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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME DO CRIME DO CRIME.

Lembrei de você quando li esta citação de "Jogo Sujo: Cidade do Crime" de João MC Jr. - "Para um Estado que pretendesse sair do atraso nessas áreas, a transformação por investimentos em conhecimento e domínio da tecnologia e da cultura estava aquém do esperado. Foi assim que os jovens moradores não foram incluídos em nenhum programa de desenvolvimento educacional de grande porte e voltaram a roubar celulares e a vendê-los nos novos camelódromos do bairro Marrom, onde não eram incomodados por negociarem suas mercadorias. Afinal, eles estavam longe do centro de Rio de Rosário e não interferiam no comércio da classe média. Ser reféns do tráfico virou rotina para esses jovens. Os traficantes se sentiam menos incomodados e continuavam abastecendo com drogas de toda espécie as classes alta e média da cidade. Aos pobres viciados em drogas só restava o crack, a subdroga que matava cada vez mais rápido em todo o país. O crack não dava muito trabalho ao governo e este considerava um caso perdido investir recursos em prol da recuperação das vítimas do tráfico. Por isso, aliás, o governo criou lugares na periferia onde era permitido o uso indiscriminado da droga letal. O governo também desenvolveu um sistema rápido de remoção de corpos. Com isso, os cadáveres encontrados ao relento eram retirados imediatamente e levados para o Crematório Municipal de Rio de Rosário. Era um sistema ágil, não dando tempo à imprensa de fazer qualquer reportagem a respeito das dezenas de corpos de jovens banidos do convívio social. A rigor, o procedimento não deixava pistas e só aumentava as estatísticas dos desaparecidos. As mães de Rio de Rosário choravam o desaparecimento dos filhos consumidos pelo vício e, sem uma “Praça de Maio” ou alguma causa lógica evidente, choravam em qualquer canto da cidade e em cada beco do bairro Marrom. Vivia-se um momento perigoso e decadente na área social devido à má administração de anos e anos seguidos. Poucas pessoas tinham a coragem de enfrentar a máfia do Judiciário e eram elas, por fim, a única voz dissonante" Comece a ler este livro gratuitamente: http://amz.onl/9ElPCj5

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

NAS ASAS DA IMAGINAÇÃO SURGE UM DESEJO. POIS SONHOS SÃO ENIGMAS QUE REGEM A NATUREZA HUMANA.

Lembrei de você quando li esta citação de "O menino que queria voar" de João M.C. Jr. - "Estava em jogo o seu primeiro meio salário mínimo. Ao fim desses dias de aprendizagem , sentia que melhores dias estavam lentamente chegando, e voltava para casa cheio de esperança . Subia o Morro do Salgueiro e passava por toda aquela malandragem, pulando de dois em dois degraus a longa escadaria que levava à sua casa, com a esperança de um dia poder estar longe daquela situação de desconforto e pobreza. Agora com sua carteira de menor, mesmo sem estar assinada, podia mostrar documentos à polícia para provar que trabalhava e não era vagabundo; era a rotina do dia a dia. Conviver com a malandragem era outra façanha, ou seja, não ser tirado como otário e não virar frangalho na mão da malandragem ou tentar ser esperto demais e fazer parte da gangue. A malandragem recrutava os metidos a esperto e pensaria que poderia lhe chamar para uma jogada ou, provavelmente, uma furada sem volta. Quando estava na rua ou em uma" Comece a ler este livro gratuitamente: http://amz.onl/2a3XbKw

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

JOGO SUJO CIDADE DO CRIME

Depois de restabelecida a ordem em alguns morros os moradores estavam sendo tratados quase como cidadão rio-rosarianos, mas havia um preço a pagar e eles tiveram de saldá-lo mediante serviços antes subsidiados e gratuitos. Impostos que nunca foram cobrados, por exemplo, passaram a ser. E os moradores que não conseguiam pagá-los tinham, com o tempo, seu imóvel penhorado pela prefeitura. Isso fez com que o custo de vida ficasse muito elevado, levando os moradores ao desespero. Como suas rendas não aumentavam, eles passaram a vender seus imóveis para investidores obscuros e isso deu chance ao governo de praticar seu plano de remoção. Alguma oferta irrecusável era feita então aos moradores, que, além dos impostos, também estavam endividados por serviços como os de internet, banda larga e tevê a cabo. E, com outra de suas ideias utópicas, o governo lançou títulos de capitalização com o intuito de angariar fundos e financiou a expansão imobiliária. Foram feitas ofertas de compra de casas a preços três vezes acima do valor de mercado mais o perdão das dívidas em troca de apartamentos no bairro Marrom. Os moradores não resistiram à oferta tentadora e a aceitaram, já que, além de ganharem um bom apartamento, eles ficariam, como prometia o governo, com algum dinheiro na mão. Contudo, por trás da oferta tentadora estava a máfia disfarçada de investidores imobiliários de grupos estrangeiros. O governo dava seu aval a esses grupos e fingia desconhecer a origem do dinheiro, pois ganharia muito com os impostos depois que os morros da zona sul fossem transformados em condomínios de luxo. Aos favelados o governo prometia casas no bairro Marrom, para onde o tráfico já

MC Jr., João. Jogo Sujo: Cidade do Crime (Locais do Kindle 414-426). Ponto Vital. Edição do Kindle.
havia se transferido quando os morros foram pacificados. O delegado achava que essa política de construção de moradias aglomeradas não resolvia o problema, pois o governo juntara os moradores ao tráfico outra vez e demonstrava a sua incapacidade de planejamento. Quando se tratava de política social, pensava, o joio não se separa do trigo. A educação de nível transformador não era prioridade, uma vez que só se ensinava o básico. A inclusão social se dava através de programas de conteúdo primário e não visava a ganhos futuros na área do conhecimento de nível superior. Para um Estado que pretendesse sair do atraso nessas áreas, a transformação por investimentos em conhecimento e domínio da tecnologia e da cultura estava aquém do esperado. Foi assim que os jovens moradores não foram incluídos em nenhum programa de desenvolvimento educacional de grande porte e voltaram a roubar celulares e a vendê-los nos novos camelódromos do bairro Marrom, onde não eram incomodados por negociarem suas mercadorias. Afinal, eles estavam longe do centro de Rio de Rosário e não interferiam no comércio da classe média. Ser reféns do tráfico virou rotina para esses jovens. Os traficantes se sentiam menos incomodados e continuavam abastecendo com drogas de toda espécie as classes alta e média da cidade. Aos pobres viciados em drogas só restava o crack, a subdroga que matava cada vez mais rápido em todo o país. O crack não dava muito trabalho ao governo e este considerava um caso perdido investir recursos em prol da recuperação das vítimas do tráfico.

MC Jr., João. Jogo Sujo: Cidade do Crime (Locais do Kindle 426-437). Ponto Vital. Edição do Kindle. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

BREVE. UM SILICONE ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA. A história do primeiro Sherlock Holmes Brasileiro envolvido em uma trama de assainato e espionagem internacional. O QUE seria trágico se não fosse cômico.

O per­so­nagem cen­tral é um de­te­tive com um vasto cur­rí­culo em elu­ci­da­ções de crimes e aban­do­nado pela mu­lher que não aguen­tava mais a sua vida de boêmio. Per­tur­bado pela se­pa­ração, ele cir­cula pela noite em busca de emo­ções, das noites ca­ri­ocas dos in­fer­ni­nhos da Lapa de­ca­dente. Reduto  da Ma­dame Satã.

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO

O tempo passava lentamente na fazenda dos Lancartos; era como se a Terra tivesse parado de girar para os boias-frias. Todos tinham o aspecto de famintos e desnutridos, as poucas horas de descanso e as péssimas alimentações que lhes eram servidas os debilitavam e os transformavam em seres submissos ao patrão; estavam sem forças para reagir. Por mais que Chacon trabalhasse, ele e a sua mulher não viam como sair daquela situação. Se o país não mudasse de direção com urgência, nada mais seria acrescentado às suas vidas, jamais conseguiriam quitar suas despesas com alimentação. Suas roupas eram como de presidiários em campo de concentração, e cada vez mais ficava devendo ao patrão criando assim uma divida impagável, assim como os outros trabalhadores.
Os capatazes da fazenda os vigiavam dia e noite, como se fossem prisioneiros de guerra. Chacon, usando o codinome José, mantinha acesa sua chama de desejo da liberdade. Nos encontros na igreja, semestralmente, mantinha contato com as forças de oposição, ou nas festas do padroeiro do país, quando eram organizados em grupos pelos capatazes, colocados em carroças e levados em caravanas à cidade por duas horas para ouvir o discurso de Don Lancarto e tirar fotos para o seu jornal. Essas fotos eram publicadas na primeira página, como se o povo apoiasse seu governo e fosse feliz. Outros encontros com os opositores também se dava nas duas missas anuais que lhes eram permitidas pelo patrão, onde se dava o encontro com o padre Francesco, que os comunicava das mudanças ocorridas no país.
Chacon escrevia trechos dos folhetos, que se propunham a levantar o ânimo do povo, que eram entregues ao padre Francesco clandestinamente, deixados debaixo dos bancos da igreja para serem recolhidos após as missas. Chacon começava os textos lembrando o povo de San José, para manter acessa a esperança de dias melhores, e convocando o povo a resistir ao clã. Os textos eram impressos pelo padre durante a noite, colados em bancos da praça, em prédios públicos, divulgando que Chacon estava vivo e ativo. Levados pelo padre Francesco escondidos dentro de livros da igreja, os panfletos eram distribuídos por todo o país, pedindo apoio à causa.
Os anos passaram, e Venâncio se tornara um jovem forte. Apesar do pouco estudo que tivera, se mostrava inteligente, era simpático e extrovertido e mantinha o bom relacionamento com a família Lancarto Aranha. Ele estava absorvendo e se desenvolvendo com os conceitos ideológicos absorvidos pela convivência com a família Lancarto, o que deixava o seu pai receoso e preocupado com o futuro e a segurança. Chacon começava a achar que seu próprio filho poderia estar se transformando em um inimigo ideológico, e não confiava conversar certos assuntos na sua frente com Mercedes; isso se tornara perigoso. Chacon se limitava a conversar assuntos corriqueiros, não abordando nada que se referisse ao movimento, e mesmo quando Venâncio se mostrava interessado, ele desconversava. Para Chacon, seu filho fora abduzido por algo fora do seu controle, já estava possuído, e havia o real perigo naquela amizade que seu filho desenvolvia com o patrão e principalmente com seu filho, cinco anos mais velho do que ele. Os dois cresciam juntos na casa da fazenda.
Venâncio se tornara o auxiliar direto de Lancarto, que o ensinara a montar e a cuidar dos animais. Lancarto estudava fora da fazenda, pois seu pai construíra um colégio somente para estrangeiros de origem inglesa na capital de San José de Talvegue. Os finais de semana ele passava na fazenda.
Os pais de Venâncio continuavam prisioneiros, sem opção de fuga. O país estava dominado pelo clã que mantinha o regime de terror. O fato de viverem na casa comunitária com outros trabalhadores rurais deixava Venâncio revoltado e sempre culpava os pais pela situação. Mas Chacon, percebendo que ele não poderia mais escolher seu próprio futuro, conversava diariamente com ele, aconselhando a nunca comentar o seu passado, muito menos o da família, pois isso colocaria seu futuro e a vida da família em risco. Eles sabiam que a família Lancarto continuava financiando o extermínio da luta armada opositora do regime governamental implantada por eles por todo o continente.
Don Lancarto agora contava com o apoio de grupos externos disfarçados de empresários interessados nas riquezas minerais. Chacon e Mercedes sofriam calados, percebendo nitidamente que seu filho havia crescido com outra visão do seu país. Venâncio reverenciava com frequência a família Lancarto, não se importando com suas conquistas sanguinárias.
Em um domingo, dia primeiro de maio de 1936, Chacon descansava na sombra da soleira da casa comunitária, enquanto sua mulher costurava um remendo em sua camisa de trabalho. Há mais de um ano eles não recebiam uma peça nova de roupa, e esse era o quarto remendo feito na mesma camisa.