Três dias depois
Ainda bem não havia amanhecido e ela levantou-se antes
que o dono do bar chegasse para abrir o seu
estabelecimento
Pensava em agradecer aquele presente de Natal, que
provavelmente fora deixada por ele, “a cesta recheada da
manhã do dia 25 de dezembro”, mas preferiu guardar em
seu coração toda a sua gratidão. Havia três semanas que
essa
jovem dormia no mesmo lugar, pois era a garantia de que
tomaria um café quentinho com leite e um pão francês com
manteiga. O proprietário do bar era um homem gentil e a
tratava como um ser humano e não como pária da sociedade
ou estorvo, como alguns proeminentes senhores da
sociedade
viam os excluídos, desocupados e mendigos que circulavam
no centro financeiro do Rio de Janeiro. Ciente da
rejeição da
qual era vitima a jovem só se sentia segura quando
acordava
na porta desse bar, ela se sentia protegida por esse
estranho que
não a rejeitava . Ali tinha a garantia de que não
passaria fome
naquela manhã e não seria enxotada como um animal, como
ocorria em outros lugares. Quem tinha todos os motivos
para
odiar o mundo seria ela, vítima de uma sociedade
hipócrita
incapaz de uma autocrítica, para delinear uma sociedade
mais justa. A jovem com pouca idade e incapaz de
discernir
a sua verdadeira questão nesse contexto da sua vida
estava
entregue à própria sorte, com pouca experiência de vida.
Já
sofria com o desprezo, amargava com a violência a que
fora
submetida. Somente sua força interior, que advinha do seu
estado de espírito, a fazia resistir à adversidade. Ela
era movida
por uma vontade de viver e o amor pela vida a mantinha
viva. Ela preferia viver pelo centro da cidade, onde às
vezes
conseguia um biscate, e dinheiro para comprar uma roupa,
e
alimentar-se. Sua boa aparência a ajudou por um bom
tempo,
pois era uma moça de uma beleza angelical, o que parecia
ser
um bom predicado, mas também lhe ocasionava inúmeros
problemas devido ao assédio dos homens que tentavam tirar
proveito da sua situação, antes que sua barriga
demostrasse
sua gravidez. Agora, com seu aparente estado, as pessoas
não
lhe davam mais nenhuma chance e havia quatro meses que
ela passou a depender da caridade para continuar vivendo
ao
relento
Nenhum comentário:
Postar um comentário