ACASO DO DESTINO TRECHO.

O motorista soltando fumaça pelo nariz, pois já havia acendido outro cigarro, olhou para o leiteiro com cara de poucos amigos e pensou em mandá-lo plantar batatas ou coisa pior, mas preferiu  fazer uma careta e não responder, ignorando-o. O leiteiro, percebendo que ele realmente estava de mau humor, se dirigiu até a carrocinha parada do outro lado da rua,  em frente à casa do voyeur, que voltara a bisbilhotar da varanda da sua casa com o binóculo, em mais uma tentativa de ver a patroa do Jorge aparecer de robe transparente. O leiteiro olhou pra cima e chamou a atenção do Jorge, apontando na sua direção, dizendo: – Já percebeu esse vizinho bisbilhotando a casa da sua patroa? ​Jorge diz entre os dentes: –  O que é dele está guardado, a dona Hortência já comunicou ao seu pai que vai dar uma dura nele em breve, ele acha que deve ser comunista, e, se for, tá ferrado de vez. ​O leiteiro olha de novo e diz:– Meu amigo Jorge está enganado. Essa cara dele é de tarado, safado, e essa de espião comunista morando em mansão em Santa Teresa, me desculpe, Jorge, mas essa mania do pai da sua patroa de achar que todo mundo é comunista tá virando uma paranoia nesse país. Até se fosse você com essa cara de mané tarado seria taxado de comunista. Bem,  eu não acredito que ele seja,  só pelos gestos dele alisando as partes baixas enquanto olha pelo binóculo deixa bem claro, deve ser é tarado mesmo, voyeur, pois geralmente quem é tarado não pensa em política, só em sacanagem, não estou certo, amigão? – diz o Galego leiteiro com um sorriso sarcástico para o Jorge. Jorge olha para o Galego, como ele o tratava, e diz apontando o dedo na cara dele: – Vai pra ponte que caiu, ou prantar batata no deserto. O leiteiro diz: – Calma, amigo, era só uma brincadeira. MC.JR, JOÃO . ACASO DO DESTINO (p. 14). JOÃO MC .Jr. Edição do Kindle.

MC.JR, JOÃO . ACASO DO DESTINO (pp. 13-14). JOÃO MC .Jr. Edição do Kindle.