Em outro ponto da cidade, o clima estava tenso nos
bastidores da campanha de Lancarto, em uma suíte de um hotel. O governador
Lancarto Aranha discutia com seu secretário sobre o rumo das eleições.
- Como é possível, Hernandes? Nós estávamos na
frente o tempo todo.
- Houve uma reviravolta nas pesquisas. Estão dizendo
que a imprensa vai publicar um documento bombástico sobre o passado do coronel
Ferraço e da sua família amanhã.
Nervoso, andando de um lado para o outro, Lancarto,
aos sessenta e cinco anos, já aparentava ter setenta. Tinha marcas de um homem
possuído pelo poder e prestes a perdê-lo. Ele não estava preparado para a
derrota que viria. Como alguém que construiu um poder que considerava vitalício
poderia agora estar perdendo de forma tão constrangedora?
TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO. E- BOOK
Lancarto começou um discurso para os seus assessores
como se estivesse no palanque, a única diferença era que esse seria um discurso
em tom melancólico, como uma despedida do poder. Entoando a voz, ainda com o
seu charuto cubano na mão direita e um copo de vodka na outra, ele começou com
o tema que mais fizera parte da sua vida.
- Que traição ocorrera que eu não percebi entre
os meus colaboradores? Onde estão indo os amigos que alimentei por décadas, com
acesso às riquezas deste país, país este que fora construído pelo meu pai, que
há cem anos soube fazer desta terra de ninguém um lugar próspero. Ele foi o primeiro
a explorar as riquezas desta terra, e com muita luta seguiu por décadas criando
uma classe de novos empreendedores, criando empresas que foram desenvolvida por
sua mente brilhante e por mim, que soubemos explorar suas riquezas minerais
criando uma sociedade próspera, abrindo as portas para o capital, que soube
valorizar o legado deixado por Don Lancarto, governando com sabedoria e criando
um país que não existia para o mundo
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