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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO

TRECHOS DO LIVRO

Nos anos vinte, esse grupo de camponeses, que não tinha como ideais ideologias marxistas ou comunistas, lutavam contra um governo corrupto e cruel, que os escravizava em benefício dos latifundiários e donos de usinas de açúcar, jazidas de carvão e minérios nobres, como ouro e prata, que eram o carro-chefe da economia local.
O presidente Don Lancarto Aranha governava com mão de ferro esse país de dimensões continentais. Dividia o poder e os dezessete milhões, oitocentos e dezenove mil e cem quilômetros quadrados com seus seguidores, nomeados com títulos de nobreza, negando aos pobres trabalhadores rurais e os nativos o direito à escola ou qualquer direito trabalhista.
Chacon temia terminar como todos os membros da frente revolucionária, que quando descobertos eram perseguidos, presos e desapareciam misteriosamente das cadeias de San José. Boatos de rituais macabros se espalhavam pela cidade. A família Lancarto tinha um zoológico particular com animais vindo da África e da Ásia, como leões e tigres, que diziam ser alimentados por opositores mortos em rituais secretos. O povo acreditava que tais rituais lhes concederiam mais poderes. Suas propriedades
ostentavam símbolos que representavam para os nativos o sacrifício.
Chacon tentava não pensar nisso para não perder a coragem e seguir na luta. Seu filho Venâncio, com cinco anos, não entendia o que se passava com a sua família, reclamava das andanças do pai e da mãe, que não podiam deixá-lo em casa sozinho.
Em poucos meses de militância, Chacon fora incluído na lista negra do clã Lancarto como inimigo número um e teve sua propriedade confiscada. Restavam poucas alternativas ao bravo líder; ele havia perdido os poucos bens que tinha, e suas terras poderiam ser ocupadas imediatamente pelos simpatizantes do governo.
Chacon e sua mulher passaram a ser perseguidos pelo governo, e poderiam ser traídos por qualquer ambicioso que não se identificasse com a causa que ele defendia. Ele havia sido alertado pelo padre Francesco, que passara por sua propriedade naquela tarde a caminho de San Paranhos, onde implantava um convento, que a sua prisão havia sido decretada. Sem alternativa, Chacon estabeleceu um plano de fuga em direção às montanhas de Talvegue, que ele e sua mulher conheciam bem.


Na madrugada fria do dia seguinte, deixaram para trás seu povoado. Para Chacon, só havia uma saída: fugir. Era preciso preservar seu sonho, sua integridade física e da sua família. Tiveram que deixar pra trás suas terras e a casa onde moravam.
Após se manterem escondidos por dois meses na floresta de San José de Talvegue, decidiram atravessar a montanha onde a milícia não se aventurava com medo da guerrilha. Ele conseguia passar despercebido dentro da floresta e por várias vezes presenciara as escaramuças da guerrilha contra as milícias, que revidavam com um poder de fogo muito superior devido às armas vindas do exterior, exterminando ou colocando os milicianos em fuga. Chacon se revoltava com perda de vida de ambos os lados, que só beneficiava o clã Lancarto.
Apesar de estar tão perto da batalha, Chacon até aquele momento não cruzara com nenhum membro da guerrilha, e ficava feliz de não ter que se incorporar às suas fileiras, de cujos membros ele divergia. Durante a fuga, Chacon e sua mulher estavam exaustos, e se revezavam na tarefa árdua de carregar o filho nas costas. O pequeno Venâncio estava desnutrido, sua alimentação precária o havia debilitado, e constantemente padecia de febre. Mercedes conseguia tratá-lo com remédios extraídos de plantas medicinais, que ela conhecia e dominava profundamente por sua origem indígena.
Para facilitar a fuga, não carregavam nenhuma roupa ou bagagem, usavam a sabedoria ancestral de Mercedes Dolores sobre o conhecimento do terreno para extrair seu alimento e energia para sobreviverem àquele momento difícil. Levavam na fuga somente um cantil para água, um pequeno embornal com pedaços de pão, sal, um pequeno pedaço de carne defumada que já estava acabando, duas pequenas pedras que serviam para fazer fogo, uma pequena lamparina com óleo para iluminar em caso de emergência, e dois livros; um sobre a Constituição americana, e a Bíblia, que Chacon lia nos momentos de reflexão sobre a sua missão. Era nela que encontrava o conforto que tanto precisava. Ele buscava forças nos salmos de Davi, e se recarregava de energia e esperança durante as poucas vezes que param durante o dia. Sua esperança de dias melhores para seu povo era retirada dos conselhos do padre Francesco, em quem confiava para levar adiante essa jornada, e dos salmos de Davi, que o regenerava e lhe dava forças para prosseguir na luta





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