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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR

TRECHOS DO LIVRO.

 Essas visões só desapareciam ao chegar perto do cemitério dos jesuítas. Horas mais tarde, após encerrarem seus relatos, todos iam para uma pista de jogo, montada na própria estrada, onde faziam suas apostas nos jogos de malha e cuspe a distância. Isso, claro, depois de mascarem fumo de rolo ou fumarem seus cigarros de palha de milho, pois davam uma excelente gosma para a competição. A jogatina durava até o entardecer, quando começaria a ladainha habitual com as mulheres rezadeiras, que iam embora após benzer o local onde aconteceria o baile. A festa varava a noite, com grupos de sanfoneiros de várias regiões, especialmente vindos de Arcozelo e Avelar, que animavam o popular arrasta-pé. A ordem era mantida pelo xerife Werneck, amante da literatura francesa, influência da mãe de origem francesa. Era um homem respeitado, que mantinha todos dentro do mais perfeito regime da boa conduta e da respeitabilidade nos bailes. Sempre trajando sua inseparável capa preta, chapéu de Cowboy, dois punhais, um de cabo de madrepérola e outro cravejado de
pedras vermelhas, que pareciam ser rubis, armas que ele se vangloriava de terem pertencido ao Conde de Monte Cristo, personagem de Alexandre Dumas. O xerife dizia que Dumas era um ancestral da família. E para os menos esclarecidos, que era um personagem de ficção. Levava na cintura uma garrucha de dois canos, que intimidava os pistoleiros, mas quase sempre resolvia os entreveros no pescoção e dedo no gatilho. Dominava os poucos, mas pertinazes arruaceiros, levando-os para a prisão de Paty, onde permaneciam até o dia seguinte para curar suas bebedeiras no xilindró. Contavam os velhos sábios da região, com o entusiasmo que lhes era peculiar, jurando por tudo que era mais sagrado, como a caninha do dia a dia, que não era lenda e sim fato real, que no mês de agosto a figueira mais exuberante da estrada de Maravilha, onde todos passantes desfrutavam da sua sombra para descansar, relaxando de uma jornada estafante, misteriosamente, se transformava nas noites de lua cheia. E seus moradores não podiam passar embaixo da figueira centenária na estrada 

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