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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

sábado, 9 de julho de 2016


TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

TRECHO DO LIVRO


Ele já tinha sua própria casa e com trinta anos se casara
com uma mexicana, meio hippie, chamada Dolores Ortega.
Mas a alegria da sua mãe não foi completa. José estava com
uma aparência que não a deixou feliz: barbudo, com cabelo
longo e dentes amarelados, sendo sintomas de certo desleixo ou
de muita droga. Apesar de muito carinhoso e aparentemente
bem-sucedido, ele parecia ter voltado a usar drogas pesadas,
e Elena Temia pelo pior. A mãe não falou nada com ele para
não estragar a sua alegria de revê-lo e simplesmente pediu a
Augusto que procurasse conversar com ele, mas Elena sabia
que Augusto não seria bem-sucedido por admirá-lo muito e
por ter conseguido ser o roqueiro que ele não fora com certeza
ele não tocaria no assunto das drogas, pois só se interessava
pelas músicas do filho, em que se projetava e se via realizado.
Depois de voltarem ao Brasil, alguns anos se passaram, e
eles ficaram sem contato pessoal com José, que eventualmente
escrevia uma carta ou mandava um cartão de aniversário para
ambos. Augusto e Elena tinham sempre notícias do filho,
mas já se passavam três meses sem que eles se falassem, e seu
telefone não atendia, nem sua mulher mexicana estava em
casa quando ligavam. Muito preocupados, eles resolveram
viajar de volta aos Estados Unidos.
Ao chegarem à casa de José em São Francisco, na
Califórnia, encontram o lugar vazio. Por muito custo, o
localizaram em um hospital internado em estado calamitoso,
pois ele sofrera uma overdose de L.S.D, e sua esposa o
abandonara sozinho no hospital.
Os médicos os aconselharam a trazê-lo de volta para o
Brasil, e imediatamente seus pais entram em contato com a
embaixada para saber se poderiam trazê-lo de volta e se não
haveria nenhum empecilho político para sua pessoa que
estava exilada. Depois de regressar dos Estados Unidos, José
recuperou-se após um ano de internação em uma clínica.
Meses depois, ele voltou a tocar, e agora, sem uma banda
própria, tocava em boates na zona sul. Entre altos e baixos,
tentava viver cada dia como se fosse o último.
31/12/1996. Em uma clínica na zona oeste da cidade,
José Augusto, quarenta e cinco anos, está internado numa
clínica de reabilitação
Pela vigésima vez, seu pai, Osvaldo, médico aposentado,
e sua mãe, Elena professora aposentada, tentaram recuperá-lo
de uma overdose de cocaína. Aquela internação estava
consumindo os últimos recursos financeiros dos seus pais,
que, aos setenta anos, já haviam vendido tudo o que tinham
na tentativa de recuperar sua dignidade e salvar sua vida antes
que eles se fossem deste mundo, pois sabiam que ninguém
ampararia José ou lhe daria um abrigo, sequer seus pais
não tinham mais nada o que deixar em termos de recursos
financeiro e todos seus esforços até aquele momento foram
em vão.
Ele às vezes sentia uma grande angústia, faltava-lhe um
pedaço de si. Tinha vontade de gritar para todo mundo ouvir,
seu rock protesto falando antes de sucumbir. Escreveria suas
últimas linhas de seus pensamentos alucinados. “Vivo como
um retrato preso na parede, sou a imagens das mazelas de
vielas que frequento em busca do ópio, o desprezo da sua
própria alma, sou a sombra das guerras dos guetos pelo poder,
prisioneiro das tardes no escuro fechado em quartos de hotel.
Vagas lembranças surgiam amassadas em rolos de papel. Era
um pedaço podre que se despedaçava em vermelho sangue,
extraído das veias, perdido sem orgulho.
Suas alucinações ficavam bem claras ao escrever nas paredes do quarto,
 aparentemente sem sentido . “Viajo em um mundo verde escuro,
 como a selva, que me suga, não faz mais sentido viver, pois farsas
montadas separam de mim meu outro ser.
“Sinto meu sangue correndo em outras veias longe de mim”.
 Lamentavelmente não foram muito longe suas ideias revolucionárias,
interrompidas e travadas pelos excessos. José Augusto, tempos depois,

 jogou a toalha e despediu-se do mundo.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

TRECHO DO LIVRO.                                                                        E-BOOK AMAZON    ,KOBO     


Hortência não admitia que a jovem fosse capaz de
qualquer reação lógica e sentenciou, como se fosse uma
vidente, capaz de prever o futuro da jovem:
– Não acredito, pode escrever o que eu estou te dizendo. O
destino dela é certo e com certeza será o mesmo que acontece
com todas aquelas que se oferecem para homens achando
que estarão resolvendo suas vidas da maneira mais fácil. 
Vida fácil, e, quando se veem na rua da amargura, acabam
achando um homem para se aproveitar delas e depois usá-las
para se prostituir para eles. Escreve o que estou te falando
Jorge: você ainda vai da de cara com ela na Lapa rodando a
bolsinha. E não se esqueça do nosso acordo: quando Roberto
voltar da Europa, a história você já sabe – ela pegou um trem
e sumiu, não se sabe para onde, ninguém viu. Não esqueça 
Jorge: mantenha a história e você será bem recompensado.
  O motorista e voltou para seu quarto e tomou um comprimido para para dormir.

No centro da cidade na Cinelândia às 6h da manhã

A jovem reergueu a sua cabeça, enxugou suas lágrimas
e suspirou fundo. Parecia estar olhando os monumentos ao redor ou talvez esperando um aviso do além para tomar uma direção, pois não conhecia nada na cidade, para ela um mundo estranho. No entanto, não tinha a sensação de estar sozinha devido ao grande tráfego de carros e pessoas que começava a se aglutinar ao seu redor, vindo de todos os lados. Esse movimento de pessoas a deixava, apesar da sua situação pouco confortável, menos desprotegida. Horas depois, ela andou alguns metros, sentou-se no meio fio da Rua 13 de maio e por ali ficou por quase uma hora de cabeça baixa, chorando. Depois de algum tempo, recompôs-se, levantou-se e caminhou até suas pernas não aguentarem mais de cansaço. Por dois dias, ela andou a esmo de um lado para outro sem um destino lógico, até que visualizou duas jovens trajando uniformes de trabalho verde oliva com cinto branco. Ela ficou encantada ao ver as duas moças sorrindo e aparentemente transbordavam alegrias ao saírem de um hotel à sua frente.Pensou que ali estivesse o seu destino como funcionária,

terça-feira, 5 de julho de 2016

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

Simultaneamente
Às 4h30 da manhã
No bairro da Glória um jardineiro chegou à Praça Paris
e começava seu trabalho preocupado com as nuvens negras
que cobriam a cidade, pois eram um mau sinal naquela
manhã de primavera e poderiam atrasar seu trabalho. Sua
responsabilidade era manter o jardim bem conservado e
preservar o traçado e a elegância daquela praça inspirada em
um jardim parisiense. Ele, com sua habilidade de um artista,
esculpia figuras de animais nas plantas ornamentais e nos pés
de fícus, usando toda sua imaginação. Orgulho do bairro da
Gloria, a Praça Paris era uma referência no bairro desde a
sua inauguração em 1926, em que as flores nunca deixaram
de florir junto às esculturas de felinos em mármore Carrara,
que agregava valor ao espaço em conjunto com a exuberante
estátua equestre do Marechal Deodoro da Fonseca em bronze,
onde pombos rebeldes defecavam manchando a imagem da
ilustre figura histórica, fazendo com que o fiel jardineiro
madrugasse para limpá-la antes da vistoria do prefeito. Ate as
hortênsias brotavam nesse jardim tropical bem cuidado por
ele, o jardineiro fiel. Todos os dias, às cinco horas da manhã,
ele já iniciava as suas tarefas. Começava aparando a grama,
esmerando-se para torná-las perfeitas. Enquanto cumpria as
suas tarefas rotineiras, ele assoviava o trecho da música.
 O barquinho, [de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli] “Dia de luz festa de sol e o Barquinho a deslizar no macio azul do mar”, alegrando os corações dos primeiros passantes, que sorriam agradecidos pela qualidade da sonoridade harmônica. Nos canteiros central da praça, as azaleias coloriam o inicio do dia, enquanto pássaros bebiam água nos chafarizes. O jardineiro dava uma pausa ao seu trabalho para apreciar o avião da Panair pousar no Aeroporto Santos Dumont, sonhando que um dia iria embarcar em um deles e poder levantar voo rumo à sua cidade natal no Nordeste, onde alguém o aguardava. Enquanto ele sonhava com o seu retorno, seguia em frente assoviando as músicas de sua predileção, que alegravam seu coração nostálgico. Nessa mesma manhã de primavera sobre o Morro do Pão de Açúcar, um acanhado raio de sol surgia entre nuvens sobre a baía da Guanabara e iluminava o bondinho do Pão de Açúcar parado entre as estações. Enquanto não amanhecia o símbolo maior da cidade, era como uma miragem sobre a montanha. A estátua do Cristo Redentor, vista de longe, devido à neblina, parecia fechar seus braços sobre a cidade de tanto frio. No centro da cidade, o suntuoso Palácio Monroe rivalizava em beleza e esplendor com o Teatro Municipal, dando valor histórico e arquitetônico à Cinelândia, onde pombos revoavam com o despertar da cidade. O trânsito começava a fluir lentamente em direção ao centro financeiro. Na ainda silenciosa e adormecida Av. Rio Branco, em frente ao Cine Odeon, repentinamente o silêncio da manhã era quebrado com uma freada brusca de um carro modelo Aero Willys de cor marrom, assustando o pequeno jornaleiro, que caminhava tranquilamente pela calçada com seus jornais a tiracolo, anunciando as manchetes com seu chamado peculiar “EXTRA, EXTRA”. Surpreendido pela freada brusca, ele interrompeu seu chamado para a manchete do dia, o susto o fez engolir as palavras que davam ênfase à sua chamada “extra, extra, bandido da luz vermelha ataca de novo’’, quase deixando seus jornais caírem no chão. A fumaça tomou conta do ambiente e um cheiro de borracha queimada impregnou o ar, fazendo tossir o pequeno jornaleiro. O carro parou enfrente ao cinema Odeon, que exibia o filme 007 contra o Fantástico Dr. No. A porta do carro se abriu e uma jovem foi empurrada para fora dele. Ela saiu tropeçando na mala que fora jogada logo a seguir sobre ela e quase se chocou com a foto do ator Sean Connery no cartaz que estava emoldurado na vitrine do cinema com cara de agente com licença para matar.

domingo, 3 de julho de 2016

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

Trecho do livro.

Helena já de pé começou andar pelo quarto com o fio
do telefone enrolando em suas pernas, questionava Augusto,
com um misto de satisfação e temor em sua voz alterada.
– Ninguém o viu pegar a criança. Pergunta Helena.
– Você tem certeza de que foi abandonada?
– Acho que sim, eu não vi a mãe, nem ninguém por
perto, o bebê estava numa cesta de vime enrolado num pano
encardido que já joguei fora e embrulhei em uma toalha de
mesa de linho branco.
– Você olhou bem a criança, não tem nenhum defeito
aparente; ela é branquinha. – Isso importa para você?
– Eu não gostaria que fosse muito moreninho; na nossa
família não tem ninguém de cor.
Augusto respira fundo e suspira.
– Ah, Helena Isso não é hora de pensar em cor da pele.
Esse é nosso sonho, mas fique tranquila: ele é branco de
cabelos negro e olhos de cor violeta.
– Tem certeza, Augusto? Nesse escuro você consegue ver
bem?
– Claro, Helena, estou com ele no colo.
– E como nós vamos fazer? Levar para o juizado?
– Você não quer o bebê?
– Quero muito, mas acho que corremos o risco de sermos
descobertos, Augusto.
– E se nos levássemos ele para o interior e arrumássemos
um documento? – sugeriu Augusto Rocha, sabendo que sua
mulher concordaria.
– Você acha isso possível? – perguntou Helena aceitando
a ideia.
– Lá é bem mais fácil. Na maternidade local da nossa
família, a gente dá um jeito, vai ser bom para ele. Nós vamos
fazer um bem a um ser humano abandonado.
– Eu vou sair antes que chegue alguém. Passo agora
mesmo aí em casa e pego você.
Do outro lado da linha, Helena respondeu com um
sorriso, roendo as unhas:
– Tá bom, querido, você me convenceu. Só pode ser um
presente de Deus



TRAMA DA VIDA

Eram exatamente 4h30 da manhã, o silêncio só era quebrado pelo vento uivante da madrugada. E nessa casa de dois andares estilo colonial, si...