Não se preocupe, Venâncio, quando você cumprir sua
missão todos se reunirão à sua volta para sacramentar sua aceitação. Eu sou o
iniciador da sua aceitação, seu padrinho esta noite.
Lancarto abriu a porta e uma única luz de vela
iluminava o quarto escuro e sombrio. Lancarto entrou primeiro. No fundo do
quarto, dois sacos de algodão manchados de barro vermelho estavam amarrados com
cordas, e pelo formato pareciam conter corpos de seres humanos inertes. Uma
mesa de madeira rústica e seis cadeiras decoravam o local, na estante de
alvenaria e madeira vários livros grossos de cor negra ornamentavam as
prateleiras, com bolas de cristal e cruz de ferro. O brasão da família adornava
a parede.
Venâncio já não sentia mais o mesmo medo de antes,
somente um zumbido tomava conta do seu ouvido esquerdo. Lancarto lhe ofereceu
outra taça do licor de cor barrenta; ele bebeu dessa vez sem perguntar nada. Lancarto
mandou que ele se sentasse à mesa, serviu uma taça com o licor, que ele mesmo bebeu
de frente para os dois sacos. Iniciava-se um ritual.
Com olhar fixo em Venâncio, Lancarto o rodeava com duas
cruzes de ferro nas mãos como se estivesse o benzendo. Fez isso por doze vezes,
até que parou repentinamente. Venâncio foi colocado no centro de uma roda de
velas acesas. O calor tomou conta do seu corpo, e ele se sentiu como estivesse flutuando
sobre o fogo, parecia que seu corpo não lhe pertencia mais. Viajando num
turbilhão de luzes, uma voz penetrou em seu cérebro com cantos de sedução. Se viu
mergulhando em rios de ouro, subindo num pedestal, e de novo a voz penetrou em
sua mente o convocando de volta ao seu ritual.
Lancarto surgiu à sua frente com dois punhais em
mãos. Depois, os colocou nas mãos de Venâncio e mandou que ele os segurasse firme
pelo cabo de madrepérola. Instintivamente, Venâncio pegou os punhais e os segurou
com força. Seus olhos estavam fora de órbita, ele não se governava mais. Lancarto
ordenou:
- Faça, faça, faça!
Venâncio levantou-se e dirigiu-se aos dois sacos,
passando sobre o fogo das velas como se elas não existissem. Os dois sacos de
linhagem que pareciam conter os corpos humanos estavam inertes. Venâncio ergueu
os braços até a cabeça, as lâminas brilharam sob a luz das velas acesas, e em movimentos
rápidos ele apunhalou os sacos várias vezes. O sangue começou a surgir em todos
os furos, e Venâncio foi acometido por uma tremedeira incontrolável. Lancarto o
segurou pelos braços, lhe deu duas bofetadas, e o colocou de novo sentado com
sua roupa toda ensanguentada