A educação de nível transformador não era prioridade, uma vez que só se ensinava o básico. A inclusão social se dava através de programas de conteúdo primário e não visava a ganhos futuros na área do conhecimento de nível superior. Para um Estado que pretendesse sair do atraso nessas áreas, a transformação por investimentos em conhecimento e domínio da tecnologia e da cultura estava aquém do esperado. Foi assim que os jovens moradores não foram incluídos em nenhum programa de desenvolvimento educacional de grande porte e voltaram a roubar celulares e a vendê-los nos novos camelódromos do bairro Marrom, onde não eram incomodados por negociarem suas mercadorias. Afinal, eles estavam longe do centro de Rio de Rosário e não interferiam no comércio da classe média. Ser reféns do tráfico virou rotina para esses jovens. Os traficantes se sentiam menos incomodados e continuavam abastecendo com drogas de toda espécie as classes alta e média da cidade. Aos pobres viciados em drogas só restava o crack, a subdroga que matava cada vez mais rápido em todo o país. O crack não dava muito trabalho ao governo e este considerava um caso perdido investir recursos em prol da recuperação das vítimas do tráfico. Por isso, aliás, o governo criou lugares na periferia onde era permitido o uso indiscriminado da droga letal. O governo também desenvolveu um sistema rápido de remoção de corpos. Com isso, os cadáveres encontrados ao relento eram retirados imediatamente e levados para o Crematório Municipal de Rio de Rosário. Era um sistema ágil, não dando tempo à imprensa de fazer qualquer reportagem a respeito das dezenas de corpos de jovens banidos do convívio social. A rigor, o procedimento não deixava pistas e só aumentava as estatísticas dos desaparecidos. As mães de Rio de Rosário choravam o desaparecimento dos filhos consumidos pelo vício e, sem uma “Praça de Maio” ou alguma causa lógica evidente, choravam em qualquer canto da cidade e em cada beco do bairro Marrom.
MC Jr., João. Jogo Sujo: Cidade do Crime (Locais do Kindle 428-443). Ponto Vital. Edição do Kindle.
MC Jr., João. Jogo Sujo: Cidade do Crime (Locais do Kindle 428-443). Ponto Vital. Edição do Kindle.
Nenhum comentário:
Postar um comentário