Durante o jantar, Venâncio percebia que eles se
revezavam em perguntas maliciosas. O jantar parecia ser um pretexto para um
interrogatório investigativo, mas Venâncio se sentia preparado. Durante anos
ele e seus pais criaram uma história de família em uma região que jamais tivera
em conflito e sem referência importante no mapa do país. Venâncio não deixaria
que seu futuro fosse interrompido por lembranças do passado, e não pretendia
colocar a vida dos seus pais em risco.
Os Aranhas, como ele se referia, gostavam muito de
indagar sobre a origem dos seus pais. Don Lancarto ficava distante, parecendo
não dar muita atenção, e às vezes sumia como um fantasma atrás de paredes com
passagem secretas para alguns cômodos daquela imensa casa. Nem todos os
aposentos eram acessíveis a todos os hóspedes.
A esposa de Lancarto havia morrido em um atentado contra
ele há dois anos. O trem em que viajavam fora sabotado na tentativa de matá-lo e
descarrilou numa ponte sobre o rio San Francisco. Sua mulher Victoria, de
origem holandesa, caiu no rio de uma altura de trinta metros e se afogou. Com a
morte da esposa, Lancarto se tornara ainda mais misterioso, passando várias horas
com o corpo da mulher, que ele havia embalsamado, mantido em um aposento
rodeado de símbolos holístico da Idade Média.
A irmã de Lancarto, que era jovem, sedutora, fria
e calculista, fazia perguntas a Venâncio com objetivo de descobrir se ele tinha
alguma opinião política a respeito do país, indagava sobre a sua religiosidade
e se acreditava no poder das forças ocultas que governava o universo
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