesar de muito carinhoso e aparentemente
bem-sucedido, ele parecia ter voltado a usar drogas pesadas,
e Elena Temia pelo pior. A mãe não falou nada com ele para
não estragar a sua alegria de revê-lo e simplesmente pediu a
Augusto que procurasse conversar com ele, mas Elena sabia
que Augusto não seria bem-sucedido por admirá-lo muito e
por ter conseguido ser o roqueiro que ele não fora com certeza
ele não tocaria no assunto das drogas, pois só se interessava
pelas músicas do filho, em que se projetava e se via realizado.
Depois de voltarem ao Brasil, alguns anos se passaram, e
eles ficaram sem contato pessoal com José, que eventualmente
escrevia uma carta ou mandava um cartão de aniversário para
ambos. Augusto e Elena tinham sempre notícias do filho,
mas já se passavam três meses sem que eles se falassem, e seu
telefone não atendia, nem sua mulher mexicana estava em
casa quando ligavam. Muito preocupados, eles resolveram
viajar de volta aos Estados Unidos.
Ao chegarem à casa de José em São Francisco, na
Califórnia, encontram o lugar vazio. Por muito custo, o
localizaram em um hospital internado em estado calamitoso,
pois ele sofrera uma overdose de L.S.D, e sua esposa o
abandonara sozinho no hospital.
Os médicos os aconselharam a trazê-lo de volta para o
Brasil, e imediatamente seus pais entram em contato com a
embaixada para saber se poderiam trazê-lo de volta e se não
haveria nenhum empecilho político para sua pessoa que
estava exilada. Depois de regressar dos Estados Unidos, José
recuperou-se após um ano de internação em uma clínica.
Meses depois, ele voltou a tocar, e agora, sem uma banda
própria, tocava em boates na zona sul. Entre altos e baixos,
tentava viver cada dia como se fosse o último.
31/12/1996. Em uma clínica na zona oeste da cidade,
José Augusto, quarenta e cinco anos, está internado numa
clínica de reabilitação
Pela vigésima vez, seu pai, Osvaldo, médico aposentado,
e sua mãe, Elena professora aposentada, tentaram recuperá-lo
de uma overdose de cocaína. Aquela internação estava
consumindo os últimos recursos financeiros dos seus pais,
que, aos setenta anos, já haviam vendido tudo o que tinham
na tentativa de recuperar sua dignidade e salvar sua vida antes
que eles se fossem deste mundo, pois sabiam que ninguém
ampararia José ou lhe daria um abrigo, sequer seus pais
não tinham mais nada o que deixar em termos de recursos
financeiro e todos seus esforços até aquele momento foram
em vão.
Ele às vezes sentia uma grande angústia, faltava-lhe um
pedaço de si. Tinha vontade de gritar para todo mundo ouvir,
seu rock protesto falando antes de sucumbir. Escreveria suas
últimas linhas de seus pensamentos alucinados. “Vivo como
um retrato preso na parede, sou a imagens das mazelas de
vielas que frequento em busca do ópio, o desprezo da sua
própria alma, sou a sombra das guerras dos guetos pelo poder,
prisioneiro das tardes no escuro fechado em quartos de hotel.
Vagas lembranças surgiam amassadas em rolos de papel. Era
um pedaço podre que se despedaçava em vermelho sangue,
extraído das veias, perdido sem orgulho.
Suas alucinações ficavam bem claras ao escrever nas paredes do quarto,
 aparentemente sem sentido . “Viajo em um mundo verde escuro,
 como a selva, que me suga, não faz mais sentido viver, pois farsas
montadas separam de mim meu outro ser.
“Sinto meu sangue correndo em outras veias longe de mim”.
 Lamentavelmente não foram muito longe suas ideias revolucionárias,
interrompidas e travadas pelos excessos. José Augusto, tempos depois,

 jogou a toalha e despediu-se do mundo.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

TRECHO DO LIVRO.                                                                        E-BOOK AMAZON    ,KOBO     


Hortência não admitia que a jovem fosse capaz de
qualquer reação lógica e sentenciou, como se fosse uma
vidente, capaz de prever o futuro da jovem:
– Não acredito, pode escrever o que eu estou te dizendo. O
destino dela é certo e com certeza será o mesmo que acontece
com todas aquelas que se oferecem para homens achando
que estarão resolvendo suas vidas da maneira mais fácil. 
Vida fácil, e, quando se veem na rua da amargura, acabam
achando um homem para se aproveitar delas e depois usá-las
para se prostituir para eles. Escreve o que estou te falando
Jorge: você ainda vai da de cara com ela na Lapa rodando a
bolsinha. E não se esqueça do nosso acordo: quando Roberto
voltar da Europa, a história você já sabe – ela pegou um trem
e sumiu, não se sabe para onde, ninguém viu. Não esqueça 
Jorge: mantenha a história e você será bem recompensado.
  O motorista e voltou para seu quarto e tomou um comprimido para para dormir.

No centro da cidade na Cinelândia às 6h da manhã

A jovem reergueu a sua cabeça, enxugou suas lágrimas
e suspirou fundo. Parecia estar olhando os monumentos ao redor ou talvez esperando um aviso do além para tomar uma direção, pois não conhecia nada na cidade, para ela um mundo estranho. No entanto, não tinha a sensação de estar sozinha devido ao grande tráfego de carros e pessoas que começava a se aglutinar ao seu redor, vindo de todos os lados. Esse movimento de pessoas a deixava, apesar da sua situação pouco confortável, menos desprotegida. Horas depois, ela andou alguns metros, sentou-se no meio fio da Rua 13 de maio e por ali ficou por quase uma hora de cabeça baixa, chorando. Depois de algum tempo, recompôs-se, levantou-se e caminhou até suas pernas não aguentarem mais de cansaço. Por dois dias, ela andou a esmo de um lado para outro sem um destino lógico, até que visualizou duas jovens trajando uniformes de trabalho verde oliva com cinto branco. Ela ficou encantada ao ver as duas moças sorrindo e aparentemente transbordavam alegrias ao saírem de um hotel à sua frente.Pensou que ali estivesse o seu destino como funcionária,

terça-feira, 5 de julho de 2016

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

Simultaneamente
Às 4h30 da manhã
No bairro da Glória um jardineiro chegou à Praça Paris
e começava seu trabalho preocupado com as nuvens negras
que cobriam a cidade, pois eram um mau sinal naquela
manhã de primavera e poderiam atrasar seu trabalho. Sua
responsabilidade era manter o jardim bem conservado e
preservar o traçado e a elegância daquela praça inspirada em
um jardim parisiense. Ele, com sua habilidade de um artista,
esculpia figuras de animais nas plantas ornamentais e nos pés
de fícus, usando toda sua imaginação. Orgulho do bairro da
Gloria, a Praça Paris era uma referência no bairro desde a
sua inauguração em 1926, em que as flores nunca deixaram
de florir junto às esculturas de felinos em mármore Carrara,
que agregava valor ao espaço em conjunto com a exuberante
estátua equestre do Marechal Deodoro da Fonseca em bronze,
onde pombos rebeldes defecavam manchando a imagem da
ilustre figura histórica, fazendo com que o fiel jardineiro
madrugasse para limpá-la antes da vistoria do prefeito. Ate as
hortênsias brotavam nesse jardim tropical bem cuidado por
ele, o jardineiro fiel. Todos os dias, às cinco horas da manhã,
ele já iniciava as suas tarefas. Começava aparando a grama,
esmerando-se para torná-las perfeitas. Enquanto cumpria as
suas tarefas rotineiras, ele assoviava o trecho da música.
 O barquinho, [de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli] “Dia de luz festa de sol e o Barquinho a deslizar no macio azul do mar”, alegrando os corações dos primeiros passantes, que sorriam agradecidos pela qualidade da sonoridade harmônica. Nos canteiros central da praça, as azaleias coloriam o inicio do dia, enquanto pássaros bebiam água nos chafarizes. O jardineiro dava uma pausa ao seu trabalho para apreciar o avião da Panair pousar no Aeroporto Santos Dumont, sonhando que um dia iria embarcar em um deles e poder levantar voo rumo à sua cidade natal no Nordeste, onde alguém o aguardava. Enquanto ele sonhava com o seu retorno, seguia em frente assoviando as músicas de sua predileção, que alegravam seu coração nostálgico. Nessa mesma manhã de primavera sobre o Morro do Pão de Açúcar, um acanhado raio de sol surgia entre nuvens sobre a baía da Guanabara e iluminava o bondinho do Pão de Açúcar parado entre as estações. Enquanto não amanhecia o símbolo maior da cidade, era como uma miragem sobre a montanha. A estátua do Cristo Redentor, vista de longe, devido à neblina, parecia fechar seus braços sobre a cidade de tanto frio. No centro da cidade, o suntuoso Palácio Monroe rivalizava em beleza e esplendor com o Teatro Municipal, dando valor histórico e arquitetônico à Cinelândia, onde pombos revoavam com o despertar da cidade. O trânsito começava a fluir lentamente em direção ao centro financeiro. Na ainda silenciosa e adormecida Av. Rio Branco, em frente ao Cine Odeon, repentinamente o silêncio da manhã era quebrado com uma freada brusca de um carro modelo Aero Willys de cor marrom, assustando o pequeno jornaleiro, que caminhava tranquilamente pela calçada com seus jornais a tiracolo, anunciando as manchetes com seu chamado peculiar “EXTRA, EXTRA”. Surpreendido pela freada brusca, ele interrompeu seu chamado para a manchete do dia, o susto o fez engolir as palavras que davam ênfase à sua chamada “extra, extra, bandido da luz vermelha ataca de novo’’, quase deixando seus jornais caírem no chão. A fumaça tomou conta do ambiente e um cheiro de borracha queimada impregnou o ar, fazendo tossir o pequeno jornaleiro. O carro parou enfrente ao cinema Odeon, que exibia o filme 007 contra o Fantástico Dr. No. A porta do carro se abriu e uma jovem foi empurrada para fora dele. Ela saiu tropeçando na mala que fora jogada logo a seguir sobre ela e quase se chocou com a foto do ator Sean Connery no cartaz que estava emoldurado na vitrine do cinema com cara de agente com licença para matar.

domingo, 3 de julho de 2016

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

Trecho do livro.

Helena já de pé começou andar pelo quarto com o fio
do telefone enrolando em suas pernas, questionava Augusto,
com um misto de satisfação e temor em sua voz alterada.
– Ninguém o viu pegar a criança. Pergunta Helena.
– Você tem certeza de que foi abandonada?
– Acho que sim, eu não vi a mãe, nem ninguém por
perto, o bebê estava numa cesta de vime enrolado num pano
encardido que já joguei fora e embrulhei em uma toalha de
mesa de linho branco.
– Você olhou bem a criança, não tem nenhum defeito
aparente; ela é branquinha. – Isso importa para você?
– Eu não gostaria que fosse muito moreninho; na nossa
família não tem ninguém de cor.
Augusto respira fundo e suspira.
– Ah, Helena Isso não é hora de pensar em cor da pele.
Esse é nosso sonho, mas fique tranquila: ele é branco de
cabelos negro e olhos de cor violeta.
– Tem certeza, Augusto? Nesse escuro você consegue ver
bem?
– Claro, Helena, estou com ele no colo.
– E como nós vamos fazer? Levar para o juizado?
– Você não quer o bebê?
– Quero muito, mas acho que corremos o risco de sermos
descobertos, Augusto.
– E se nos levássemos ele para o interior e arrumássemos
um documento? – sugeriu Augusto Rocha, sabendo que sua
mulher concordaria.
– Você acha isso possível? – perguntou Helena aceitando
a ideia.
– Lá é bem mais fácil. Na maternidade local da nossa
família, a gente dá um jeito, vai ser bom para ele. Nós vamos
fazer um bem a um ser humano abandonado.
– Eu vou sair antes que chegue alguém. Passo agora
mesmo aí em casa e pego você.
Do outro lado da linha, Helena respondeu com um
sorriso, roendo as unhas:
– Tá bom, querido, você me convenceu. Só pode ser um
presente de Deus



TRAMA DA VIDA

Eram exatamente 4h30 da manhã, o silêncio só era quebrado pelo vento uivante da madrugada. E nessa casa de dois andares estilo colonial, si...