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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

segunda-feira, 28 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

TRECHOS DO LIVRO








O delegado Antunes Malone sempre vinha cedo para a delegacia e naquele momento havia muita coisa a resolver. Malone chefiava uma investigação que já consumira três messes de trabalho sobre um roubo de obras de arte ocorrido no Museu Histórico Nacional. Ele já estava prestes a concluí-la com a prisão dos ladrões, dos receptadores e do chefe do bando, que era dono de uma empresa de segurança. Só faltava a expedição do mandato de busca e apreensão para sua equipe se deslocar até a casa do chefe da gangue.
Malone estava muito preocupado com a estranha demora para a expedição do mandato, considerando-a fora dos padrões. A demora poderia facilitar a fuga dos envolvidos e o vazamento de informações. Se mais uns dias se passassem, isso daria tempo para os criminosos sumirem com as provas e jogar-se-ia por terra todo seu trabalho de meses. O delegado tinha sua sala de operações instalada no terceiro andar do prédio da Secretaria de Segurança, bem ao lado do secretário.
Trabalhar ao lado do chefe tinha vantagens e desvantagens, pensava Malone todas as vezes que encontrava o secretário e o cumprimentava. Se as decisões exigissem a aprovação imediata do secretário, bastaria atravessar o corredor e, quiçá em poucos segundos, ele obteria alguma resposta. Da mesma forma, quando o secretário o convocasse para uma reunião seria fácil encontrá-lo. Neste momento, como se fosse transmissão de pensamento, ele olha para o corredor e as portas de vidro transparentes e vê o secretário Adriano Torres. O secretário usa seu terno impecável da grife Armani Chang, sapatos bicolores reluzentes e ostenta seu anel de ouro e brilhantes, que de longe brilhavam como pequenos faróis a caminhar em direção ao seu gabinete. Malone balança a cabeça procurando não pensar no que via naquela figura ostensiva que, com passadas rápidas, chega até sua porta.
– Bom dia, Malone! Como tem passado? Estamos tão perto e quase não nos vemos! Estou acompanhando seus passos, quer dizer, seu trabalho. Por falar nisso, como seguem as investigações sobre esse famoso roubo de grande repercussão na mídia?
– Bem, secretário Adriano, estamos quase fechando o cerco em cima da quadrilha que atacou o Museu Histórico Nacional.
– O que roubaram desta vez?
– Levaram dois quadros de um pintor alemão do século XVII, que retratavam a assinatura da criação do Estado de Rosário pelo imperador.
– Estes quadros têm algum valor de mercado, Malone, ou estão roubando somente um registro da nossa história? – indaga o secretário.
– Com certeza não haverá mercado nem colecionador que os queiram, secretário. Mas talvez os ladrões não saibam o que pode dificultar a nossa investigação.
Com ar irônico e sorriso contido, o secretário olha para Malone e diz:
– Posso te dar uma sugestão, Malone?
– Pois não, secretário.

– Vai ficar só entre nós. Arrume réplicas e as ponha no lugar, pois ninguém vai perceber nada. Sua esposa conhece muitos artistas, não é certo? Então, encomendamos cópias perfeitas e pronto. As colocaremos no lugar e tenho certeza de que dá pra enganar o povo que visita o museu. A maioria, Malone, não sabe nada da história de Rosário. 

sexta-feira, 25 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

As pessoas que o conheciam não entendiam sua decisão. Alguns achavam que ele enlouquecera e outros achavam que ele estava atrás de grana fácil, pois todos os que iam para aquela delegacia enriqueciam a olhos vistos. A desconfiança advinha de que antes trabalhava na delegacia especializada em roubos de obras de arte, onde tinha desenvolvido um ótimo trabalho de investigação com sua capacidade, organização e inteligência, na maioria das vezes se passando por comprador das obras roubadas. Com sua especialidade em disfarces, ele e sua equipe desarticularam várias quadrilhas internacionais compostas por pessoas acima de qualquer suspeita, desde colecionadores de caráter duvidoso da alta sociedade internacional até membros da sociedade de Rio de Rosário. Recuperaram muitas obras de arte de grande valor, reduzindo o prejuízo dos museus e das seguradoras.

   
TRECHOS DO LIVRO.












Malone investigava suspeitos que praticavam delitos sem o uso da violência e com alto grau de sofisticação, o que exigia uma investigação inteligente e nenhum confronto (suas especialidades). A Delegacia de Roubos a Bancos, um verdadeiro antro da polícia, nos últimos meses teve três delegados afastados por possíveis desvios de conduta com associação ao crime organizado e vários detetives foram presos. O delegado se sentia como o próprio Cavalo de Troia sendo introduzido nesta delegacia como se fosse um vírus, embora do bem, com a missão de destruir as células cancerosas da corrupção.

     Sua equipe ficou na outra delegacia e somente o detetive Ribeiro foi liberado para acompanhá-lo, embora não inspirasse muito sua confiança. Mesmo assim, Malone sentia mais prazer agora, como se o tempo pudesse andar mais rápido caso cumprisse sua missão.

     Depois de toda essa reflexão, o delegado segue até seu quarto e despede-se da esposa com um beijo. Ela, ainda na cama, abre os olhos, sorri e lhe deseja bom-dia. O delegado desce para a garagem, entra no carro e, logo na saída, um pouco distraído, quase se envolve num acidente. Um Vectra cinza freia bruscamente, antes de atingi-lo na lateral. Malone salta do carro e dirige-se aos ocupantes do veículo. Seu paletó está desabotoado e a arma na cintura fica à mostra. Ele tenta se desculpar, contudo, antes que possa se expressar, o jovem ao volante do Vectra engata a ré e arranca com o carro cantando pneus. Uma picape S10 preta que vem logo atrás faz o mesmo e quase atropela o delegado, que pensa que sua arma pode ter assustado o rapaz e sua atitude não foi bem interpretada. Achou normal as circunstâncias do evento, pois o número de agressões no trânsito é alarmante, o que deixava todos nervosos e apreensivos nos dias de hoje. Malone volta ao carro e segue para a delegacia

quinta-feira, 24 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Malone pensava com seus botões: “Será que um dia isso terá fim? Será que o
poder público chegou ao fundo do poço? Será que os promotores se eximem da culpa e
perderam a liberdade de atuação ou se acovardam? Será que os juízes perderam a força


para aplicar com braço forte o peso das sentenças e perderam o juízo da gravidade da
situação? Será que um dia haverá Justiça digna e de confiança da qual possamos nos
orgulhar? Será que um dia teremos governantes que usarão o dinheiro público de forma
honesta.
O delegado Antunes Malone, lamentavelmente, chegava à triste conclusão de
não ver saída a curto prazo para a crise. Ele sabia que a mudança que ele e milhões de
rio-rosarianos esperavam levaria algumas décadas. Os políticos, apesar de eleitos pelo
povo, quando assumiam o poder mostravam a sua verdadeira face. Era algo comparável
à ocupação romana no auge do seu gigantesco poder. A conclusão de Malone era de que
se havia voltado no tempo, sendo hoje governados por falsos tribunos que só defendiam
seus escusos interesses e por Césares que só aumentavam seus impérios financeiros –
espoliando o país e dividindo, numa espécie de colegiado, as riquezas desviadas do
Estado.
Malone sabia que não tinha poder. Mas ele tinha a consciência tranquila por não
fazer parte de todo o engodo contra o povo de sua cidade. No mais, ele ficaria satisfeito
de poder achar uma fórmula para cooperar com o início de uma reação contra a
pandemia moral que contaminava indivíduos sem escrúpulos, causadores de notória
desordem humana.
O que mantinha viva sua esperança era que Malone amava sua cidade e ainda
não havia perdido a fé. Rio de Rosário encanta pela beleza natural e faz bom proveito
do turismo, uma das suas principais fonte de renda. Os bancos, com seu sistema falho,
atraem grande número de investidores de todas as espécies, ávidos por lucros rápidos e
de fácil conexão. Com isenções de impostos instituídas pelo governo local para atrair o
capital estrangeiro, o dinheiro entrava e saía da Bolsa de Valores sem nenhum problema
e Rio de Rosário, por conseguinte, se tornava o centro financeiro do país e da máfia
estrangeira.

segunda-feira, 21 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME











O início da nova jornada

     Toca o despertador às 6h30. É quinta-feira de uma manhã chuvosa, um daqueles dias em que não se deve sair de casa. O delegado Antunes Malone acorda, beija a mulher e vai até a janela do quarto, que fica no segundo andar de sua casa no bairro Azul. Desloca ligeiramente a cortina e observa, por um instante, a chuva que cai. Em seguida, faz um breve alongamento na sala, vai para o banheiro e liga o chuveiro. Enquanto a água esquenta, olha-se no espelho e o que vê é um homem cansado. Sua viagem a Paris não fora suficiente para descansar seu corpo e sua mente. O dia a dia tem sido estressante nos últimos tempos, com noticiários divulgando ameaças de meteoros vindos contra a Terra.

     A cobrança por resultados é também constante, mas Malone não o lamenta. Afinal, havia sido a vida que escolhera para si. Poderia ser economista como seu irmão, mas tinha lá suas razões quanto ao capitalismo selvagem contra seu país e supunha não dar certo em tal carreira. Talvez poderia seguir a medicina tal como seu pai, mas ele mesmo acabou morrendo por um erro médico e Malone pensava com seu botões: “Ainda bem que os meus dois filhos estudam no exterior e escolheram ser cientistas”. Para ele isso era um conforto, até porque havia muita violência em Rio de Rosário

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME.

Imagens do lançamento.

terça-feira, 15 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME


TRECHOS DO LIVRO
 E- BOOK



As ruas estavam às escuras e sem luz devido à chuva ou pelo tiroteio ocorrido
entre traficantes e pela disputa entre facções criminosas pelo controle do bairro Marrom.
Os moradores do bairro ficaram trancados dentro de casa e, com a noite chegando,
estavam à luz de velas, pois os técnicos da companhia de luz não ousavam vir enquanto
a polícia não chegasse ao local.
Como era rotina, todos sabiam que a normalidade só voltaria depois de algumas
horas, só quando ‘baixasse a poeira’ ou a ‘vaca tossisse’, tal como ressaltavam os
moradores em sua gíria.
Já eram mais de 23 horas quando a polícia chegou com dois carros e seis
policiais, que pareciam tranquilos para estabelecer a ordem após a carnificina. A perícia
fotografava os corpos sem isolar a área e curiosos circulavam entre os cadáveres. Logo
depois, deram ordem para dois rabecões recolherem oito corpos, sendo a maioria a de
negros e de prováveis jovens. No local, todos estavam enfileirados e de costas como se
tivessem sidos executados e todos tinham perfurações nas nucas. Alguns mantinham as
mãos ainda para trás como se houvessem sido amarrados antes das execuções, pois
havia marcas de fios bem apertados nos pulsos.
A polícia não perdia tempo tentando achar testemunhas porque a maioria dos
moradores trabalhava longe de casa e a rua era exclusivamente residencial. Além disso,
os poucos moradores que estavam em casa provavelmente foram para debaixo de suas
camas para não serem atingidos por uma bala perdida, que era uma das causas de morte
mais reais e assustadoras entre os residentes.
A ação da polícia foi muito rápida e a perícia não esteve só. O detetive Romão
estava sentado no banco de um bar e, tomando uma coca-cola, comandava a operação a
certa distância. Romão dizia aos colegas que não queria sujar seus sapatos novos com o
sangue das vítimas e, bastante agitado, gesticulava e ordenava para andarem rápido,
pois não tinha o dia todo. Para um bom policial no comando de uma investigação tais
atitudes estariam fora dos padrões, mas esse era o padrão da polícia em Rio de Rosário.
Romão tomava as decisões de forma afoita e apressada enquanto os policiais, sob seu
comando, seguiam recolhendo cartuchos pelo chão sem muito cuidado, pois vários
cartuchos ficaram no meio fio e outros foram empurrados para dentro do esgoto.

quinta-feira, 10 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

TRECHO DO LIVRO

Colocando a maleta sobre a mesa, o embaixador pergunta:
– Vocês querem beber alguma coisa?
– Não bebemos álcool, só se for uma carreirinha de pó ou refrigerante –
responde um dos rapazes.
– Pó eu não carrego, mas podem escolher o refrigerante no frigobar. Eu também
não bebo e o hotel hoje só colocou refrigerantes. Fiquem à vontade, matem a sede de
vocês.
Os dois se dirigem ao frigobar e cada um deles pega uma soda e a bebe quase
numa golada só. Ansiosos para contar o dinheiro, abrem a maleta eufóricos e notam que
os pacotes de notas de euros estavam em maços de cinquenta mil. Em seguida, eles se
apressam tentando colocá-los em suas mochilas enormes.
O embaixador se acomoda no sofá e observa a tudo atentamente, prevendo algo.
Os rapazes de repente diminuem o ritmo frenético, uma vez que seus braços parecem
não responder mais à sua vontade. Os dois param ao mesmo tempo, olham para o
embaixador e, num último inútil esforço, tentam levar as mãos à cintura a fim de
sacarem suas armas. O embaixador se levanta calmamente, aproxima-se de um deles,
retira a sua arma e fala em seu ouvido:
– É inútil reagir, pois dormirão em um segundo...
Antes que o embaixador concluísse a frase, os dois rapazes caíram de costas
desmaiados.



O embaixador pega todo o dinheiro de volta e recoloca os maços na maleta.
Dirige-se ao telefone do hotel na cabeceira da cama, aperta a tecla 1, a recepcionista
atende e ele diz:
– Sofia, é o delegado Malone. Manda o detetive Ribeiro e sua equipe ao
apartamento para recolherem a dupla dinâmica. Os anjinhos dormiram.
– Delegado, hoje foi muito rápido. Não vamos pagar nem sequer uma diária ao
hotel.
– Eles estavam com muita pressa, Sofia, e foram com muita sede ao pote.
Resolveram dormir mais cedo, detetive – respondeu o delegado, demonstrando que a
recepcionista também é uma agente da lei.

quarta-feira, 9 de março de 2016

sexta-feira, 4 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Trecho do livro







Como várias cidades do extremo sul do planeta, Rio de Rosário também vive uma epidemia malévola e algo sinistro toma conta de tudo sutilmente, como sendo um poder paralelo. Percebe-se uma inércia no ar que favorece os bandidos e os conspiradores de plantão. Milhares de cruzes são fincadas quase todos os dias sobre rios de lágrimas, respingadas do sangue de inocentes vítimas de balas perdidas e de assaltos nas saídas de bancos, dentro dos ônibus, nos trens e nos metrôs. A violência não escolhe vítimas, pois crianças, velhos e policiais são todos vitimados por essa onda nefasta. Ademais, corriqueiramente algumas cidades são sitiadas por bandos armados que nos remetem ao passado, fazendo-nos relembrar o faroeste do tempo das diligências













Trecho do livro JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

TRAMA DA VIDA

Eram exatamente 4h30 da manhã, o silêncio só era quebrado pelo vento uivante da madrugada. E nessa casa de dois andares estilo colonial, si...