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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O MENINO QUE QUERIA VOAR

TRECHO DO LIVRO
Tais fatos foram protagonizados por seus moradores
e eram perpetuados nas lembranças dos prosadores,
noctívagos e contadores de histórias desse passado
inusitado. Nesse tempo de labor, as forças da natureza
determinavam o rumo que os moradores dessa região
deveriam tomar ao confrontar-se com as intempéries,
decorrentes do tempo sombrio, a que foram submetidos,
como testes às suas convicções.


 Messias, como era chamado, sacou sua arma,
deu um passo à frente, fez a mira como se fosse um duelo
quando só há uma chance de abater o inimigo. Ele atirou
sem tremer ou pestanejar, e a fumaça tomou conta do
cenário. Quando clareou o ambiente, pode se ver que ele
havia abatido a onça com dois tiros entre os olhos, usando
sua inseparável garrucha de dois canos. Enquanto seu pai
vibrava com seu feito, o menino aproximou-se da onça e
acariciou o animal, entristecido.


https://www.chiadoeditora.com/livraria/o-menino-que-queria-voar
Todos esses fatos eram
comprovados por caçadores colecionadores de relíquias,
que negociavam unhas e pelos dos supostos lobisomens
que os deixavam grudados na figueira ao fugir dos
cachorros de caça da região. Esses fatos só ocorriam
depois da meia noite na lua cheia. o mais convincente de
todos era Zeca Calango, mestiço de olhos verdes e forte
como um touro, exímio tocador de acordeom. Ele gostava
de cantar cantiga de rima, antes de começar a narrar suas
histórias como a rima que lhe deu nome, Calango tango
no caminho da lacraia vou tocando e me rindo no
calango, atrás de um rabo de saia. Vindo das cercanias de
Arcozelo, Zeca Calango contava suas fábulas sempre
com um sorriso de canto de boca, valorizadas por três
dentes de ouro. A sua preferida era da mula Fantasma.
Dizia que, na lua nova, no alto do Morro do Fama, a mula
sem cabeça trotava na estrada, soltando labaredas da
degola e por onde passava deixava um rastro de destruição
e terror, incendiando lavouras, cafezais e ranchos.
Afirmava convicto de suas histórias, que esta alma
penada era da mula de um escravo de nome Justino, que
recebera a mula do seu senhor, o Conde de Avelar, como
prêmio por nunca ter sido castigado todo o tempo em que
fora escravo de um único senhor. Mas o fato ocorrido no
passado em uma fatídica noite de lua cheia com a mula
desse pobre homem deu origem à suposta lenda para
alguns e fato real para os sábios da região, principalmente
ele, o destemido Zeca Calango, que se apresentava como
descendente do escravo Justino.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O MENINO QUE QUERIA VOAR

TRECHO DO LIVRO.

Ele sorria feliz por preencher com sua voz afinada a acústica da pequena igreja, a Casa de Oração de Maravilha construída logo abaixo do Morro do Fama, e, como de hábito, estava sempre bem vestido. Nesse domingo considerado especial, ele trajava seu melhor terno de gabardine, que comprara semanas antes com o dinheiro das vendas da boa safra de abóboras e repolho. Vaidoso, ele gostava de ouvir os elogios dos parentes e membros da igreja à sua voz forte e afinada. Logo após o encerramento das pregações do seu tio Margarino, que dava ênfase ao pecado da gula do vício, e das mentiras que levaria o homem à ruína, ele pegava seu cavalo tinhoso e ia para o armazém do João Gouvêa, situado a menos um quilômetro dali. Sua esposa, que todos chamavam de Dona Cândida, tinha as feições de uma pessoa bem mais jovem. Apesar dos seus quarenta anos, nove filhos e toda a dureza da vida, tinham seus cabelos negros, pele morena, sem nenhuma marca da vida dura que levava no campo, e duas lindas tranças grossas sobre os ombros, herança do seu sangue indígena. Transbordava alegria por estar servindo a este propósito. Seu vestido, com motivos florais confeccionados por ela, a deixava em sintonia com a natureza ao redor, e por hábito usava um véu branco, presente da sua sogra de origem [luso-alemã, casada com Messias, seu sogro, o artesão de colchões de origem cabocla]. Ela o mantinha cobrindo sua cabeça enquanto permanecesse no templo. Estava grávida de nove meses, e acompanhada por seus três filhos mais novos. Como fazia todos os domingos, ela repartiria entre os membros presentes o bolo de fubá e o café com leite que ainda se mantinha quente dentro de bules de ágata sobre o fogão a lenha na pequena e bem arrumada cozinha nos fundos da igreja. Os bolos de fubá ainda exalavam o cheirinho da erva doce, que perfumava o ambiente, deixando todos salivando, enquanto dona Candida orava, agradecendo o alimento que estava sobre uma mesa de Jacarandá, os bolos e pães estavam coberto por guardanapos de linho bege bordados com o tema que ela mais gostava: as flores Maravilha.







quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O MENINO QUE QUERIA VOAR

TRECHO DO LIVRO

À noite, as novelas aguçavam a imaginação e os faziam esquecer, por algum tempo, da pobre existência. Ouviam horas a fio, à noite. Não teriam outro divertimento, não fosse esse rádio vermelho da marca G.E, chamado de rabo quente, que, quando esquentava, parava de funcionar. Além disso, a eletricidade era tão fraca quase não dava para ouvir as novelas da rádio nacional, torcer pelo herói, do rádio, Jerônimo, o “herói do sertão”, e o anjo e metralha heróis urbanos do famoso Teatro de Mistério da rádio nacional. Em noites quente do verão maldormidas sob os telhados de zinco, com goteiras para todos os lados quando chovia, a família superava estas mazelas com o bom humor. Todos cantarolavam as músicas que ouviam no rádio “a noite está tão fria. Chove lá fora” e completavam com e aqui dentro também,e quando esquentava o zinco do telhado, torrava os miolos pediam, “chove chuva chove sem parar” e faziam uma prece a Deus nosso senhor. O menino observava com angustia sua mãe, noites a fio, na sua máquina de costura a pedalando para colocar a comida na mesa ,ela poupava o pouco que tinha para poder comprar um cobertor para quando o inverno batesse a sua porta cheia de fendas onde o vento gelado da madrugada penetrava impiedosamente sobre o menino que dormia no chão frio sobre uma esteira . era o sacrifício de agasalhar com um coberto de flanela ,para um sonho acalentar na esperança de dias melhores para viver e fé em Deus para vencer “Ao soprar do vento, não há jardins nem flores, não derrube a rosa faceira o fruto e a flor da Mangueira”, dizia seu irmão Paulo em forma de música, no seu momento poético.
“Quando a rosa cair no chão espantará a dor e a tristeza, alegrando os corações”.
Das sombras da noite, surgiam figuras para aterrorizar os moradores; despertava do gueto o mal, oriundo das sombras da noite. Eles dominariam por algum tempo o poder local. Peixe, Alicate, Dejailson surgiram do nada e de repente eram donos do pedaço. Ele não entendia nem queria entender.
Quem os delegava tanto poder.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO



TRECHOS DO LIVRO

Governantes oriundos de vários clãs, que se estabeleceram de forma obscura no poder por séculos, dizem que não se pode mudar a história já escrita e consolidada, que não há como mudar o destino de raças predestinadas a serem dominadas por outra raça supostamente superior, como se fosse o destino que estabelecera tal ordem ao universo da humanidade, e, portanto, se justificam, como se não houvesse injustiças cometidas por eles. Quando julgados, não sentem culpa pelos crimes praticados ao longo dos anos de opressão. Esses clãs não consideram que suas conquistas e suas riquezas tenham sido fruto da espoliação das riquezas desses povos. Não consideram crimes seus erros cometidos pela  desumanidade, agem como bárbaros, déspotas, tiranos, ditadores, e corruptos, que não podem reparar o passado para construir o futuro, e devolver tudo que tiraram por séculos de povos oprimidos- como dignidade, perseverança e autoestima. Mas sempre haverá homens como Chacon, que acreditam que  se pode escrever uma nova história para o seu povo, fruto de uma luta democrática, de uma consciência plena sobre seus direitos universais, como seres iguais perante a lei, que um dia servirá para punir todos os tiranos, ditadores, corruptos. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Menino que Queria Voar - João M. C. Jr. - Bertrand Livreiroshttp://t.co/9kMavLySZA via @twitterapi






Aparentando desapontamento pela decepcionante constatação
daquele momento, ele pega a sua máquina fotográfica
e tira algumas fotos do céu. onde nuvens, com
seu movimento repentino, criam imagens impactantes.
Uma delas, como se fosse guiada propositadamente, paira
sobre sua cabeça e descarrega gotículas de chuva gelada.
.
Maravilha poderia ter sido um lugar comum, como tantos outros situados na região serrana do Rio de Janeiro, se não tivesse proporcionado histórias incomuns para aqueles que vivenciaram seus momentos mais derradeiros, desde a sua fundação aos dias em que se passaram esses fatos, inumeráveis e comprovadamente extraordinários.
Tais fatos foram protagonizados por seus moradores e eram perpetuados nas lembranças dos prosadores, noctívagos e contadores de histórias desse passado inusitado. Nesse tempo de labor, as forças da natureza determinavam o rumo que os moradores dessa região deveriam tomar ao confrontar-se com as intempéries, decorrentes do tempo sombrio, a que foram submetidos, como testes às suas convicções.
Eles quase sempre necessitavam da sua benevolente fertilidade para que os fizesse acreditar em dias melhores, pois a força que os movem advém das adversidades. Eles nunca desistem e sempre acreditaram que “a fé move montanhas”, como diz o ditado. Mas, em alguns casos, o mistério da superação permaneceu em segredo, oculto na magia que os envolvia. Diz a lenda dos contadores de histórias desse lugar que uma vontade incomum pode ocasionar milagres e transforma sonhos em realidade num fechar dos olhos, bastando apenas adormecer e ter este imenso desejo peculiar de voar.

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

TRECHOS DO LIVRO
Muitos dizem que o destino de certas pessoas já estaria
escrito nas estrelas, outros afirmam que nos traçamos o nosso
destino. Há ainda os que acreditam que o destino a deus
pertence. Muitos estudiosos do assunto, desde os primórdios
das civilizações, como cartomantes e suas bolas de cristal,
supostamente podiam prever o futuro e os oráculos do passado
visionavam, nas chamas das piras dos templos, o destino de
reis e o desfecho de suas batalhas.









Mais adiante, a jovem estava
tentando dormir, protegendo-se do frio com folhas de papelão,
recostada na porta de entrada do ministério do trabalho.
Uma hora depois, sem conseguir pegar no sono, ela acordou,
trêmula e assustada com o intenso tráfego de caminhões e
tanques de guerra, que trafegavam pela contramão, na rua
Primeiro de Março. O forte pisar da tropa de soldados em
marcha na cidade vazia ecoava de forma uníssona em seus
ouvidos. Eles passavam olhando aquele ser envolto em folhas
de papelão de listras amarelas e verdes. Seguiam uniformes,
empunhando seus fuzis com baionetas que, de tão próximas
da jovem, resvalavam em sua cabeça. Temerosa por sua vida
e impressionada por tamanho aparato, ela permanecia inerte,
como se morta estivesse. Olhares vindos de cima com pouca
capacidade de avaliação avalizavam os riscos da sua presença,
temerosos por qualquer reação contrária às suas ações, pois
parecia, naquele momento, que todos eram inimigos antes de
provarem ao contrário. Por isso, analisavam curiosos aquele
frágil ser, temendo uma possível reação

CONTROVERSO..