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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

terça-feira, 21 de junho de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR









Depois de alguns minutos de hesitação, bestificados retornavam às suas casas. Nem todos desaparecidos passavam por estas experiências, mas quase sempre todos eles chegavam maltrapilhos e cambaleantes e contavam histórias parecidas para suas esposas ao chegarem de madrugada amarfanhados e caindo dos seus cavalos na porta da casa. Diziam ter sido raptados por grandes esferas misteriosas que surgiam do céu em meio às estrelas, de onde surgiam  estranhos seres envoltos em roupas metálicas ,eles eram imobilizados por feixes de luz que os levavam em viagens no espaço em velocidades alucinantes a mundos desconhecidos. Mas, quando eram questionados sobre esses supostos lugares ao chegarem em casa, eles não sabiam explicar às suas famílias, pois voltavam com amnésia, com suas roupas rasgadas e enlameados, não conseguiam descrever esses supostos mundos restando apenas lembranças remotas, que tentavam montar como um quebra-cabeças sem algumas peças. Suas mulheres não acreditavam nessas histórias, por chegarem com bafo de aguardente e sem o dinheiro das vendas das colheitas. Aos sábados, Maravilha transformava-se no lugarejo fervedouro. Esse era o clima que antecedia a grande festança. O desfile das enfeitadas charretes e cavalos adornados competiam com os carros de boi, e seu canto das rodas estridente alegrava as manhãs ensolaradas, congestionando a estrada do Lameirão até o centro de Paty. O Hotel de Quindins fervilhava de turistas da capital pelo revigorante clima afrodisíaco e da fama de seu Casino moderno. Para os nativos, o grande acontecimento da semana era o baile local, no início da noite no arraiá. Na parte da tarde, acontecia também o encontro no mesmo arraiá do açoite, como era chamado, por ter sido construído no local de uma antiga senzala perto do armazém. Nesse lugar, alimentavam-se de histórias no encontro aos sábados, quando havia reunião do grupo de prosa e de noctívagos das redondezas, no armazém do João Gouveia, para comemorar boas colheitas e trocar tostões de prosa e contar suas aventuras deveras mirabolantes, sempre regadas à boa pinga da roça, produzida no alambique da fazenda Maravilh. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia, pois haviam estabelecido um código de crendice entre eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso das vendas do seu armazém à magia do lugar. Os contadores de história ficavam envolvidos pelo público ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos ilustres membros noctívagos, sentados em número de doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos, e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça. A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados, contando suas fábulas e suposta falácias e aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha, que durante um século guardaram potes de ferro repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da região e escondiam dos seus senhores engolindo-as. Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como a abolição chegou antes, eles não puderam usar as pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé Queiroga com sua voz de trovão 

O MENINO QUE QUERIA VOAR









Depois de alguns minutos de hesitação, bestificados retornavam às suas casas. Nem todos desaparecidos passavam por estas experiências, mas quase sempre todos eles chegavam maltrapilhos e cambaleantes e contavam histórias parecidas para suas esposas ao chegarem de madrugada amarfanhados e caindo dos seus cavalos na porta da casa. Diziam ter sido raptados por grandes esferas misteriosas que surgiam do céu em meio às estrelas, de onde surgiam  estranhos seres envoltos em roupas metálicas ,eles eram imobilizados por feixes de luz que os levavam em viagens no espaço em velocidades alucinantes a mundos desconhecidos. Mas, quando eram questionados sobre esses supostos lugares ao chegarem em casa, eles não sabiam explicar às suas famílias, pois voltavam com amnésia, com suas roupas rasgadas e enlameados, não conseguiam descrever esses supostos mundos restando apenas lembranças remotas, que tentavam montar como um quebra-cabeças sem algumas peças. Suas mulheres não acreditavam nessas histórias, por chegarem com bafo de aguardente e sem o dinheiro das vendas das colheitas. Aos sábados, Maravilha transformava-se no lugarejo fervedouro. Esse era o clima que antecedia a grande festança. O desfile das enfeitadas charretes e cavalos adornados competiam com os carros de boi, e seu canto das rodas estridente alegrava as manhãs ensolaradas, congestionando a estrada do Lameirão até o centro de Paty. O Hotel de Quindins fervilhava de turistas da capital pelo revigorante clima afrodisíaco e da fama de seu Casino moderno. Para os nativos, o grande acontecimento da semana era o baile local, no início da noite no arraiá. Na parte da tarde, acontecia também o encontro no mesmo arraiá do açoite, como era chamado, por ter sido construído no local de uma antiga senzala perto do armazém. Nesse lugar, alimentavam-se de histórias no encontro aos sábados, quando havia reunião do grupo de prosa e de noctívagos das redondezas, no armazém do João Gouveia, para comemorar boas colheitas e trocar tostões de prosa e contar suas aventuras deveras mirabolantes, sempre regadas à boa pinga da roça, produzida no alambique da fazenda Maravilh. Cada prosador no seu tempo tinha o direito de expor suas aventuras e Prosas sem interferência alheia, pois haviam estabelecido um código de crendice entre eles, que se perpetuou desde o tempo do império, com o aval auspicioso do João Gouvêa. Este creditava o sucesso das vendas do seu armazém à magia do lugar. Os contadores de história ficavam envolvidos pelo público ávido por novas fábulas. Eles se acotovelavam por um lugar na roda que se formava pela plateia, em volta dos ilustres membros noctívagos, sentados em número de doze, em uma grande mesa de madeira rústica. Como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda, os prosadores permaneciam por horas a fio degustando linguiça torresmos, e chouriços, regados à cana-caiana e pinga da roça. A plateia não arredava o pé do lugar, hipnotizado pelos relatos mirabolantes. Envaidecidos, eles seguiam entusiasmados, contando suas fábulas e suposta falácias e aventura. Zé Queiroga gostava de narrar a sua experiência com os espíritos dos escravos da fazenda Maravilha, que durante um século guardaram potes de ferro repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da região e escondiam dos seus senhores engolindo-as. Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como a abolição chegou antes, eles não puderam usar as pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passaram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé Queiroga com sua voz de trovão 

sábado, 18 de junho de 2016

O MENINO QUE QUERIA VOAR


Depois de tentar, sem sucesso, vender limonada e engraxar sapatos para arrumar um dinheirinho e assistir ao seu primeiro filme no cinema Metro, que era mais caro que o Olinda, o menino contou com a sorte. Descendo a ladeira, ele achou uma nota de dez cruzeiros. O inusitado aconteceu: encontrar dinheiro na rua na descida do morro, onde quase todo mundo anda olhando para o chão, em pleno domingo, em que todos se preparavam para ir ao cinema, só poderia ser considerado um milagre. Seus irmãos não tinham grana para levá-lo ao cinema. Aquilo era um verdadeiro golpe da sorte. Afinal, poucos tinham para gastar e nenhum para perder. O filme era de fantasia, de Walt Disney, e o cinema Olinda era o maior da praça. Ele perdeu mais tempo verificando as pilastras do que o filme.
TRECO DO LIVRO 

Entre uma brincadeira e outra, treinava autodefesa, chutando pedras e dando socos nas cercas de madeira. Alguns tapas trocados entre ele e sobrinhos, da sua idade, os ajudavam a manter a forma para alguma eventualidade. As brigas entre o menino que queria voar e seu sobrinho Edson, sempre incentivadas pelo seu irmão Jonas, que adorava vê-los se pegando, eram corriqueiras. Outras vezes, este mesmo irmão o defendia da dupla cavernosa, Alicate e Dejailson, que infernizava a vida dele quase todos os dias. Dessa forma ganhava imunidade para continuar sobrevivendo. Neste ínterim, as drogas começaram a aparecer timidamente no morro. Ficavam restritas a uma minoria não organizada e bastante discriminada. As armas eram um direito de todos, que se precaviam adquirindo uma para sua proteção. Portanto, todos eram iguais perante as armas e não existia lei, nem a dos mais fortes. A polícia aparecia de vez em quando para prender desempregados ou vagabundos. O menino percebia que, em tais circunstâncias, só a fé da sua mãe poderia protegê-lo das artimanhas, das armadilhas das sombras do mal.

sábado, 11 de junho de 2016

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO.




TRECHOS,DE TEMPOS DE TRAIÇÃO.

Lancarto desembarcou em Londres com uma aparência de um homem de cinquenta anos ,barbudo e bem mais magro. Com pouco dinheiro, ele se estabeleceu no subúrbio de Londres para não chamar atenção. Se misturou ao povo pobre ,que ele chamava de ralé .
 localizou seu ex-quinhoeiro ,Lorde Thomas Spider em um banco negociando a venda das minas em um leilão.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO

TRECHOS DO LIVRO

Nos anos vinte, esse grupo de camponeses, que não tinha como ideais ideologias marxistas ou comunistas, lutavam contra um governo corrupto e cruel, que os escravizava em benefício dos latifundiários e donos de usinas de açúcar, jazidas de carvão e minérios nobres, como ouro e prata, que eram o carro-chefe da economia local.
O presidente Don Lancarto Aranha governava com mão de ferro esse país de dimensões continentais. Dividia o poder e os dezessete milhões, oitocentos e dezenove mil e cem quilômetros quadrados com seus seguidores, nomeados com títulos de nobreza, negando aos pobres trabalhadores rurais e os nativos o direito à escola ou qualquer direito trabalhista.
Chacon temia terminar como todos os membros da frente revolucionária, que quando descobertos eram perseguidos, presos e desapareciam misteriosamente das cadeias de San José. Boatos de rituais macabros se espalhavam pela cidade. A família Lancarto tinha um zoológico particular com animais vindo da África e da Ásia, como leões e tigres, que diziam ser alimentados por opositores mortos em rituais secretos. O povo acreditava que tais rituais lhes concederiam mais poderes. Suas propriedades
ostentavam símbolos que representavam para os nativos o sacrifício.
Chacon tentava não pensar nisso para não perder a coragem e seguir na luta. Seu filho Venâncio, com cinco anos, não entendia o que se passava com a sua família, reclamava das andanças do pai e da mãe, que não podiam deixá-lo em casa sozinho.
Em poucos meses de militância, Chacon fora incluído na lista negra do clã Lancarto como inimigo número um e teve sua propriedade confiscada. Restavam poucas alternativas ao bravo líder; ele havia perdido os poucos bens que tinha, e suas terras poderiam ser ocupadas imediatamente pelos simpatizantes do governo.
Chacon e sua mulher passaram a ser perseguidos pelo governo, e poderiam ser traídos por qualquer ambicioso que não se identificasse com a causa que ele defendia. Ele havia sido alertado pelo padre Francesco, que passara por sua propriedade naquela tarde a caminho de San Paranhos, onde implantava um convento, que a sua prisão havia sido decretada. Sem alternativa, Chacon estabeleceu um plano de fuga em direção às montanhas de Talvegue, que ele e sua mulher conheciam bem.


Na madrugada fria do dia seguinte, deixaram para trás seu povoado. Para Chacon, só havia uma saída: fugir. Era preciso preservar seu sonho, sua integridade física e da sua família. Tiveram que deixar pra trás suas terras e a casa onde moravam.
Após se manterem escondidos por dois meses na floresta de San José de Talvegue, decidiram atravessar a montanha onde a milícia não se aventurava com medo da guerrilha. Ele conseguia passar despercebido dentro da floresta e por várias vezes presenciara as escaramuças da guerrilha contra as milícias, que revidavam com um poder de fogo muito superior devido às armas vindas do exterior, exterminando ou colocando os milicianos em fuga. Chacon se revoltava com perda de vida de ambos os lados, que só beneficiava o clã Lancarto.
Apesar de estar tão perto da batalha, Chacon até aquele momento não cruzara com nenhum membro da guerrilha, e ficava feliz de não ter que se incorporar às suas fileiras, de cujos membros ele divergia. Durante a fuga, Chacon e sua mulher estavam exaustos, e se revezavam na tarefa árdua de carregar o filho nas costas. O pequeno Venâncio estava desnutrido, sua alimentação precária o havia debilitado, e constantemente padecia de febre. Mercedes conseguia tratá-lo com remédios extraídos de plantas medicinais, que ela conhecia e dominava profundamente por sua origem indígena.
Para facilitar a fuga, não carregavam nenhuma roupa ou bagagem, usavam a sabedoria ancestral de Mercedes Dolores sobre o conhecimento do terreno para extrair seu alimento e energia para sobreviverem àquele momento difícil. Levavam na fuga somente um cantil para água, um pequeno embornal com pedaços de pão, sal, um pequeno pedaço de carne defumada que já estava acabando, duas pequenas pedras que serviam para fazer fogo, uma pequena lamparina com óleo para iluminar em caso de emergência, e dois livros; um sobre a Constituição americana, e a Bíblia, que Chacon lia nos momentos de reflexão sobre a sua missão. Era nela que encontrava o conforto que tanto precisava. Ele buscava forças nos salmos de Davi, e se recarregava de energia e esperança durante as poucas vezes que param durante o dia. Sua esperança de dias melhores para seu povo era retirada dos conselhos do padre Francesco, em quem confiava para levar adiante essa jornada, e dos salmos de Davi, que o regenerava e lhe dava forças para prosseguir na luta





O SEGREDO A CURA