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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Malone folheia o Caderno de Cinema buscando em achar um bom filme para se
distrair e relaxar. Queria um filme preferencialmente de arte, para o qual pudesse
convidar Olga para assistirem à noite. Contudo, todos os filmes em cartaz abordam
violência ou política. Alguns, financiados por políticos, enalteciam suas figuras como
homens do povo. Havia virado moda fazer filmes de políticos bancados por amigos
empresários, como uma forma de agradecer aos benefícios vindos de obras sem
licitação.
O gênero político não era o que Olga apreciava, portanto estava fora de
cogitação um cineminha à noite. Havia uma escassez tremenda de produções de
qualidade, tanto no cinema como no teatro. Shows bizarros, obras nada criativas, obras
de arte de qualidade duvidosa assolavam o país. Em vez de tintas e pincéis eram usados
materiais exóticos na composição das obras, incluindo carnes, macarrão, feijão e arroz –
que, digitalizados em alto relevo, integravam a arte contemporânea. Usava-se até sangue
humano e fogo para a pintura de quadros. Olga estava horrorizada com o Movimento de
Vanguarda, tal como era denominado. Para ela, a pobreza intelectual também fazia
vítimas no seu meio. Nem sequer os rios de dinheiro que o governo federal colocava em
patrocínios para incentivar a arte melhoravam o nível das produções. Somente o
patrimônio dos produtores apadrinhados tinha aumentado e os verdadeiros atores e
produtores ficavam de fora do processo, impedidos de produzirem suas obras e
descapitalizados. Malone, indignado, pensava: “Que merd...”. Ele sabia que sua esposa
tinha de engolir certas coisas como diretora de museu, pois artistas apadrinhados não
podiam ser vetados. Isso contrariava o delegado, razão pela qual ele fechou o jornal e
jogou-o no lixo. Estava fora de cogitação, definitivamente, terminar bem a noite de um
dia que começou mal.
Passava das 13 horas e a aparente calma na delegacia foi interrompida. Homens
algemados são empurrados por dois policiais, acusados de tentativa de estupro no
metrô.
Inúmeros problemas tiravam o sono de Malone, mas estupro no metrô em plena
luz do dia era demais para o delegado. Já atordoado com o alto índice de assaltos a
banco, o evento do estupro o indignou bastante. Além disso, havia também a pressão do
secretário de segurança que acabara de ligar e já cobrava resultados de Malone, pois as
eleições estavam próximas e o governo dependia da queda nos números da violência

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