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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

BREVE. UM SILICONE ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA. A história do primeiro Sherlock Holmes Brasileiro envolvido em uma trama de assainato e espionagem internacional. O QUE seria trágico se não fosse cômico.

O per­so­nagem cen­tral é um de­te­tive com um vasto cur­rí­culo em elu­ci­da­ções de crimes e aban­do­nado pela mu­lher que não aguen­tava mais a sua vida de boêmio. Per­tur­bado pela se­pa­ração, ele cir­cula pela noite em busca de emo­ções, das noites ca­ri­ocas dos in­fer­ni­nhos da Lapa de­ca­dente. Reduto  da Ma­dame Satã.

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO

O tempo passava lentamente na fazenda dos Lancartos; era como se a Terra tivesse parado de girar para os boias-frias. Todos tinham o aspecto de famintos e desnutridos, as poucas horas de descanso e as péssimas alimentações que lhes eram servidas os debilitavam e os transformavam em seres submissos ao patrão; estavam sem forças para reagir. Por mais que Chacon trabalhasse, ele e a sua mulher não viam como sair daquela situação. Se o país não mudasse de direção com urgência, nada mais seria acrescentado às suas vidas, jamais conseguiriam quitar suas despesas com alimentação. Suas roupas eram como de presidiários em campo de concentração, e cada vez mais ficava devendo ao patrão criando assim uma divida impagável, assim como os outros trabalhadores.
Os capatazes da fazenda os vigiavam dia e noite, como se fossem prisioneiros de guerra. Chacon, usando o codinome José, mantinha acesa sua chama de desejo da liberdade. Nos encontros na igreja, semestralmente, mantinha contato com as forças de oposição, ou nas festas do padroeiro do país, quando eram organizados em grupos pelos capatazes, colocados em carroças e levados em caravanas à cidade por duas horas para ouvir o discurso de Don Lancarto e tirar fotos para o seu jornal. Essas fotos eram publicadas na primeira página, como se o povo apoiasse seu governo e fosse feliz. Outros encontros com os opositores também se dava nas duas missas anuais que lhes eram permitidas pelo patrão, onde se dava o encontro com o padre Francesco, que os comunicava das mudanças ocorridas no país.
Chacon escrevia trechos dos folhetos, que se propunham a levantar o ânimo do povo, que eram entregues ao padre Francesco clandestinamente, deixados debaixo dos bancos da igreja para serem recolhidos após as missas. Chacon começava os textos lembrando o povo de San José, para manter acessa a esperança de dias melhores, e convocando o povo a resistir ao clã. Os textos eram impressos pelo padre durante a noite, colados em bancos da praça, em prédios públicos, divulgando que Chacon estava vivo e ativo. Levados pelo padre Francesco escondidos dentro de livros da igreja, os panfletos eram distribuídos por todo o país, pedindo apoio à causa.
Os anos passaram, e Venâncio se tornara um jovem forte. Apesar do pouco estudo que tivera, se mostrava inteligente, era simpático e extrovertido e mantinha o bom relacionamento com a família Lancarto Aranha. Ele estava absorvendo e se desenvolvendo com os conceitos ideológicos absorvidos pela convivência com a família Lancarto, o que deixava o seu pai receoso e preocupado com o futuro e a segurança. Chacon começava a achar que seu próprio filho poderia estar se transformando em um inimigo ideológico, e não confiava conversar certos assuntos na sua frente com Mercedes; isso se tornara perigoso. Chacon se limitava a conversar assuntos corriqueiros, não abordando nada que se referisse ao movimento, e mesmo quando Venâncio se mostrava interessado, ele desconversava. Para Chacon, seu filho fora abduzido por algo fora do seu controle, já estava possuído, e havia o real perigo naquela amizade que seu filho desenvolvia com o patrão e principalmente com seu filho, cinco anos mais velho do que ele. Os dois cresciam juntos na casa da fazenda.
Venâncio se tornara o auxiliar direto de Lancarto, que o ensinara a montar e a cuidar dos animais. Lancarto estudava fora da fazenda, pois seu pai construíra um colégio somente para estrangeiros de origem inglesa na capital de San José de Talvegue. Os finais de semana ele passava na fazenda.
Os pais de Venâncio continuavam prisioneiros, sem opção de fuga. O país estava dominado pelo clã que mantinha o regime de terror. O fato de viverem na casa comunitária com outros trabalhadores rurais deixava Venâncio revoltado e sempre culpava os pais pela situação. Mas Chacon, percebendo que ele não poderia mais escolher seu próprio futuro, conversava diariamente com ele, aconselhando a nunca comentar o seu passado, muito menos o da família, pois isso colocaria seu futuro e a vida da família em risco. Eles sabiam que a família Lancarto continuava financiando o extermínio da luta armada opositora do regime governamental implantada por eles por todo o continente.
Don Lancarto agora contava com o apoio de grupos externos disfarçados de empresários interessados nas riquezas minerais. Chacon e Mercedes sofriam calados, percebendo nitidamente que seu filho havia crescido com outra visão do seu país. Venâncio reverenciava com frequência a família Lancarto, não se importando com suas conquistas sanguinárias.
Em um domingo, dia primeiro de maio de 1936, Chacon descansava na sombra da soleira da casa comunitária, enquanto sua mulher costurava um remendo em sua camisa de trabalho. Há mais de um ano eles não recebiam uma peça nova de roupa, e esse era o quarto remendo feito na mesma camisa.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Trecho do livro JOGO SUJO CIDADE DO CRIME DO CRIME

Lembrei de você quando li esta citação de "Jogo Sujo: Cidade do Crime" de João MC Jr. - "As investigações para prender o chefe da quadrilha de roubos a obras de arte estava deixando o delegado de cabelo em pé. Quanto mais Malone investigava, mais ele descobria pessoas importantes dentro do esquema. Até os agentes da companhia de seguros estavam no esquema que rendia milhões para a quadrilha. No mais, havia um esquema criminoso bem estruturado e difícil de penetrar e tudo isso estava tirando o sono do delegado. Antes de começar a trabalhar o delegado Malone sempre gosta de tomar cafezinho, o qual está, quase sempre, frio. Folhear o jornal também faz parte do seu ritual matinal, para saber como anda a cidade e principalmente no que diz respeito às ações do governo na área da segurança. O delegado gosta especialmente dos cadernos de eventos culturais e o de economia, pois seu círculo de amizades é formado por intelectuais amigos da sua esposa. A diretora do Museu de Arte Contemporânea da cidade de Rio de Rosário felizmente não havia registrado nenhum roubo, isso talvez pelos valores baixos das obras que não despertavam o interesse da quadrilha criminosa. Malone aprecia a leitura de matérias sobre as ações do governo no âmbito social, o que, para ele, é um termômetro que aponta para onde está indo a sua cidade: se para o céu ou para o inferno. Rio de Rosário é uma cidade turística cuja característica principal é o legado cultural deixado pelo seu passado de capital do país há mais de quinhentos anos, com belos museus, teatros e bons hotéis. Além da renda advinda do turismo, a cidade estava tentando ser a maior exportadora de rosas do hemisfério sul, tendo tal produto sido inserido havia pouco tempo na política e floricultura do Estado. Também havia certa euforia, nos meios de comunicação, para se melhorar a segurança pública. Depois de longos anos investindo na compra de tecnologias para combater o narcotráfico, o uso da força ainda era o carro-chefe do governo, causando um clima de guerra na cidade e aumentando o índice de mortes entre civis e policiais. Os confrontos não tinham hora para acontecer, se davam à luz do dia e assustavam a população de madrugada. Mesmo com inúmeros confrontos, o número de traficantes presos era ridículo e a maioria se evadia antes de a polícia chegar. Geralmente eram avisados antes das operações acontecerem e isso deixava uma pergunta no ar: o governo realmente queria reduzir o tráfico de drogas ou simplesmente queria os traficantes habitando outro lugar, longe dos olhares da classe média, da elite e da mídia? A mídia, tendenciosa, recebia alto valor investido pelo Estado em propagandas de sua autopromoção e não dispensava esse valor mesmo que estivesse fazendo falta a hospitais e a escolas públicas, tal como revelavam suas próprias reportagens. O delegado se indignava com as filas dos doentes nos hospitais por escassez e falta de remédios, leitos e médicos, e ficava horrorizado ao saber que escolas estavam caindo aos pedaços por má conservação e supostamente por falta de verbas. Apesar disso, a verba da mídia para manter o governo com uma boa imagem era considerada legal por estar no orçamento dos gastos aprovados pelos deputados da base e era o único dinheiro liberado integralmente pelo governo de Rosário. Ainda assim, às vezes a mídia não tinha como esconder os fatos de tão visível que era a violência. Com uma política de transformação material e não humana, o investimento na formação dos policiais era mal elaborado, a seleção dos policiais se dava de forma equivocada, o governo se preocupava mais com a quantidade de policiais do que com a qualidade e os resultados eram pífios. Havia corrupção endêmica, o código de conduta era inexistente e o número de viciados, roubos e mortes só crescia em Rosário. O delegado Antunes Malone, ao ler todas as medidas tomadas pelo governo, formava sua própria opinião. Mesmo não sendo sua área de atuação, ele entendia por que crescia o número de assaltos a bancos na cidade. Às vezes ele chegava a pensar que a migração dos traficantes poderia ser um dos motivos, como enfatizava o governo, mas o delegado não achava que seria a única razão. Ele via, nas ações dos assaltantes, um planejamento muito sofisticado para ser praticado por criminosos oriundos do tráfico. Somente com a participação de pessoas responsáveis por esta área os assaltos poderiam ser bem-sucedidos. Esse era seu ponto de vista e não podia externá-lo naquele momento." Comece a ler este livro gratuitamente: http://amz.onl/eUj2FWf

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO.

Segunda-feira de carnaval, 10 de fevereiro de 1964 O som dos blocos invadia a rua Rio Branco. A alegria contagiava os foliões dos blocos fantasiados de onça e de índios, aliás, muitos vestidos de Cacique já que a maioria gostava de ser o chefe da tribo. Completavam a euforia das ruas os brincantes embriagados.Todos embalados com os blocos de sujos que tomavam conta das ruas da Lapa. Nessa grande onda humana eufórica, a pobre jovem não tinha motivos para tamanha alegria e tentava caminhar, comprimida entre eles, desvencilhando-se para poder descansar na Praça Paris, onde provavelmente encontraria o amigo jardineiro para conversar, a água do chafariz para beber e um banco da praça desocupado para poder dormir. Mas, antes de atingir seu objetivo, precisava vencer o Cordão do Bola Preta e uma chuva de confetes entre colombinas e pierrôs. Depois dessa batalha campal contra o festejo local, seguiu rumo ao seu tão sonhado descanso. Na manhã seguinte, acordou com o jardineiro cuidando dos seus afazeres e assoviando um trecho da música “Manhã de Carnaval”: “Manhã, tão bonita manhã Na vida, uma nova canção ” de Luis Bonfá e Antônio Maria. A jovem acordou feliz com o que ouvia, sorriu para o jardineiro, que lhe desejou um bom dia com um sorriso largo.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Book Trailer JOGO SUJO



Três horas depois As ruas estavam às escuras e sem luz devido à chuva ou pelo tiroteio ocorrido entre traficantes e pela disputa entre facções criminosas pelo controle do bairro Marrom. Os moradores do bairro ficaram trancados dentro de casa e, com a noite chegando, estavam à luz de velas, pois os técnicos da companhia de luz não ousavam vir enquanto a polícia não chegasse ao local. Como era rotina, todos sabiam que a normalidade só voltaria depois de algumas horas, só quando ‘baixasse a poeira’ ou a ‘vaca tossisse’, tal como ressaltavam os moradores em sua gíria. Já eram mais de 23 horas quando a polícia chegou com dois carros e seis policiais, que pareciam tranquilos para estabelecer a ordem após a carnificina. A perícia fotografava os corpos sem isolar a área e curiosos circulavam entre os cadáveres. Logo depois, deram ordem para dois rabecões recolherem oito corpos, sendo a maioria a de negros e de prováveis jovens. No local, todos estavam enfileirados e de costas como se tivessem sidos executados e todos tinham perfurações nas nucas. Alguns mantinham as mãos ainda para trás como se houvessem sido amarrados antes das execuções, pois havia marcas de fios bem apertados nos pulsos.

MC Jr., João. Jogo Sujo: Cidade do Crime (Locais do Kindle 147-156). Ponto Vital. Edição do Kindle. 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO

Temendo por sua vida, padre Francesco sugeriu que ele mudasse seu nome, para sua sobrevivência e também porque o ajudaria a se infiltrar nas fazendas, aproveitando que sua aparência de maltrapilho e barbudo o ajudaria a se passar por moradores locais, que por motivo religioso cultivavam grandes barbas.
Os paranaenses, moradores daquele vilarejo, apesar de serem descendente de imigrantes europeus, levavam uma vida simples baseada na agricultura familiar; não visavam o lucro nem exploravam a mão de obra escrava, e eram considerados os mais pobres naquela região; eles não tinham conhecimento das lutas e não se envolviam com os revolucionários de San José.
A família passou duas noites se revezando de esconderijo: durante o dia permaneciam na igreja, e à noite dormiam no estábulo. Com a mesma aparência dos locais, eles conseguiriam sair de San Paranhos nas caravanas. Antes de Chacon partir, o padre Francesco tentara convencê-lo a deixar seu filho no mosteiro para que eles cuidassem e o educassem. Chacon relutou por um instante e consultou sua mulher Mercedes, que estava apreensiva e temerosa com a infiltração que teriam que fazer na caravana comandada por inimigos.
A ideia de abandonar o filho lhes cortava o coração. Sem coragem para tomar uma decisão, com a voz embargada e os olhos já lacrimejando, se fecharam para um momento de reflexão. Mercedes pediu a Chacon para pensar por alguns instantes. Agachou-se perto do seu filho e o acariciou. Seu rosto sofrido deixava transparecer a dor desse momento, mas seu instinto de preservação a levava a concorda com o padre Francesco; o medo de perder o filho era maior do que a vontade de tê-lo a seu lado. Aquela mulher tinha consciência do perigo constante, então tomou coragem e disse com a voz embargada a Chacon:
- Para protegê-lo, será melhor deixar o menino Venâncio com o padre Francesco, para ser educado, como fizera com você, que foi bem criado pelos jesuítas e franciscanos, tendo uma boa educação. Hoje, você é bem preparado para no futuro, quem sabe, poder assumir posição importante no país.
O padre Francesco lembrou a Chacon que seu filho teria a companhia de uma prima, pois havia no mosteiro uma sobrinha da sua esposa, chamada, como a tia, Mercedes, que estava sendo educada e criada por eles depois que seus pais desapareceram nas prisões de San José. Antes de Chacon e sua mulher responderem concordando com o padre Francesco, Venâncio se levantou chorando, agarrou-se nas pernas do pai, e disse que fugiria do mosteiro, que não queria ser padre. Chacon olhou para Francesco e balançou a cabeça negativamente, percebendo que seu filho não aceitaria