#ESCRITOR#João MC.jr Arte e Vida# São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02)KindleJoão Manoel da Costa Junior. Edição do Kindle.
Quem sou eu
- #ESCRITOR#João.mc.jr arte e vida#
- São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
terça-feira, 21 de junho de 2016
O MENINO QUE QUERIA VOAR
Depois de alguns minutos de hesitação, bestificados retornavam às suas casas. Nem todos desaparecidos passavam por estas experiências, mas quase sempre todos eles chegavam maltrapilhos e cambaleantes e contavam histórias parecidas para suas esposas ao chegarem de madrugada amarfanhados e caindo dos seus cavalos na porta da casa. Diziam ter sido raptados por grandes esferas misteriosas que surgiam do céu em meio às estrelas, de onde surgiam estranhos seres envoltos em roupas metálicas ,eles eram imobilizados por feixes de luz que os levavam em viagens no espaço em velocidades alucinantes a mundos desconhecidos. Mas, quando eram questionados sobre esses supostos lugares ao chegarem em casa, eles não sabiam explicar às suas famílias, pois voltavam com amnésia, com suas roupas rasgadas e enlameados, não conseguiam descrever esses supostos mundos restando apenas lembranças remotas, que tentavam montar como um quebra-cabeças sem algumas peças. Suas mulheres não acreditavam nessas histórias, por chegarem com bafo de aguardente e sem o dinheiro das vendas das colheitas. Aos sábados, Maravilha transformava-se no lugarejo fervedouro. Esse era o clima que antecedia a grande festança. O desfile das enfeitadas charretes e cavalos adornados competiam com os carros de boi, e seu canto das rodas estridente alegrava as manhãs ensolaradas, congestionando a estrada do Lameirão até o centro de Paty. O Hotel de Quindins fervilhava de turistas da capital pelo revigorante clima afrodisíaco e da fama de seu Casino moderno. Para os nativos, o grande acontecimento da semana era o baile local, no início da noite no arraiá. Na parte da tarde, acontecia também o encontro no mesmo arraiá do açoite, como era chamado, por ter sido construído no local de uma antiga senzala perto do armazém. Nesse lugar, alimentavam-se de histórias no encontro aos sábados, quando havia reunião do grupo de prosa e de noctívagos das redondezas, no armazém do João Gouveia, para comemorar boas colheitas e trocar tostões de prosa e contar suas aventuras deveras mirabolantes, sempre regadas à boa pinga da roça, produzida no alambique da fazenda Maravilh. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia, pois haviam estabelecido um código de crendice entre eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso das vendas do seu armazém à magia do lugar. Os contadores de história ficavam envolvidos pelo público ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos ilustres membros noctívagos, sentados em número de doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos, e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça. A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados, contando suas fábulas e suposta falácias e aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha, que durante um século guardaram potes de ferro repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da região e escondiam dos seus senhores engolindo-as. Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como a abolição chegou antes, eles não puderam usar as pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé Queiroga com sua voz de trovão
O MENINO QUE QUERIA VOAR
Depois de alguns minutos de hesitação, bestificados retornavam às suas casas. Nem todos desaparecidos passavam por estas experiências, mas quase sempre todos eles chegavam maltrapilhos e cambaleantes e contavam histórias parecidas para suas esposas ao chegarem de madrugada amarfanhados e caindo dos seus cavalos na porta da casa. Diziam ter sido raptados por grandes esferas misteriosas que surgiam do céu em meio às estrelas, de onde surgiam estranhos seres envoltos em roupas metálicas ,eles eram imobilizados por feixes de luz que os levavam em viagens no espaço em velocidades alucinantes a mundos desconhecidos. Mas, quando eram questionados sobre esses supostos lugares ao chegarem em casa, eles não sabiam explicar às suas famílias, pois voltavam com amnésia, com suas roupas rasgadas e enlameados, não conseguiam descrever esses supostos mundos restando apenas lembranças remotas, que tentavam montar como um quebra-cabeças sem algumas peças. Suas mulheres não acreditavam nessas histórias, por chegarem com bafo de aguardente e sem o dinheiro das vendas das colheitas. Aos sábados, Maravilha transformava-se no lugarejo fervedouro. Esse era o clima que antecedia a grande festança. O desfile das enfeitadas charretes e cavalos adornados competiam com os carros de boi, e seu canto das rodas estridente alegrava as manhãs ensolaradas, congestionando a estrada do Lameirão até o centro de Paty. O Hotel de Quindins fervilhava de turistas da capital pelo revigorante clima afrodisíaco e da fama de seu Casino moderno. Para os nativos, o grande acontecimento da semana era o baile local, no início da noite no arraiá. Na parte da tarde, acontecia também o encontro no mesmo arraiá do açoite, como era chamado, por ter sido construído no local de uma antiga senzala perto do armazém. Nesse lugar, alimentavam-se de histórias no encontro aos sábados, quando havia reunião do grupo de prosa e de noctívagos das redondezas, no armazém do João Gouveia, para comemorar boas colheitas e trocar tostões de prosa e contar suas aventuras deveras mirabolantes, sempre regadas à boa pinga da roça, produzida no alambique da fazenda Maravilh. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia, pois haviam estabelecido um código de crendice entre eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso das vendas do seu armazém à magia do lugar. Os contadores de história ficavam envolvidos pelo público ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos ilustres membros noctívagos, sentados em número de doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos, e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça. A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados, contando suas fábulas e suposta falácias e aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha, que durante um século guardaram potes de ferro repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da região e escondiam dos seus senhores engolindo-as. Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como a abolição chegou antes, eles não puderam usar as pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé Queiroga com sua voz de trovão
sábado, 18 de junho de 2016
O MENINO QUE QUERIA VOAR
Depois
de tentar, sem sucesso, vender limonada e engraxar sapatos para arrumar um
dinheirinho e assistir ao seu primeiro filme no cinema Metro, que era mais caro
que o Olinda, o menino contou com a sorte. Descendo a ladeira, ele achou uma
nota de dez cruzeiros. O inusitado aconteceu: encontrar dinheiro na rua na
descida do morro, onde quase todo mundo anda olhando para o chão, em pleno
domingo, em que todos se preparavam para
ir ao cinema, só poderia ser considerado um milagre. Seus irmãos não tinham grana
para levá-lo ao cinema. Aquilo era um verdadeiro golpe da sorte. Afinal, poucos
tinham para gastar e nenhum para perder. O filme era de fantasia, de Walt
Disney, e o cinema Olinda era o maior da praça. Ele perdeu mais tempo verificando
as pilastras do que o filme.
TRECO DO LIVRO
Entre
uma brincadeira e outra, treinava autodefesa, chutando pedras e dando socos nas
cercas de madeira. Alguns tapas trocados entre ele e sobrinhos, da sua idade, os
ajudavam a manter a forma para alguma eventualidade. As brigas entre o menino
que queria voar e seu sobrinho Edson, sempre incentivadas pelo seu irmão Jonas,
que adorava vê-los se pegando, eram corriqueiras. Outras vezes, este mesmo
irmão o defendia da dupla cavernosa, Alicate e Dejailson, que infernizava a
vida dele quase todos os dias. Dessa forma ganhava imunidade para continuar
sobrevivendo. Neste ínterim, as drogas começaram a aparecer timidamente no
morro. Ficavam restritas a uma minoria não organizada e bastante discriminada.
As armas eram um direito de todos, que se precaviam adquirindo uma para sua
proteção. Portanto, todos eram iguais perante as armas e não existia lei, nem a
dos mais fortes. A polícia aparecia de vez em quando para prender desempregados
ou vagabundos. O menino percebia que, em tais circunstâncias, só a fé da sua
mãe poderia protegê-lo das artimanhas, das armadilhas das sombras do mal.
sexta-feira, 17 de junho de 2016
segunda-feira, 13 de junho de 2016
sábado, 11 de junho de 2016
TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO.
Lancarto desembarcou em Londres com uma aparência de um homem de cinquenta anos ,barbudo e bem mais magro. Com pouco dinheiro, ele se estabeleceu no subúrbio de Londres para não chamar atenção. Se misturou ao povo pobre ,que ele chamava de ralé .
localizou seu ex-quinhoeiro ,Lorde Thomas Spider em um banco negociando a venda das minas em um leilão.
quinta-feira, 9 de junho de 2016
terça-feira, 7 de junho de 2016
domingo, 5 de junho de 2016
sábado, 4 de junho de 2016
quinta-feira, 2 de junho de 2016
TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO
TRECHOS DO LIVRO
Nos anos vinte, esse grupo de camponeses, que não
tinha como ideais ideologias marxistas ou comunistas, lutavam contra um governo
corrupto e cruel, que os escravizava em benefício dos latifundiários e donos de
usinas de açúcar, jazidas de carvão e minérios nobres, como ouro e prata, que
eram o carro-chefe da economia local.
O presidente Don Lancarto Aranha governava com mão
de ferro esse país de dimensões continentais. Dividia o poder e os dezessete
milhões, oitocentos e dezenove mil e cem quilômetros quadrados com seus
seguidores, nomeados com títulos de nobreza, negando aos pobres trabalhadores
rurais e os nativos o direito à escola ou qualquer direito trabalhista.
Chacon temia terminar como todos os membros da
frente revolucionária, que quando descobertos eram perseguidos, presos e
desapareciam misteriosamente das cadeias de San José. Boatos de rituais
macabros se espalhavam pela cidade. A família Lancarto tinha um zoológico
particular com animais vindo da África e da Ásia, como leões e tigres, que
diziam ser alimentados por opositores mortos em rituais secretos. O povo
acreditava que tais rituais lhes concederiam mais poderes. Suas propriedades
ostentavam símbolos que representavam para os nativos o sacrifício.
Chacon tentava não pensar nisso para não perder a
coragem e seguir na luta. Seu filho Venâncio, com cinco anos, não entendia o
que se passava com a sua família, reclamava das andanças do pai e da mãe, que
não podiam deixá-lo em casa sozinho.
Em poucos meses de militância, Chacon fora incluído
na lista negra do clã Lancarto como inimigo número um e teve sua propriedade
confiscada. Restavam poucas alternativas ao bravo líder; ele havia perdido os
poucos bens que tinha, e suas terras poderiam ser ocupadas imediatamente pelos
simpatizantes do governo.
Chacon e sua mulher passaram a ser perseguidos
pelo governo, e poderiam ser traídos por qualquer ambicioso que não se
identificasse com a causa que ele defendia. Ele havia sido alertado pelo padre
Francesco, que passara por sua propriedade naquela tarde a caminho de San
Paranhos, onde implantava um convento, que a sua prisão havia sido decretada.
Sem alternativa, Chacon estabeleceu um plano de fuga em direção às montanhas de
Talvegue, que ele e sua mulher conheciam bem.
Na madrugada fria do dia seguinte, deixaram para
trás seu povoado. Para Chacon, só havia uma saída: fugir. Era preciso preservar
seu sonho, sua integridade física e da sua família. Tiveram que deixar pra trás
suas terras e a casa onde moravam.
Após se manterem escondidos por dois meses na
floresta de San José de Talvegue, decidiram atravessar a montanha onde a
milícia não se aventurava com medo da guerrilha. Ele conseguia passar
despercebido dentro da floresta e por várias vezes presenciara as escaramuças
da guerrilha contra as milícias, que revidavam com um poder de fogo muito
superior devido às armas vindas do exterior, exterminando ou colocando os
milicianos em fuga. Chacon se revoltava com perda de vida de ambos os lados,
que só beneficiava o clã Lancarto.
Apesar de estar tão perto da batalha, Chacon até
aquele momento não cruzara com nenhum membro da guerrilha, e ficava feliz de
não ter que se incorporar às suas fileiras, de cujos membros ele divergia.
Durante a fuga, Chacon e sua mulher estavam exaustos, e se revezavam na tarefa
árdua de carregar o filho nas costas. O pequeno Venâncio estava desnutrido, sua
alimentação precária o havia debilitado, e constantemente padecia de febre.
Mercedes conseguia tratá-lo com remédios extraídos de plantas medicinais, que
ela conhecia e dominava profundamente por sua origem indígena.
Para facilitar a fuga, não carregavam nenhuma
roupa ou bagagem, usavam a sabedoria ancestral de Mercedes Dolores sobre o
conhecimento do terreno para extrair seu alimento e energia para sobreviverem
àquele momento difícil. Levavam na fuga somente um cantil para água, um pequeno
embornal com pedaços de pão, sal, um pequeno pedaço de carne defumada que já
estava acabando, duas pequenas pedras que serviam para fazer fogo, uma pequena
lamparina com óleo para iluminar em caso de emergência, e dois livros; um sobre
a Constituição americana, e a Bíblia, que Chacon lia nos momentos de reflexão
sobre a sua missão. Era nela que encontrava o conforto que tanto precisava. Ele
buscava forças nos salmos de Davi, e se recarregava de energia e esperança
durante as poucas vezes que param durante o dia. Sua esperança de dias melhores
para seu povo era retirada dos conselhos do padre Francesco, em quem confiava
para levar adiante essa jornada, e dos salmos de Davi, que o regenerava e lhe
dava forças para prosseguir na lutasegunda-feira, 30 de maio de 2016
TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR TRAIÇÃO
TRECHO DO LIVRO
Depois de um tempo que ele não soube precisar, Venâncio
recobrou ligeiramente seus sentidos. Os sacos com os corpos não estavam mais na
sala. De uma porta camuflada atrás da estante surgiu quatro seres com roupas
negras cobrindo todo o corpo. Eles o rodearam e se sentaram ao seu lado a mesa,
em silêncio. Lancarto dirigiu-se a cada um dos presentes em sussurros, em uma linguagem
que Venâncio não entendia.
Lancarto foi até a frente de todos, segurou o brasão
da família acima da cabeça e disse:
- A partir de hoje teremos um novo membro
incorporado através do ritual de obediência e segredo que irá para o túmulo com
os membros aqui reunidos. Refaçam os votos de respeito ao símbolo maior da
família Aranha, que por século jura obedecer, honrar e defender a qualquer
preço a nossa conquista através dos séculos.
Após o ritual de reverência ao símbolo da família,
disse:
- Se todos estiverem de acordo com o novo membro, o abracem em sinal de aceitação.
Neste momento, todos se reuniram em volta do novo
membro e o abraçaram, encerrando o ritual sem mostrarem seus rostos ou
esboçarem uma palavra. Em seguida, Venâncio foi levado até um dos aposentos da
mansão no segundo andar. As escadas que levavam aos aposentos eram de mármores,
nas cores salmão e bege e tapetes persas adornavam o ambiente.
No quarto, uma cama de jacarandá talhada e protegida
por mosquiteiro fascinou Venâncio, que recobrava lentamente os seus sentidos,
ainda confusos pelo ritual que a qual fora submetido. Sentado em um colchão
macio, ele olhou para o teto, que agora não distorcia aos seus olhos. Tudo
aquilo era real. Ele jamais havia visto uma casa como aquela em sua vida. Onde
ele morava até então não tinha mais que
um metro e setenta, dificilmente ele ficava em pé, estava sempre sentado ou
deitado; era apenas uma casa de camponês.
Agora, Venâncio não via a hora de deitar-se e
dormir um sono dos deuses.
Na manhã seguinte, Venâncio acordou com seu café já servido
em uma mesa lateral, as toalhas brancas de banho e de rosto estavam nos pés da
cama. Eram exatamente nove horas, e alguém já havia entrado no quarto e ele não
percebera; seu sono nunca fora tão pesado como naquela noite, ele nunca
acordara tão tarde em toda a sua vida. Teve a sensação de que tivera um sonho
macabro e ao mesmo tempo sentia-se bem de acordar naquele ambiente limpo e sofisticado.
Pensou consigo mesmo: “Isto é o que eu quero para minha vida, não nasci para aquela
pobreza.”
Seu corpo estava leve como uma pluma. Levantou-se
e encaminhou-se até o banheiro. Um espelho estilo colonial tomava toda a parede
acima da pia, e decorava suntuosamente o ambiente. Pela primeira vez ele se via
em um espelho, pois sempre fizera sua barba usando como espelho seu reflexo na
bacia d’água ou na beira do rio, usando seu recanto mais calmo sem correnteza
onde o reflexo era possível. Nesse momento, sorriu para o espelho discretamente
e esboçou uma leve careta, afinal ele era um jovem encantado com o luxo que
nunca conhecera. Olhou para o chuveiro, acariciou seus metais e sentiu a frieza
em suas mãos, como se fossem joias. O que era ainda melhor era a luz elétrica. Venâncio
brincava com o interruptor como uma criança; era a primeira vez que ele tinha
contato com a eletricidade, pois somente um por cento das casas de São Jose de
Talvegue tinha luz elétrica. Depois de minutos de contemplação, resolveu abrir
as torneiras e tomar seu primeiro banho de chuveiro na vidaterça-feira, 24 de maio de 2016
JOGO SUJO CIDADE DO CRIME
Rio de Rosário é uma cidade turística cuja característica principal é o legado
cultural deixado pelo seu passado de capital do país há mais de quinhentos anos, com
belos museus, teatros e bons hotéis. Além da renda advinda do turismo, a cidade estava
tentando ser a maior exportadora de rosas do hemisfério sul, tendo tal produto sido
inserido havia pouco tempo na política e floricultura do Estado.
Também havia certa euforia, nos meios de comunicação, para se melhorar a
segurança pública. Depois de longos anos investindo na compra de tecnologias para
combater o narcotráfico, o uso da força ainda era o carro-chefe do governo, causando
um clima de guerra na cidade e aumentando o índice de mortes entre civis e policiais.
Os confrontos não tinham hora para acontecer, se davam à luz do dia e assustavam a
população de madrugada.
Mesmo com inúmeros confrontos, o número de traficantes presos era ridículo e a
maioria se evadia antes de a polícia chegar. Geralmente eram avisados antes das
operações acontecerem e isso deixava uma pergunta no ar: o governo realmente queria
reduzir o tráfico de drogas ou simplesmente queria os traficantes habitando outro lugar,
longe dos olhares da classe média, da elite e da mídia?
A mídia, tendenciosa, recebia alto valor investido pelo Estado em propagandas
de sua autopromoção e não dispensava esse valor mesmo que estivesse fazendo falta a
hospitais e a escolas públicas, tal como revelavam suas próprias reportagens.
O delegado se indignava com as filas dos doentes nos hospitais por escassez e
falta de remédios, leitos e médicos, e ficava horrorizado ao saber que escolas estavam
caindo aos pedaços por má conservação e supostamente por falta de verbas. Apesar
disso, a verba da mídia para manter o governo com uma boa imagem era considerada
legal por estar no orçamento dos gastos aprovados pelos deputados da base e era o único
dinheiro liberado integralmente pelo governo de Rosário. Ainda assim, às vezes a mídia
não tinha como esconder os fatos de tão visível que era a violência.
Com uma política de transformação material e não humana, o investimento na
formação dos policiais era mal elaborado, a seleção dos policiais se dava de forma
equivocada, o governo se preocupava mais com a quantidade de policiais do que com a
qualidade e os resultados eram pífios. Havia corrupção endêmica, o código de conduta
era inexistente e o número de viciados, roubos e mortes só crescia em Rosário
cultural deixado pelo seu passado de capital do país há mais de quinhentos anos, com
belos museus, teatros e bons hotéis. Além da renda advinda do turismo, a cidade estava
tentando ser a maior exportadora de rosas do hemisfério sul, tendo tal produto sido
inserido havia pouco tempo na política e floricultura do Estado.
Também havia certa euforia, nos meios de comunicação, para se melhorar a
segurança pública. Depois de longos anos investindo na compra de tecnologias para
combater o narcotráfico, o uso da força ainda era o carro-chefe do governo, causando
um clima de guerra na cidade e aumentando o índice de mortes entre civis e policiais.
Os confrontos não tinham hora para acontecer, se davam à luz do dia e assustavam a
população de madrugada.
Mesmo com inúmeros confrontos, o número de traficantes presos era ridículo e a
maioria se evadia antes de a polícia chegar. Geralmente eram avisados antes das
operações acontecerem e isso deixava uma pergunta no ar: o governo realmente queria
reduzir o tráfico de drogas ou simplesmente queria os traficantes habitando outro lugar,
longe dos olhares da classe média, da elite e da mídia?
A mídia, tendenciosa, recebia alto valor investido pelo Estado em propagandas
de sua autopromoção e não dispensava esse valor mesmo que estivesse fazendo falta a
hospitais e a escolas públicas, tal como revelavam suas próprias reportagens.
O delegado se indignava com as filas dos doentes nos hospitais por escassez e
falta de remédios, leitos e médicos, e ficava horrorizado ao saber que escolas estavam
caindo aos pedaços por má conservação e supostamente por falta de verbas. Apesar
disso, a verba da mídia para manter o governo com uma boa imagem era considerada
legal por estar no orçamento dos gastos aprovados pelos deputados da base e era o único
dinheiro liberado integralmente pelo governo de Rosário. Ainda assim, às vezes a mídia
não tinha como esconder os fatos de tão visível que era a violência.
Com uma política de transformação material e não humana, o investimento na
formação dos policiais era mal elaborado, a seleção dos policiais se dava de forma
equivocada, o governo se preocupava mais com a quantidade de policiais do que com a
qualidade e os resultados eram pífios. Havia corrupção endêmica, o código de conduta
era inexistente e o número de viciados, roubos e mortes só crescia em Rosário
segunda-feira, 23 de maio de 2016
sexta-feira, 20 de maio de 2016
JOGO SUJO CIDADE DO CRIME
TRECHO DO LIVRO. BROCHURA
O delegado Antunes Malone chega ao pátio da delegacia, salta do carro e tenta
abrir o guarda-chuva automático que não funciona. Ele desiste e segue andando na
chuva. Na entrada Malone é quase atropelado por policiais comandados pelo detetive
Romão, que saíam apressados em decorrência de um roubo de carro seguido de morte.
O delegado sente que o dia começou quente, apesar da chuva. Ao pensar, ele é
bombardeado por um pombo que, com sua pontaria certeira, atinge seu excremento no
ombro de Malone. O delegado olha para o céu cinzento e simplesmente acompanha o
voo do pombo, que finalmente pousa no parapeito do prédio da delegacia. A ave inclina
a cabeça e olha o delegado, como se quisesse adverti-lo de alguma coisa. Embora as
superstições não fizessem parte de sua vida, Malone pensa: “É apenas um bombo
branco, representa a paz, não é um corvo, que dizem ser a ave do mau agouro”. Em
seguida, conclui que aquela não era a sua manhã de sorte.
O delegado caminha até o banheiro, tira a camisa, limpa o bombardeio do
pombo, anda até sua mesa e percebe que tudo está desarrumado, provavelmente por
obra de um bisbilhoteiro. Compreende que não poderia guardar nada de importante ali,
nem deixar nada à mostra na delegacia. Afasta-se da mesa, pega o jornal e vai até a
cafeteira automática, que havia semanas não funcionava bem. Apesar de suas várias
reclamações, nada foi feito. Malone pega o café frio, folheia o jornal e vê que as
primeiras manchetes são desanimadoras. O assalto a uma joalheria fere cinco pessoas no
centro da cidade, há registro de outro assalto a banco na periferia, pedófilo é linchado
pela família da criança, entre outras matérias chocantes. O delegado muda a página
tentando achar notícias melhores, abre os cadernos de Economia e de Política e as
manchetes também não o agradam. Fala-se da crise mundial e de mais um escândalo de
desvios de verba no país
Aviso
Se você não gosta de pôr em dúvida suas virtudes e é desprovido dessa
chama e não tem coragem de encarar seus medos, e se, igualmente, não
aceita questionamentos sobre a ética, considere tal mudança ao ler este
livro.
E-BOOK
O delegado Antunes Malone chega ao pátio da delegacia, salta do carro e tenta
abrir o guarda-chuva automático que não funciona. Ele desiste e segue andando na
chuva. Na entrada Malone é quase atropelado por policiais comandados pelo detetive
Romão, que saíam apressados em decorrência de um roubo de carro seguido de morte.
O delegado sente que o dia começou quente, apesar da chuva. Ao pensar, ele é
bombardeado por um pombo que, com sua pontaria certeira, atinge seu excremento no
ombro de Malone. O delegado olha para o céu cinzento e simplesmente acompanha o
voo do pombo, que finalmente pousa no parapeito do prédio da delegacia. A ave inclina
a cabeça e olha o delegado, como se quisesse adverti-lo de alguma coisa. Embora as
superstições não fizessem parte de sua vida, Malone pensa: “É apenas um bombo
branco, representa a paz, não é um corvo, que dizem ser a ave do mau agouro”. Em
seguida, conclui que aquela não era a sua manhã de sorte.
O delegado caminha até o banheiro, tira a camisa, limpa o bombardeio do
pombo, anda até sua mesa e percebe que tudo está desarrumado, provavelmente por
obra de um bisbilhoteiro. Compreende que não poderia guardar nada de importante ali,
nem deixar nada à mostra na delegacia. Afasta-se da mesa, pega o jornal e vai até a
cafeteira automática, que havia semanas não funcionava bem. Apesar de suas várias
reclamações, nada foi feito. Malone pega o café frio, folheia o jornal e vê que as
primeiras manchetes são desanimadoras. O assalto a uma joalheria fere cinco pessoas no
centro da cidade, há registro de outro assalto a banco na periferia, pedófilo é linchado
pela família da criança, entre outras matérias chocantes. O delegado muda a página
tentando achar notícias melhores, abre os cadernos de Economia e de Política e as
manchetes também não o agradam. Fala-se da crise mundial e de mais um escândalo de
desvios de verba no país
terça-feira, 17 de maio de 2016
sexta-feira, 13 de maio de 2016
O MENINO QUE QUERIA VOAR
TRECHOS DO LIVRO.
Essas visões só desapareciam ao chegar perto do cemitério dos jesuítas. Horas mais tarde, após encerrarem seus relatos, todos iam para uma pista de jogo, montada na própria estrada, onde faziam suas apostas nos jogos de malha e cuspe a distância. Isso, claro, depois de mascarem fumo de rolo ou fumarem seus cigarros de palha de milho, pois davam uma excelente gosma para a competição. A jogatina durava até o entardecer, quando começaria a ladainha habitual com as mulheres rezadeiras, que iam embora após benzer o local onde aconteceria o baile. A festa varava a noite, com grupos de sanfoneiros de várias regiões, especialmente vindos de Arcozelo e Avelar, que animavam o popular arrasta-pé. A ordem era mantida pelo xerife Werneck, amante da literatura francesa, influência da mãe de origem francesa. Era um homem respeitado, que mantinha todos dentro do mais perfeito regime da boa conduta e da respeitabilidade nos bailes. Sempre trajando sua inseparável capa preta, chapéu de Cowboy, dois punhais, um de cabo de madrepérola e outro cravejado de
pedras vermelhas, que pareciam ser rubis, armas que ele se vangloriava de terem pertencido ao Conde de Monte Cristo, personagem de Alexandre Dumas. O xerife dizia que Dumas era um ancestral da família. E para os menos esclarecidos, que era um personagem de ficção. Levava na cintura uma garrucha de dois canos, que intimidava os pistoleiros, mas quase sempre resolvia os entreveros no pescoção e dedo no gatilho. Dominava os poucos, mas pertinazes arruaceiros, levando-os para a prisão de Paty, onde permaneciam até o dia seguinte para curar suas bebedeiras no xilindró. Contavam os velhos sábios da região, com o entusiasmo que lhes era peculiar, jurando por tudo que era mais sagrado, como a caninha do dia a dia, que não era lenda e sim fato real, que no mês de agosto a figueira mais exuberante da estrada de Maravilha, onde todos passantes desfrutavam da sua sombra para descansar, relaxando de uma jornada estafante, misteriosamente, se transformava nas noites de lua cheia. E seus moradores não podiam passar embaixo da figueira centenária na estrada
Essas visões só desapareciam ao chegar perto do cemitério dos jesuítas. Horas mais tarde, após encerrarem seus relatos, todos iam para uma pista de jogo, montada na própria estrada, onde faziam suas apostas nos jogos de malha e cuspe a distância. Isso, claro, depois de mascarem fumo de rolo ou fumarem seus cigarros de palha de milho, pois davam uma excelente gosma para a competição. A jogatina durava até o entardecer, quando começaria a ladainha habitual com as mulheres rezadeiras, que iam embora após benzer o local onde aconteceria o baile. A festa varava a noite, com grupos de sanfoneiros de várias regiões, especialmente vindos de Arcozelo e Avelar, que animavam o popular arrasta-pé. A ordem era mantida pelo xerife Werneck, amante da literatura francesa, influência da mãe de origem francesa. Era um homem respeitado, que mantinha todos dentro do mais perfeito regime da boa conduta e da respeitabilidade nos bailes. Sempre trajando sua inseparável capa preta, chapéu de Cowboy, dois punhais, um de cabo de madrepérola e outro cravejado de
pedras vermelhas, que pareciam ser rubis, armas que ele se vangloriava de terem pertencido ao Conde de Monte Cristo, personagem de Alexandre Dumas. O xerife dizia que Dumas era um ancestral da família. E para os menos esclarecidos, que era um personagem de ficção. Levava na cintura uma garrucha de dois canos, que intimidava os pistoleiros, mas quase sempre resolvia os entreveros no pescoção e dedo no gatilho. Dominava os poucos, mas pertinazes arruaceiros, levando-os para a prisão de Paty, onde permaneciam até o dia seguinte para curar suas bebedeiras no xilindró. Contavam os velhos sábios da região, com o entusiasmo que lhes era peculiar, jurando por tudo que era mais sagrado, como a caninha do dia a dia, que não era lenda e sim fato real, que no mês de agosto a figueira mais exuberante da estrada de Maravilha, onde todos passantes desfrutavam da sua sombra para descansar, relaxando de uma jornada estafante, misteriosamente, se transformava nas noites de lua cheia. E seus moradores não podiam passar embaixo da figueira centenária na estrada
quarta-feira, 11 de maio de 2016
O MENINO QUE QUERIA VOAR
O
tempo parecia não passar e se sentia um prisioneiro do destino. Naquela
circunstância, a vida estava sempre na contramão, a incerteza conduzia a vida,
estacionava os sonhos, em nuvens de tempestade. A realidade era dura e cruel e
as perspectivas de uma vida melhor eram algo distante. Com tanta coisa
desfavorável, somente seu amigo
Guilherme conseguia acreditar ou querer um futuro melhor para o menino. Nem
mesmo o menino compartilhava da mesma fé que movia seu amigo. A vida de
Guilherme ainda era muito pior. Apesar do seu barraco ser próprio e,
aparentemente, ter uma situação mais confortável, ele se sentia mais preso àquela
realidade do que o menino. Por ser oriundo daquele lugar, não tinha como
sonhar.
O
menino, sem seu poder de voar, olhava deprimido o tempo passar. Não havia
nenhuma beleza para contemplar, não havia cor nos barracos cinzentos, de
madeira envelhecida. Não mais ouvia o zumbir das abelhas, nem poderia correr
nos caminhos sob as sombras do jequitibá ou pé de mulungu. Apenas constatava a
ausência de flores nos becos ou quintal. Seus intentos eram quase inúteis. Moradia, saneamento, educação,
salário... tudo era somente promessa do governo e nada mais. Nada se
concretizava no tempo. Sem esperança, chorava.
segunda-feira, 2 de maio de 2016
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