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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

domingo, 3 de maio de 2015

COLEÇÃO V IAGENS NA FIC Ç Ã O



O MENINO  
QUE
QUERIA VOAR

CHIADO EDITORA PORTUGAL




Nesse lugar, seus moradores  alimentavam-se
de histórias no encontro aos sábados, quando havia
reunião do grupo de prosa e de noctívagos das redondezas,
no armazém do João Gouvêa, para comemorar
boas colheitas e trocar tostões de prosa e contar suas
aventuras deveras mirabolantes, sempre regadas à boa
pinga da roça, produzida no alambique da fazenda
Maravilh. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de
expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia,
pois haviam estabelecido um código de crendice entre
eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o
aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso
das vendas do seu armazém à magia do lugar. os
contadores de história ficavam envolvidos pelo público
ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um
lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos
Ilustres membros noctívagos, sentados em número de
doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se
fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores
permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos,
e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça.
A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos
relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados,
contando suas fábulas e suposta falácias e
aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência
com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha,
que durante um século guardaram potes de ferro
repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da
região e escondiam dos seus senhores engolindo-as.
Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro
e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia
poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos
secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como
a abolição chegou antes, eles não puderam usar as
pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para
a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um
século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram
a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé
Queiroga com sua voz de trovão










À medida que os anos se passavam, o menino
crescia sem nenhum problema aparente e vivia agarrado
à sua mãe, que não tirava os olhos dele por um bom
motivo. Mesmo assim, ele ludibriava a sua mãe e
desaparecia da vista dela. Escondia-se no celeiro, onde
alimentava seus animais de estimação escondido da sua
mãe: um filhote de tatu que ele achara no riacho após um
temporal quase se afogando, e cuidava de uma saracura
ferida, que sempre o esperava por causa do milho que ele
levava no embornal. Ele agia como seu protetor e os
mantinha longe dos predadores. Aos quatro anos, o
menino se aventurava em torno da casa e às vezes se
perdia entre os arbustos, no riacho ao lado da casa, ou se
escondia debaixo do assoalho dela, obrigando a sua mãe
a procurá-lo, por horas desesperada. Por ter passado por
maus momentos, tentava não deixá-lo mais sozinho. os
fatos ocorridos meses antes a fizeram passar por dois
sustos, e fizeram dela uma mãe sempre alerta,

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