“Hoje é o dia mais feliz da minha vida; resgatei uma vida
para me dedicar e amar”. Somente assim consegui superar a
humilhação e suplantei a dor; perdi a vergonha do passado
e
hoje pode ser o recomeço de uma nova vida. Acredito que o
destino me reservou algo melhor para superar o passado, e
essa criança resgatará algo de bom dentro de mim que
estava
perdido todos esses anos. Como se quisesse fazer uma meia
culpa Hortência escreveu em letras vermelhas em uma
pagina
separada e sublinhada a seguintes frases.” Sei que paguei
um
preço alto pelas injustiças às quais fui submetida e das
quais
possa ter cometido e por isso peço perdão a Deus, mas o
tempo é o senhor da razão e o destino a Deus pertence”.
Assim terminava o diário de Hortência Albuquerque.
Todas
essas descobertas não esclareceram muito para Marcos,
Augusto e sua esposa Helena dedicavam ao filho toda
atenção. Helena, por sua vez, apresentou-o sempre como
filho legítimo. Ela o matriculou na mesma escola em que
dava aula, José cresceu sadio e se mantiveram as
expectativas
deles com relação aos seus desejos de ter um filho
carinhoso,
inteligente, e bonito. É como se referiam ao filho em
conversas com os amigos e parentes quando falavam dele,
enaltecendo suas qualidades. Com o tempo, alguns sintomas
no seu aprendizado estavam deixando Helena um pouco
irritada. José às vezes necessitava de um pouco mais de
atenção da sua mãe para aprender a lição. Helena, por sua
vez, demostrava pouca paciência com a criança, enquanto
Augusto, que pouco ficava em casa, tentava amenizar as
suas
frustações, e sempre que podia levava o menino por longos
passeios pela cidade, ou em parques, mas do que o menino
mais gostava era visitar os museus, ou bibliotecas.
Apesar da
sua dificuldade no aprendizado, era fascinado por locais
do
conhecimento, como se soubesse que ali estaria a sua cura
para o mal que o
afligia sem um diagnóstico conclusivo.
Sua mãe o qualificava como desleixado e preguiçoso para o
estudo. Helena não sabia, ou não queria acreditar,
aceitar, que
seu filho pudesse ter algum problema. Ela rejeitava essa
ideia,
que ia contra a sua vaidade. Preferia não procurar um
médico
da neuropsicologia, que poderia explicar a ela que seu
filho
talvez fosse portador de uma doença chamada dislexia, que
afeta o aprendizado. Ela, sem procurar entender o dilema
de
José Francisco, lamentavelmente o tratava de forma
errônea,
aumentando o seu problema.
Com o tempo, Helena passou a não levá-lo mais às festas
da família.
Justificava-se dizendo que ele não gostava de sair de
casa.
Com o tempo, trocou o menino de escola, matriculando-o em
outro bairro. Augusto voltara a beber, e não conseguia
impor
a sua autoridade. Estava dominado por Helena, cada vez
mais
autoritária. Ela, quando estava aborrecida, jogava em sua
cara a culpa de ter adotado o menino. Augusto
simplesmente
amenizava suas frustrações na bebida e levava o menino
aos
jogos do seu time no Maracanã, proporcionando a si e ao
menino raros momentos de alegria.
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