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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR

O menino sempre ouviu com atenção as histórias que seu irmão contava de um menino sonhador, de nome Zé Polin, o pequeno inventor. Ele morava do outro lado do Morro do Fama e tinha um sonho equidistante do seu mundo real: queria ser aviador. De tanto ouvir lendas de homens que voavam em máquinas voadoras, o menino sonhador, um dia, por acaso, viu bater à sua porta em uma tarde de vento forte, prenúncio de tempestade. Curioso com a batida insistente, pensou que era gente. Correu para a porta apressado, abaixou a tramela, e, ansioso, foi logo abrindo a porta da sala para ver quem batia insistente; assustou-se por não ver ninguém. Com seu olhar de menino desolado, deparou-se somente com um vento forte e gelado. Era o mau tempo, vindo ao seu encontro. O vento trazia consigo uma folha de jornal que agarrou em seu rosto. Surpreso pelo ataque da folha de papel, o menino sonhador pensou em rasgá-lo, mas, ao retirar o incômodo da sua face, uma ideia aflorou, pois um recorte de jornal impresso em francês, escrita que ele não entendia, nenhuma relevância tinha naquele momento. Porém, seus olhos vidrados se mantinham em uma imagem, e no brilho do seu olhar de menino sonhador pôde se ver alegria. Seu sorriso tomou conta do seu rosto, seus olhos amendoados arregalaram-se ao se deparar com a imagem dos seus sonhos em um velho e sujo recorte de jornal, provavelmente, deixado no Morro do Fama por um passante da cidade grande, que visitou aquelas bandas, e desfez-se da aquisição. A foto do velho jornal mostrava o avião 14-bis e foi isso que despertou o desejo do menino Zé Polin, aguçando sua mente de inventor. Ele passou a viver e a sonhar com essa foto debaixo do seu travesseiro. Dias depois, colocou em prática seu projeto, dando asas à sua imaginação. Durante meses, trancado no celeiro, trabalhou duro com o material de que dispunha e, depois de muito esforço, erros e acertos, ele construiu uma suposta réplica, sem motor, da sua aeronave. Ele se sentiu um menino inventor e não via a hora de experimentar seu invento. Esperava ansioso. Manteve o segredo escondido dos seus pais no celeiro, abandonado por algum tempo, embaixo de um monte de feno. A engenhoca era constituída de uma asa com armação de madeira, varas de bambu e pano de linho velho, sobras do armazém do João Gouvêa, que ficava perto de sua casa, na estrada da Maravilha. O armazém será o único que vendia retalhos, secos e molhados na região. Como bom artesão, o menino sonhador teceu a sua invenção usando uma agulha de sapateiro do seu pai, costurando com barbantes e correias - tiradas das celas do seu cavalo – a fim de amarrar, ao seu corpo, sua invenção tecnológica com mais segurança. Na confecção da asa, usou também corda de sisal, que era usada para fechar os sacos de cereais. Zé Polin esperava seus pais saírem para trabalhar na lavoura. Quando estava só em casa, subia o Morro do Fama e, de cima de um tronco de árvore caído à beira do precipício, soltava-se, tentando voar, em direção ao vale da fazenda Maravilha. Depois de várias tentativas infrutíferas e alguns ossos quebrados, sua mãe descobriu sua arte, e achou por bem trancá-lo em casa, para que não morresse, tentando alcançar o seu sonho, que se transformara em seu pesadelo.

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