Lancarto já estava a sem esperança, havia sobrevivido
até aquele momento graças às proteínas das aranhas que já estavam em números
reduzidos, seus olhos se habituaram à escuridão, e ele observava com calma as
poucas que ainda existiam. Uma delas, como se soubesse que para a sobrevivência
da espécie teria que lhe mostrar uma saída, se deslocou por um pequeno orifício
na parede e desapareceu entre essa fissura. Ele a observava atentamente, foi testando
a parede até achar a que lhe parecia menos espessa. No desespero, tentou improvisar
uma ferramenta de pedra que se desprendera com a explosão, mas ela se quebrou facilmente
por ser de origem vulcânica, o que o deixou muito irritado. Ele gritou e esbravejou
para si mesmo e para as aranhas: “Thomas... Ah, aquele desgraçado vai me pagar!” Esbravejou várias vezes, cheio de
ódio.
Thomas havia levado todas as ferramentas com ele, incluindo
a picareta. Lancarto usou o pé para quebrar uma estalagmite, que se mostrou um
pouco mais resistente do que ele achava, pegou uma ponta e começou a escavar
num ritmo frenético. As paredes de quartzo não eram tão resistentes, a ponto de
fazê-lo desistir. Suas forças vinham da sua linhagem: seu pai fora um herói que
morrera com honra, e ele guardara suas medalhas como referência de vida.
Suas mãos começaram a sangrar, e ele diminuiu o
ritmo. Descansou recostado na parede da caverna e chorou de dor e raiva. Disposto
a nascer de novo, depois de mais duas horas de escavação, com o cansaço querendo
abater de novo sobre ele, Lancarto buscou forças nas entranhas da sua mente
vingativa, invocou as forças das trevas para concluir seu intento,e mesmo
exaurido quebrou quantas estalagmites eram necessária para continuar escavando.
Rasgou sua calça e a manga da sua camisa e fez uma proteção para continuar sua
tentativa de liberdade. Quando se sentia exausto, parava por alguns minutos somente
e logo retornava àquela dura empreitada em busca da liberdade.
Lancarto era alimentado por um ódio que só crescia
dentro de si. Por dois dias, a proteína das últimas aranhas o alimentou o
suficiente para conseguir a sua liberdade. Seu esforço não havia sido em vão, e
depois de muito escavar conseguiu uma abertura o suficiente para passar o seu
corpo avantajado - ele havia perdido uns dez quilos, o que o ajudou a sair por
uma fenda não muito larga. As suas mãos estavam em carne viva, agora ele era obrigado
a rasgar o resto das pernas das suas calças para improvisar proteção para suas mãos,
para escalar uma pequena parede. Com muito sacrifício, alcançou um respirador
da caverna, escalou cem metros de parede agarrando-se a vegetação até alcançar
o topo. Lancarto visualizou sua liberdade no horizonte. Do lado de fora, tentou
dar um grito de liberdade, encheu seu pulmão de ar, mas o grito não saiu de tão
debilitado que estava. Um choro contido, emocionalmente feliz, rolou por seu
rosto, e ele desabou no chão e ficou estendido por duas horas até recobrar as forças.
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