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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

domingo, 15 de março de 2015

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO


TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO



Já passavam das 9hs da noite, a cidade adormecera mais cedo.
Nesse dia, as ruas estavam desertas, poucos carros circulavam
pelo centro da cidade, os bares nas redondezas estavam
vazios como a alma de alguns poucos passantes proibidos de
aglomerarem-se, como era o hábito das pessoas nos finais de
semana, especialmente às sextas-feiras, na Cinelândia. Por
ordem do governo constituído, o cinema Odeon não teria a
sessão das 10h, deixando os casais de namorados frustrados por
não terem direito ao escurinho do cinema. Lamentavelmente
para o público em busca de lazer e boêmios da noite carioca,
os teatros e boates dos arredores estavam sob um toque de
recolher. Artistas fechavam desiludidos seus camarins,
enquanto músicos guardavam seus instrumentos desolados,
prostitutas e gigolôs deixavam as ruas, recolhiam-se aos

prostíbulos,














Sexta-feira, 12 de junho 1964. Na Cinelândia, o
pequeno jornaleiro tentava vender o jornal com a manchete
internacional do dia, que parecia ter grande relevância
Trapaças do Destino - Causa e Efeito
simbólica para o país naquele momento. Ele gritava a plenos
pulmões; “EXTRA EXTRA! Líder do Congresso Sul Africano
Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua!”. Apesar do
esforço do menino jornaleiro, poucas pessoas se interessavam
pela notícia, e os poucos leitores que compravam o jornal
davam sua opinião na mesa de bares. Entre um chope e uma
caipirinha, confabulavam em baixo tom de voz, desconfiados
de ouvidos alheios. Viviam tomados por sentimentos de
perdas em consequência das suas decepções momentâneas.
Eles eram céticos nas suas análises decretando seu destino.
Previam o fim do líder da luta contra o apartheid na prisão na
Ilha de Robben na Cidade do Cabo. Não acreditando no seu
futuro político no país do apartheid, diziam enfaticamente “O
destino desse bravo guerreiro já está selado; o pobre coitado vai
morrer na prisão”. Muitas dessas pessoas estavam preocupadas
com a própria pele e temiam por um destino parecido. O
ceticismo tomava conta do ânimo das pessoas, pois o dia fora
estafante para a grande maioria delas que trabalharam sob
as perspectivas de novos tempos. A noite chegava com ares
nebulosos, sobre esta cidade maravilhosa de tantos carnavais.
Na Rua Santa Luzia, a jovem caminhava com lentidão
depois de perambular por horas pela cidade durante o dia
em busca de sua subsistência. Estava aflita por não ter sido
bem-sucedida. A fome se abatera sobre ela, que já demostrava
sinais de exaustão, mas estava ciente de que teria de descansar.
Com a noite chegando, ela procurou um abrigo para passar
mais uma noite ao relento.

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