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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR TRAIÇÃO

TRECHO DO LIVRO



Depois de um tempo que ele não soube precisar, Venâncio recobrou ligeiramente seus sentidos. Os sacos com os corpos não estavam mais na sala. De uma porta camuflada atrás da estante surgiu quatro seres com roupas negras cobrindo todo o corpo. Eles o rodearam e se sentaram ao seu lado a mesa, em silêncio. Lancarto dirigiu-se a cada um dos presentes em sussurros, em uma linguagem que Venâncio não entendia.
Lancarto foi até a frente de todos, segurou o brasão da família acima da cabeça e disse:
- A partir de hoje teremos um novo membro incorporado através do ritual de obediência e segredo que irá para o túmulo com os membros aqui reunidos. Refaçam os votos de respeito ao símbolo maior da família Aranha, que por século jura obedecer, honrar e defender a qualquer preço a nossa conquista através dos séculos.
Após o ritual de reverência ao símbolo da família, disse:
- Se todos estiverem de acordo com o novo membro, o abracem em sinal de aceitação.
Neste momento, todos se reuniram em volta do novo membro e o abraçaram, encerrando o ritual sem mostrarem seus rostos ou esboçarem uma palavra. Em seguida, Venâncio foi levado até um dos aposentos da mansão no segundo andar. As escadas que levavam aos aposentos eram de mármores, nas cores salmão e bege e tapetes persas adornavam o ambiente.


No quarto, uma cama de jacarandá talhada e protegida por mosquiteiro fascinou Venâncio, que recobrava lentamente os seus sentidos, ainda confusos pelo ritual que a qual fora submetido. Sentado em um colchão macio, ele olhou para o teto, que agora não distorcia aos seus olhos. Tudo aquilo era real. Ele jamais havia visto uma casa como aquela em sua vida. Onde ele morava  até então não tinha mais que um metro e setenta, dificilmente ele ficava em pé, estava sempre sentado ou deitado; era apenas uma casa de camponês.
Agora, Venâncio não via a hora de deitar-se e dormir um sono dos deuses.
Na manhã seguinte, Venâncio acordou com seu café já servido em uma mesa lateral, as toalhas brancas de banho e de rosto estavam nos pés da cama. Eram exatamente nove horas, e alguém já havia entrado no quarto e ele não percebera; seu sono nunca fora tão pesado como naquela noite, ele nunca acordara tão tarde em toda a sua vida. Teve a sensação de que tivera um sonho macabro e ao mesmo tempo sentia-se bem de acordar naquele ambiente limpo e sofisticado. Pensou consigo mesmo: “Isto é o que eu quero para minha vida, não nasci para aquela pobreza.”
Seu corpo estava leve como uma pluma. Levantou-se e encaminhou-se até o banheiro. Um espelho estilo colonial tomava toda a parede acima da pia, e decorava suntuosamente o ambiente. Pela primeira vez ele se via em um espelho, pois sempre fizera sua barba usando como espelho seu reflexo na bacia d’água ou na beira do rio, usando seu recanto mais calmo sem correnteza onde o reflexo era possível. Nesse momento, sorriu para o espelho discretamente e esboçou uma leve careta, afinal ele era um jovem encantado com o luxo que nunca conhecera. Olhou para o chuveiro, acariciou seus metais e sentiu a frieza em suas mãos, como se fossem joias. O que era ainda melhor era a luz elétrica. Venâncio brincava com o interruptor como uma criança; era a primeira vez que ele tinha contato com a eletricidade, pois somente um por cento das casas de São Jose de Talvegue tinha luz elétrica. Depois de minutos de contemplação, resolveu abrir as torneiras e tomar seu primeiro banho de chuveiro na vida

terça-feira, 24 de maio de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Rio de Rosário é uma cidade turística cuja característica principal é o legado
cultural deixado pelo seu passado de capital do país há mais de quinhentos anos, com
belos museus, teatros e bons hotéis. Além da renda advinda do turismo, a cidade estava
tentando ser a maior exportadora de rosas do hemisfério sul, tendo tal produto sido
inserido havia pouco tempo na política e floricultura do Estado.
Também havia certa euforia, nos meios de comunicação, para se melhorar a
segurança pública. Depois de longos anos investindo na compra de tecnologias para
combater o narcotráfico, o uso da força ainda era o carro-chefe do governo, causando
um clima de guerra na cidade e aumentando o índice de mortes entre civis e policiais.
Os confrontos não tinham hora para acontecer, se davam à luz do dia e assustavam a
população de madrugada.
Mesmo com inúmeros confrontos, o número de traficantes presos era ridículo e a
maioria se evadia antes de a polícia chegar. Geralmente eram avisados antes das
operações acontecerem e isso deixava uma pergunta no ar: o governo realmente queria
reduzir o tráfico de drogas ou simplesmente queria os traficantes habitando outro lugar,
longe dos olhares da classe média, da elite e da mídia?
A mídia, tendenciosa, recebia alto valor investido pelo Estado em propagandas
de sua autopromoção e não dispensava esse valor mesmo que estivesse fazendo falta a
hospitais e a escolas públicas, tal como revelavam suas próprias reportagens.
O delegado se indignava com as filas dos doentes nos hospitais por escassez e
falta de remédios, leitos e médicos, e ficava horrorizado ao saber que escolas estavam
caindo aos pedaços por má conservação e supostamente por falta de verbas. Apesar
disso, a verba da mídia para manter o governo com uma boa imagem era considerada
legal por estar no orçamento dos gastos aprovados pelos deputados da base e era o único
dinheiro liberado integralmente pelo governo de Rosário. Ainda assim, às vezes a mídia
não tinha como esconder os fatos de tão visível que era a violência.
Com uma política de transformação material e não humana, o investimento na
formação dos policiais era mal elaborado, a seleção dos policiais se dava de forma
equivocada, o governo se preocupava mais com a quantidade de policiais do que com a
qualidade e os resultados eram pífios. Havia corrupção endêmica, o código de conduta
era inexistente e o número de viciados, roubos e mortes só crescia em Rosário

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Trecho do livro.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

TRECHO DO LIVRO.          BROCHURA
Aviso
Se você não gosta de pôr em dúvida suas virtudes e é desprovido dessa
chama e não tem coragem de encarar seus medos, e se, igualmente, não
aceita questionamentos sobre a ética, considere tal mudança ao ler este
livro.
E-BOOK

O delegado Antunes Malone chega ao pátio da delegacia, salta do carro e tenta
abrir o guarda-chuva automático que não funciona. Ele desiste e segue andando na
chuva. Na entrada Malone é quase atropelado por policiais comandados pelo detetive
Romão, que saíam apressados em decorrência de um roubo de carro seguido de morte.
O delegado sente que o dia começou quente, apesar da chuva. Ao pensar, ele é
bombardeado por um pombo que, com sua pontaria certeira, atinge seu excremento no
ombro de Malone. O delegado olha para o céu cinzento e simplesmente acompanha o
voo do pombo, que finalmente pousa no parapeito do prédio da delegacia. A ave inclina
a cabeça e olha o delegado, como se quisesse adverti-lo de alguma coisa. Embora as
superstições não fizessem parte de sua vida, Malone pensa: “É apenas um bombo
branco, representa a paz, não é um corvo, que dizem ser a ave do mau agouro”. Em
seguida, conclui que aquela não era a sua manhã de sorte.
O delegado caminha até o banheiro, tira a camisa, limpa o bombardeio do
pombo, anda até sua mesa e percebe que tudo está desarrumado, provavelmente por
obra de um bisbilhoteiro. Compreende que não poderia guardar nada de importante ali,
nem deixar nada à mostra na delegacia. Afasta-se da mesa, pega o jornal e vai até a
cafeteira automática, que havia semanas não funcionava bem. Apesar de suas várias
reclamações, nada foi feito. Malone pega o café frio, folheia o jornal e vê que as
primeiras manchetes são desanimadoras. O assalto a uma joalheria fere cinco pessoas no
centro da cidade, há registro de outro assalto a banco na periferia, pedófilo é linchado
pela família da criança, entre outras matérias chocantes. O delegado muda a página
tentando achar notícias melhores, abre os cadernos de Economia e de Política e as
manchetes também não o agradam. Fala-se da crise mundial e de mais um escândalo de
desvios de verba no país

terça-feira, 17 de maio de 2016

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR

TRECHOS DO LIVRO.

 Essas visões só desapareciam ao chegar perto do cemitério dos jesuítas. Horas mais tarde, após encerrarem seus relatos, todos iam para uma pista de jogo, montada na própria estrada, onde faziam suas apostas nos jogos de malha e cuspe a distância. Isso, claro, depois de mascarem fumo de rolo ou fumarem seus cigarros de palha de milho, pois davam uma excelente gosma para a competição. A jogatina durava até o entardecer, quando começaria a ladainha habitual com as mulheres rezadeiras, que iam embora após benzer o local onde aconteceria o baile. A festa varava a noite, com grupos de sanfoneiros de várias regiões, especialmente vindos de Arcozelo e Avelar, que animavam o popular arrasta-pé. A ordem era mantida pelo xerife Werneck, amante da literatura francesa, influência da mãe de origem francesa. Era um homem respeitado, que mantinha todos dentro do mais perfeito regime da boa conduta e da respeitabilidade nos bailes. Sempre trajando sua inseparável capa preta, chapéu de Cowboy, dois punhais, um de cabo de madrepérola e outro cravejado de
pedras vermelhas, que pareciam ser rubis, armas que ele se vangloriava de terem pertencido ao Conde de Monte Cristo, personagem de Alexandre Dumas. O xerife dizia que Dumas era um ancestral da família. E para os menos esclarecidos, que era um personagem de ficção. Levava na cintura uma garrucha de dois canos, que intimidava os pistoleiros, mas quase sempre resolvia os entreveros no pescoção e dedo no gatilho. Dominava os poucos, mas pertinazes arruaceiros, levando-os para a prisão de Paty, onde permaneciam até o dia seguinte para curar suas bebedeiras no xilindró. Contavam os velhos sábios da região, com o entusiasmo que lhes era peculiar, jurando por tudo que era mais sagrado, como a caninha do dia a dia, que não era lenda e sim fato real, que no mês de agosto a figueira mais exuberante da estrada de Maravilha, onde todos passantes desfrutavam da sua sombra para descansar, relaxando de uma jornada estafante, misteriosamente, se transformava nas noites de lua cheia. E seus moradores não podiam passar embaixo da figueira centenária na estrada 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR

O tempo parecia não passar e se sentia um prisioneiro do destino. Naquela circunstância, a vida estava sempre na contramão, a incerteza conduzia a vida, estacionava os sonhos, em nuvens de tempestade. A realidade era dura e cruel e as perspectivas de uma vida melhor eram algo distante. Com tanta coisa desfavorável, somente seu amigo Guilherme conseguia acreditar ou querer um futuro melhor para o menino. Nem mesmo o menino compartilhava da mesma fé que movia seu amigo. A vida de Guilherme ainda era muito pior. Apesar do seu barraco ser próprio e, aparentemente, ter uma situação mais confortável, ele se sentia mais preso àquela realidade do que o menino. Por ser oriundo daquele lugar, não tinha como sonhar.


O menino, sem seu poder de voar, olhava deprimido o tempo passar. Não havia nenhuma beleza para contemplar, não havia cor nos barracos cinzentos, de madeira envelhecida. Não mais ouvia o zumbir das abelhas, nem poderia correr nos caminhos sob as sombras do jequitibá ou pé de mulungu. Apenas constatava a ausência de flores nos becos ou quintal. Seus intentos eram quase inúteis. Moradia, saneamento, educação, salário... tudo era somente promessa do governo e nada mais. Nada se concretizava no tempo. Sem esperança, chorava.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

TRECHO DO LIVRO


O delegado Antunes Malone não vai para abordagem. Não vê nenhuma chance
de ele e o Ribeiro serem bem-sucedidos diante do poderio bélico do adversário. O
reforço ainda não havia chegado e toda a cena não levara mais de cinco minutos,
embora parecesse uma eternidade para ambos.
Com seu carro longe da visão do Romão, Malone salta e se esgueira entre as
árvores, porém não consegue manter-se oculto. Mesmo estando atrás dos arbustos, ele é
surpreendido por um aceno de mão do detetive alerta e vigilante.
– Estamos ferrados, Ribeiro. Fomos vistos pelo Romão! É tudo ou nada! –
exclama o delegado. – Prepare-se, o homem é mais astuto do que eu imaginava!
Antes que o delegado se colocasse na linha de fogo contra Romão, Malone ouve
as sirenes chegando e respira aliviado.
– Até que enfim, o reforço chegou! – exclama Malone, que então se sente
seguro.
– O reforço chegou na hora exata. Parece que estamos salvos – completa
Ribeiro.
O delegado receou a aproximação por um instante, mas se sentiu aliviado com a
chegada do reforço. Seguro, ele vai de encontro ao detetive Romão. Malone caminha
lentamente demonstrando segurança e, precavendo-se de infortúnios, carrega sua arma
na mão. Ao se aproximar, visualiza cinco corpos cravejados de bala. O sangue mistura-se
à terra, formando um cenário de horror. Os rostos desfigurados e jovens dos
assaltantes lembram cenas de guerra e de revoluções perdidas a troco de nada.
– E aí, Romão...
Antes que o delegado pudesse concluir a frase, o detetive atropelou-o com
palavrões e disse que os bandidos tentaram reagir.
– Eram eles ou nós, delegado. Com esses bandidos não existe chance de diálogo,
fui obrigado a responder à altura.
Ribeiro esboça uma reação e é contido pelo delegado.
Enquanto isso, as sirenes dos carros da polícia se aproximam e interrompem
Romão. Contrariado, ele esbravejava sem parar.
O reforço chega e Romão se antecipa ao comissário, dizendo que ele e o
delegado Antunes Malone conseguiram deter os assaltantes:
– Eles reagiram e por isso foram mortos. Vocês chegaram atrasados, amigos,
mas valeu o esforço. Os caras tentaram armar uma cilada mas se deram mal, pois
reagimos a tempo. Depois de uma intensa troca de tiros nós conseguimos detê-los,

















O delegado Antunes percebe que Romão já o tinha envolvido numa grande farsa
e não conseguia achar uma saída, por isso deixou-o seguir.
O detetive Ribeiro sentiu que estava numa tremenda furada, mas saltava aos
olhos dele a possibilidade de uma participação nos lucros.
Romão sabia que o delegado não ia querer pôr sua reputação em jogo, já que
tinha mais de trinta anos de carreira e estava prestes a se aposentar. Se envolver num
processo apenas ia desgastá-lo. Ademais, ele e Ribeiro eram minoria e sua equipe
contava com seis integrantes. Não havia chance de o delegado desmascarar o seu plano
e tomar as rédeas do jogo.
– Está tudo sob controle – disse Romão. – Cabe rebocar os carros dos bandidos
com os corpos dentro e levá-los ao necrotério. Não vai haver perícia, pois estamos longe
da cidade. Se for esperar a perícia, os urubus chegarão primeiro! – ordena Romão à sua
equipe, eliminando qualquer possibilidade de periciar o local da chacina.
O delegado Antunes pensa em falar alguma coisa, mas percebe que Romão está
no controle e prefere entrar no jogo dele. Se era um blefe, estava acostumado a jogar
pôquer. A aposta era grande demais para ele desistir e não apostar as suas fichas.
Enquanto Romão se distraía com explicações sobre o confronto com o
comissário da delegacia local, Malone se aproximou dos corpos tentando achar algumas
pistas que o levassem a descobrir a origem deles. Ao se aproximar do bandido que
estava de terno, percebeu algo saindo de seu bolso. Era o cartão de um bar, o Eclipse
Solar. Em seguida, Malone recoloca o cartão no bolso do terno e se afasta analisando os
outros corpos. Não encontra nada que achasse relevante e que servisse de pista, a não
ser a aparente característica colombiana dos bandidos.
Havia muito sangue esparramado no local, o que dificultava as buscas de
Malone sem chamar a atenção de Romão.


domingo, 3 de abril de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Jogo sujo – Cidade do crime não é o escárnio proposital de uma cidade; Mas, tem por contexto uma visão futurista do que se constatam corriqueiramente nas manchetes dos noticiários periódicos nos dias atuais. Jogo sujo – Cidade do crime se passa no futuro não muito distante. Onde o crime organizado ou não se estabelece de forma contundente. Em 2025, no cotidiano dessa cidade imaginária, a ausência do poder ou seus equívocos éticos proporcionam um campo fértil para todos os tipos de barbárie urbana que se possa imaginar, e desgraçadamente habitam o dia a dia de seus cidadãos, proporcionando medo e dor.

E inevitavelmente colocando de forma explicíta essa bela cidade na contramão dos avanços de outras cidades do mundo, onde esse universo marginal e obscuro fora banido. Na cidade de Rio de Rosário, a mão pesada da lei não se fez presente e não estabeleceu com o tempo ou determinou o fim desses abusos. Mas, para avaliar tais conceitos éticos, por outra ótica existe, dentro desse universo caótico dessa cidade, alguém que estabelece um paradoxo e questiona com seus métodos tais desvio de conduta e cria esse contratempo para uma breve reflexão.
Na cidade de Rio de Rosário, vive-se a sombra do medo. Como um estranho no ninho, porém, um homem ainda resiste às tentações e à cobiça do enriquecimento ilícito. Esse homem se chama Antunes Malone, um delegado aparentemente acuado pelo sistema corrupto de sua cidade. Sua ética não lhe permite fugir de seus ideais e ele sempre recorda uma frase de Che Guevara para definir suas atitudes: “Retroceder sim, render-se jamais”. Consciente do perigo, Malone  tenta resolver por conta própria todos os desafios. Assim, ele precisa mais do que certo idealismo, e mais do que a coragem para encarar de frente o crime organizado. Não bastam os ideais éticos, já que a situação requer mais astúcia e sangue frio. Não estamos mais na época das retóricas e o tempo, logicamente, agora é outro. De igual sorte, jamais se deve confiar no sistema. Então, somente Malone sabe de suas determinações.
Outros livros do autor:
• O grande assalto  o declínio do poder (2010)
• Tempos de traição possuídos por ambição (2011)
• O menino que queria voar (2013)
• Trapaças do destino – causa e efeito (2014)

segunda-feira, 28 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

TRECHOS DO LIVRO








O delegado Antunes Malone sempre vinha cedo para a delegacia e naquele momento havia muita coisa a resolver. Malone chefiava uma investigação que já consumira três messes de trabalho sobre um roubo de obras de arte ocorrido no Museu Histórico Nacional. Ele já estava prestes a concluí-la com a prisão dos ladrões, dos receptadores e do chefe do bando, que era dono de uma empresa de segurança. Só faltava a expedição do mandato de busca e apreensão para sua equipe se deslocar até a casa do chefe da gangue.
Malone estava muito preocupado com a estranha demora para a expedição do mandato, considerando-a fora dos padrões. A demora poderia facilitar a fuga dos envolvidos e o vazamento de informações. Se mais uns dias se passassem, isso daria tempo para os criminosos sumirem com as provas e jogar-se-ia por terra todo seu trabalho de meses. O delegado tinha sua sala de operações instalada no terceiro andar do prédio da Secretaria de Segurança, bem ao lado do secretário.
Trabalhar ao lado do chefe tinha vantagens e desvantagens, pensava Malone todas as vezes que encontrava o secretário e o cumprimentava. Se as decisões exigissem a aprovação imediata do secretário, bastaria atravessar o corredor e, quiçá em poucos segundos, ele obteria alguma resposta. Da mesma forma, quando o secretário o convocasse para uma reunião seria fácil encontrá-lo. Neste momento, como se fosse transmissão de pensamento, ele olha para o corredor e as portas de vidro transparentes e vê o secretário Adriano Torres. O secretário usa seu terno impecável da grife Armani Chang, sapatos bicolores reluzentes e ostenta seu anel de ouro e brilhantes, que de longe brilhavam como pequenos faróis a caminhar em direção ao seu gabinete. Malone balança a cabeça procurando não pensar no que via naquela figura ostensiva que, com passadas rápidas, chega até sua porta.
– Bom dia, Malone! Como tem passado? Estamos tão perto e quase não nos vemos! Estou acompanhando seus passos, quer dizer, seu trabalho. Por falar nisso, como seguem as investigações sobre esse famoso roubo de grande repercussão na mídia?
– Bem, secretário Adriano, estamos quase fechando o cerco em cima da quadrilha que atacou o Museu Histórico Nacional.
– O que roubaram desta vez?
– Levaram dois quadros de um pintor alemão do século XVII, que retratavam a assinatura da criação do Estado de Rosário pelo imperador.
– Estes quadros têm algum valor de mercado, Malone, ou estão roubando somente um registro da nossa história? – indaga o secretário.
– Com certeza não haverá mercado nem colecionador que os queiram, secretário. Mas talvez os ladrões não saibam o que pode dificultar a nossa investigação.
Com ar irônico e sorriso contido, o secretário olha para Malone e diz:
– Posso te dar uma sugestão, Malone?
– Pois não, secretário.

– Vai ficar só entre nós. Arrume réplicas e as ponha no lugar, pois ninguém vai perceber nada. Sua esposa conhece muitos artistas, não é certo? Então, encomendamos cópias perfeitas e pronto. As colocaremos no lugar e tenho certeza de que dá pra enganar o povo que visita o museu. A maioria, Malone, não sabe nada da história de Rosário. 

sexta-feira, 25 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

As pessoas que o conheciam não entendiam sua decisão. Alguns achavam que ele enlouquecera e outros achavam que ele estava atrás de grana fácil, pois todos os que iam para aquela delegacia enriqueciam a olhos vistos. A desconfiança advinha de que antes trabalhava na delegacia especializada em roubos de obras de arte, onde tinha desenvolvido um ótimo trabalho de investigação com sua capacidade, organização e inteligência, na maioria das vezes se passando por comprador das obras roubadas. Com sua especialidade em disfarces, ele e sua equipe desarticularam várias quadrilhas internacionais compostas por pessoas acima de qualquer suspeita, desde colecionadores de caráter duvidoso da alta sociedade internacional até membros da sociedade de Rio de Rosário. Recuperaram muitas obras de arte de grande valor, reduzindo o prejuízo dos museus e das seguradoras.

   
TRECHOS DO LIVRO.












Malone investigava suspeitos que praticavam delitos sem o uso da violência e com alto grau de sofisticação, o que exigia uma investigação inteligente e nenhum confronto (suas especialidades). A Delegacia de Roubos a Bancos, um verdadeiro antro da polícia, nos últimos meses teve três delegados afastados por possíveis desvios de conduta com associação ao crime organizado e vários detetives foram presos. O delegado se sentia como o próprio Cavalo de Troia sendo introduzido nesta delegacia como se fosse um vírus, embora do bem, com a missão de destruir as células cancerosas da corrupção.

     Sua equipe ficou na outra delegacia e somente o detetive Ribeiro foi liberado para acompanhá-lo, embora não inspirasse muito sua confiança. Mesmo assim, Malone sentia mais prazer agora, como se o tempo pudesse andar mais rápido caso cumprisse sua missão.

     Depois de toda essa reflexão, o delegado segue até seu quarto e despede-se da esposa com um beijo. Ela, ainda na cama, abre os olhos, sorri e lhe deseja bom-dia. O delegado desce para a garagem, entra no carro e, logo na saída, um pouco distraído, quase se envolve num acidente. Um Vectra cinza freia bruscamente, antes de atingi-lo na lateral. Malone salta do carro e dirige-se aos ocupantes do veículo. Seu paletó está desabotoado e a arma na cintura fica à mostra. Ele tenta se desculpar, contudo, antes que possa se expressar, o jovem ao volante do Vectra engata a ré e arranca com o carro cantando pneus. Uma picape S10 preta que vem logo atrás faz o mesmo e quase atropela o delegado, que pensa que sua arma pode ter assustado o rapaz e sua atitude não foi bem interpretada. Achou normal as circunstâncias do evento, pois o número de agressões no trânsito é alarmante, o que deixava todos nervosos e apreensivos nos dias de hoje. Malone volta ao carro e segue para a delegacia

quinta-feira, 24 de março de 2016

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Malone pensava com seus botões: “Será que um dia isso terá fim? Será que o
poder público chegou ao fundo do poço? Será que os promotores se eximem da culpa e
perderam a liberdade de atuação ou se acovardam? Será que os juízes perderam a força


para aplicar com braço forte o peso das sentenças e perderam o juízo da gravidade da
situação? Será que um dia haverá Justiça digna e de confiança da qual possamos nos
orgulhar? Será que um dia teremos governantes que usarão o dinheiro público de forma
honesta.
O delegado Antunes Malone, lamentavelmente, chegava à triste conclusão de
não ver saída a curto prazo para a crise. Ele sabia que a mudança que ele e milhões de
rio-rosarianos esperavam levaria algumas décadas. Os políticos, apesar de eleitos pelo
povo, quando assumiam o poder mostravam a sua verdadeira face. Era algo comparável
à ocupação romana no auge do seu gigantesco poder. A conclusão de Malone era de que
se havia voltado no tempo, sendo hoje governados por falsos tribunos que só defendiam
seus escusos interesses e por Césares que só aumentavam seus impérios financeiros –
espoliando o país e dividindo, numa espécie de colegiado, as riquezas desviadas do
Estado.
Malone sabia que não tinha poder. Mas ele tinha a consciência tranquila por não
fazer parte de todo o engodo contra o povo de sua cidade. No mais, ele ficaria satisfeito
de poder achar uma fórmula para cooperar com o início de uma reação contra a
pandemia moral que contaminava indivíduos sem escrúpulos, causadores de notória
desordem humana.
O que mantinha viva sua esperança era que Malone amava sua cidade e ainda
não havia perdido a fé. Rio de Rosário encanta pela beleza natural e faz bom proveito
do turismo, uma das suas principais fonte de renda. Os bancos, com seu sistema falho,
atraem grande número de investidores de todas as espécies, ávidos por lucros rápidos e
de fácil conexão. Com isenções de impostos instituídas pelo governo local para atrair o
capital estrangeiro, o dinheiro entrava e saía da Bolsa de Valores sem nenhum problema
e Rio de Rosário, por conseguinte, se tornava o centro financeiro do país e da máfia
estrangeira.

#FILHOS DO BEM FILHOS DO MAL#

FILHOS DO BEM FILHOS DO MAL. Vídeo Clipe! Criado por: João 07/04/2025 O mundo tem. Certos. Conceitos. Que precisam. Ser refeitos. ...