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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O MENINO QUE QUERIA VOAR

TRECHO DO LIVRO.

Ele sorria feliz por preencher com sua voz afinada a acústica da pequena igreja, a Casa de Oração de Maravilha construída logo abaixo do Morro do Fama, e, como de hábito, estava sempre bem vestido. Nesse domingo considerado especial, ele trajava seu melhor terno de gabardine, que comprara semanas antes com o dinheiro das vendas da boa safra de abóboras e repolho. Vaidoso, ele gostava de ouvir os elogios dos parentes e membros da igreja à sua voz forte e afinada. Logo após o encerramento das pregações do seu tio Margarino, que dava ênfase ao pecado da gula do vício, e das mentiras que levaria o homem à ruína, ele pegava seu cavalo tinhoso e ia para o armazém do João Gouvêa, situado a menos um quilômetro dali. Sua esposa, que todos chamavam de Dona Cândida, tinha as feições de uma pessoa bem mais jovem. Apesar dos seus quarenta anos, nove filhos e toda a dureza da vida, tinham seus cabelos negros, pele morena, sem nenhuma marca da vida dura que levava no campo, e duas lindas tranças grossas sobre os ombros, herança do seu sangue indígena. Transbordava alegria por estar servindo a este propósito. Seu vestido, com motivos florais confeccionados por ela, a deixava em sintonia com a natureza ao redor, e por hábito usava um véu branco, presente da sua sogra de origem [luso-alemã, casada com Messias, seu sogro, o artesão de colchões de origem cabocla]. Ela o mantinha cobrindo sua cabeça enquanto permanecesse no templo. Estava grávida de nove meses, e acompanhada por seus três filhos mais novos. Como fazia todos os domingos, ela repartiria entre os membros presentes o bolo de fubá e o café com leite que ainda se mantinha quente dentro de bules de ágata sobre o fogão a lenha na pequena e bem arrumada cozinha nos fundos da igreja. Os bolos de fubá ainda exalavam o cheirinho da erva doce, que perfumava o ambiente, deixando todos salivando, enquanto dona Candida orava, agradecendo o alimento que estava sobre uma mesa de Jacarandá, os bolos e pães estavam coberto por guardanapos de linho bege bordados com o tema que ela mais gostava: as flores Maravilha.







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