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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

TRECHOS DO LIVRO.


A cabeça da vítima, com o impacto do projétil, tombou à direita do seu corpo, escondendo temporariamente o sangue derramado.

    Demostrando frieza, eles não fizeram questão de descobrir a vítima por inteiro. Levantaram somente a parte superior do cobertor, em que o orifício da bala entrou para se certificarem da sua eficácia e da sua trajetória na cabeça da vítima.

    Parecendo satisfeitos com o resultado, eles coçaram a cabeça e confabularam em tom baixo, para que ninguém ouvisse seus segredos e se retiraram, comentando entre si sobre o estado físico do homem em local de risco. As nuvens se agruparam sobre a cidade e a chuva começou a cair, apagando rastros na noite, mas não com a intensidade anunciada, deixando pistas para trás. Mais adiante, a jovem estava tentando dormir, protegendo-se do frio com folhas de papelão, encostada na porta de entrada do Ministério do Trabalho.

    Uma hora depois, acordou trêmula e assustada com o intenso tráfego de caminhões e tanques de guerra, que trafegavam pela contramão, na rua Primeiro de Março. O forte pisar da tropa de soldados em marcha na cidade vazia, ecoava de forma uníssona em seus ouvidos. Eles passavam, olhando aquele ser envolto em folhas de papelão de listras amarelas e verdes.
















Seu queixo batia debaixo do cobertor rasgado e gasto que ela achara na rua. Ela parecia desconexa, vivendo nesse clima sombrio e tenso, que tomava conta do país e passava por momentos de grandes incertezas políticas. Estava alheia a tudo isto e há dias tentava somente ter direito à vida e sobreviver a essa gestação. Vagava a esmo, no burburinho da cidade. Seu lento deslocar era indício do que estava prestes a ocorrer. Com algumas contrações a incomodando, e com suas forças esvaindo-se, caminhava lentamente entre tanques de guerra e centenas de soldados.Estava enfraquecida pela falta de alimentação regular e pela luta diária para a sobrevivência dela e da sua gravidez. A incansável jovem buscava forças na providência divina. Precisava de uma mão amiga que a socorresse naquele momento crucial da sua vida. Não necessitava de esmolas, mas de compaixão, de amor do próximo, algo aparentemente inexistente no clima em volta dela, naqueles últimos dias de gestação.

    A tropa passou por ela, posicionando-se em direção ao Aeroporto Santos Dumont. Ela recompôs-se, respirou fundo, tentando manter o equilíbrio do seu corpo e de sua emoção.

    Depois de descansar por mais alguns minutos nas escadarias do prédio do Ministério do Trabalho, reuniu a pouca força que lhe restava, 

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