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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

sábado, 18 de junho de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR


Depois de tentar, sem sucesso, vender limonada e engraxar sapatos para arrumar um dinheirinho e assistir ao seu primeiro filme no cinema Metro, que era mais caro que o Olinda, o menino contou com a sorte. Descendo a ladeira, ele achou uma nota de dez cruzeiros. O inusitado aconteceu: encontrar dinheiro na rua na descida do morro, onde quase todo mundo anda olhando para o chão, em pleno domingo, em que todos se preparavam para ir ao cinema, só poderia ser considerado um milagre. Seus irmãos não tinham grana para levá-lo ao cinema. Aquilo era um verdadeiro golpe da sorte. Afinal, poucos tinham para gastar e nenhum para perder. O filme era de fantasia, de Walt Disney, e o cinema Olinda era o maior da praça. Ele perdeu mais tempo verificando as pilastras do que o filme.
TRECO DO LIVRO 

Entre uma brincadeira e outra, treinava autodefesa, chutando pedras e dando socos nas cercas de madeira. Alguns tapas trocados entre ele e sobrinhos, da sua idade, os ajudavam a manter a forma para alguma eventualidade. As brigas entre o menino que queria voar e seu sobrinho Edson, sempre incentivadas pelo seu irmão Jonas, que adorava vê-los se pegando, eram corriqueiras. Outras vezes, este mesmo irmão o defendia da dupla cavernosa, Alicate e Dejailson, que infernizava a vida dele quase todos os dias. Dessa forma ganhava imunidade para continuar sobrevivendo. Neste ínterim, as drogas começaram a aparecer timidamente no morro. Ficavam restritas a uma minoria não organizada e bastante discriminada. As armas eram um direito de todos, que se precaviam adquirindo uma para sua proteção. Portanto, todos eram iguais perante as armas e não existia lei, nem a dos mais fortes. A polícia aparecia de vez em quando para prender desempregados ou vagabundos. O menino percebia que, em tais circunstâncias, só a fé da sua mãe poderia protegê-lo das artimanhas, das armadilhas das sombras do mal.

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