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São minhas palavras perpetuando histórias. Revivendo as memórias de coisas que nunca vi. São minhas palavras que criam esse mundo misterioso, do real ao ficcional. COSTA, JOÃO. MEU PENSAR , CONTOS , PROSAS E POEMAS 2 (02) . Edição do Kindle.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

COLETÂNEA 2014



















 O MENINO QUE
QUERIA VOAR

Zé Queiroga gostava de narrar a sua expe-
riência com os espíritos dos escravos da fazenda Mara-
vilha, que durante um século guardaram potes de ferro
repletos de pepitas de ouro que eles achavam nos rios da
região e escondiam dos seus senhores engolindo-as.
Posteriormente, eles as defecavam em caldeirões de ferro
e enterravam nos arredores da senzala, pensando um dia
poder usar a riqueza camuflada junto aos seus dejetos
secos para comprarem sua liberdade. No entanto, como
a abolição chegou antes, eles não puderam usar as
pepitas, pois seriam acusados de roubo e voltariam para
a senzala. Sabiamente, eles mantiveram segredo por um
século, e os caldeirões de pepitas posteriormente passa-
ram a ser protegidos por guardiões do além. Contava Zé
Queiroga com sua voz de trovão depois desta explanação.
Contou que, num belo dia, estava arando a terra da sua
propriedade no final da tarde, e tocou a enxada em uma
borda de metal, que tilintou como um sino da igreja local.
Agachado, limpou as bordas, pensando ter achado um
sino da corroa imperial, como tantos outros perdidos na
estrada do coqueiral, mas, para sua surpresa, ao terminar
a escavação, deparou-se com um caldeirão de ferro,
repleto de pepitas de ouro envolto em uma camada de
suposta cinza. Nervoso pelo achado de tamanho valor, já
pensava que, com aquele tesouro, poderia comprar terras
até onde alcançasse seus olhos, e seria possível realiza




GRANDE ASSALTO O DECLÍNIO DO PODER

Capítulo VI
O detetive Ribeiro pede ao delegado a quebra dos
sigilos nos telefones dos suspeitos. Estava difícil de localizar o
local de encontro dos aliciadores.
- Delegado Malone, tenho que colocar escutas. Os pedófilos
são pessoas de alto nível, não se expõem. Tem um agente que
leva as crianças até eles. Para descobrir o local, somente com
escutas.
O delegado encaminha o pedido de escuta.
Ribeiro pergunta: - E o Osmar, delegado. Tem alguma
parada? Tô precisando. Aquela grana tá acabando chefe.
- Cuidado, Ribeiro. Esse tipo de grana ainda pode acabar com
você.
- Discordo. Ficar duro acaba mais rápido. É só olhar os
políticos, quanto mais roubam, mais são eleitos.
- Dizem que roubam, mas fazem. - Comenta o delegado, com
um sorriso no canto da boca.
- Não sei o quê, delegado. Se o país crescesse como o
patrimônio deles, não haveria tanto pobre e tanto bandido.
- É o que você está mostrando com o seu desvio de conduta,
Ribeiro. Volte ao trabalho e vê se não se afunda mais na lama.
Ribeiro sai se perguntado se o delegado não teria levado
uma grana do detetive Osmar depois daquele dia. Era uma
dúvida que o martirizava.
Na delegacia chega a notícia de que Osmar quase foi
morto em um confronto; na perseguição e captura de
assaltantes na residência do Secretário de Finanças do Estado.
Os bandidos fizeram o secretário de refém e fugiram furando o
cerco da polícia no Bairro Azul, bairro nobre da cidade








TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO
Seu
raciocínio dizia a ele mesmo todos os dias: “Esta é sua vida.
Viva da melhor maneira possível, siga seu instinto, alimente
seu cérebro com coisas boas”. Por trinta e cinco anos, José
Francisco não pensou diferente: a rua era sua casa, sua mãe
biológica não existia, não tinha como encontrar seus parentes
biológicos, tarefa impossível para ele, não havia aquém recorrer
ou que ele conhecesse para buscar ajuda. Sem contar com
seus pais adotivos que o esquecera para sempre e ele passou
a aceitar placidamente resignado com seu destino. Depois de
um bom tempo nas ruas longe das pressões diárias da sua
mãe adotiva ele passou a sentir uma mudança repentina e
estava evoluindo mentalmente, e naquele momento tinha a
noção exata de que a vida estava lhe pregando uma peça. O
tempo passara e ele não havia encontrado a formula certa de
como reagir ou superar aquela situação adversa. Ele passava o
tempo escrevendo frases de desejos contidos, amores pedidos
que nunca tivera e sonhar passou a fazer parte da sua vida
como forma de sobreviver ao relento, sonhar de novo com
um lar e imaginar uma família, filhos para poder dar o que
não recebera. No entanto, tinha plena consciência de que era
um sonho quase impossível de realizar. Só uma reviravolta,
uma trapaça do destino o colocaria de volta em sincronia com
o mundo real e distante. Por esse motivo, ele escrevia como
se tivesse vivido um passado que não existiu, sentia falta de
um amor que perdeu, mas que não viveu.

sábado, 27 de dezembro de 2014

O MENINO QUE QUERIA VOAR

O MENINO QUE QUERIA VOAR










Um ano depois,
O menino teve a graça de conhecer o Natal no seu esplendor, quando
algumas vezes no mês de dezembro, acompanhado de
sua irmã, foi até a cidade para ela fazer compras para seus
filhos antecipadamente, antes que os preços aumentassem.
Ele a acompanhava pelas ruas do centro, encantado
com as vitrines e lojas de brinquedos. Na véspera do
Natal, eles seriam colocados na janela à noite, junto aos
seus sapatos. Seus filhos acreditavam em Papai Noel e
aguardavam ansiosamente esta noite para vestirem as
roupas novas. o menino ficava deslumbrado com toda
aquele clima de festa e alegria envolvente e, mesmo não
ganhando nada, sentia-se feliz de participar e aceitava as
desculpas da sua irmã, que dizia que o dinheiro era pouco
e não dava para comprar nada para ele. Depois de tentar
sem sucesso vender limonada e engraxar sapatos para
arrumar um dinheirinho e assistir ao seu primeiro filme
no cinema Metro, que era mais caro que o Olinda,
 Nesse dia ele contou com a sorte. Descendo a ladeira,
 ele achou uma nota de dez cruzeiros. o inusitado aconteceu pela primeira vez:
achar dinheiro na rua na descida do morro, onde quase
todo mundo anda olhando para o chão, em pleno domingo,
em que todos se preparavam para ir ao cinema,
só poderia ser considerado um milagre. Seus irmãos não
tinham dinheiro para levá-lo ao cinema. Achar dinheiro
no morro era um verdadeiro golpe da sorte, pois poucos
tinham para gastar e nenhum para perder. o filme era de
fantasia, de Walt Disney, e o cinema Olinda era o maior
da praça. Ele perdeu mais tempo olhando as pilastras do
que o filme.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

Trapaças do Destino - Causa e Efeito
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TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO






Quarta feira 25 de dezembro de 1963
Ela amanheceu na mesma calçada, mas o bar onde o dono
lhe servia por caridade sua primeira refeição não abriu nesse
dia. Quando ela acordou. olhou para a porta do bar fechada e
ficou desolada, sem perceber que a seu lado havia uma cesta
repleta de bolos, castanhas e um recipiente com comida. Ao
olhar para aquela cesta de vime que havia surgido à sua frente
como um passe de mágica, ela sorriu e sentiu pela primeira
vez nessa cidade a emoção de ser lembrada por alguém. Com
um sorriso que não cabia em seu rosto, levantou-se e abraçou
aquela cesta, como se fosse ele que estivesse ali incorporado
aquele presente, e pulou como uma criança contente por
saber que aquela boa alma não a esqueceu.







TRECHOS DO LIVRO



Pensava em agradecer aquele presente de Natal, que
provavelmente fora deixada por ele, “a cesta recheada da
manhã do dia 25 de dezembro”, mas preferiu guardar em
seu coração toda a sua gratidão.


6 MESES DEPOIS.

Ele perguntou o nome dela para as enfermeiras, e essas
responderam:
– Não tivemos tempo de preencher a ficha de internação
e não sabemos o nome dela doutor. Não achamos nenhum
documento com ela que a identificasse.
Dr. Osvaldo dirigiu-se para a jovem mãe e lhe fez uma
pergunta:
– Qual é o seu nome, minha jovem?
Ela respondeu:
– Maria.
– E qual é a sua idade? perguntou o doutor.
– Dezesseis anos – responde Maria.
– Minha jovem, tem noção da sua responsabilidade
daqui por diante? Você sabe que terá de cuidar de trigêmeos
– enfatizou o doutor Osvaldo, esperando a reação da jovem
mãe, que respondeu, depois de suspirar fundo, demostrando
nervosismo e esfregando as mãos em seu rosto:
– Eu sei doutor, e estou desesperada, e sem saber pra
onde ir.
– Posso saber por quê?
– Eu não tenho ninguém doutor. Minha família não é
do Rio, não posso voltar para casa – disse Maria, começando
a chorar.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO.

Segunda feira 23 de Dezembro 4h da tarde
No centro da cidade do Rio de Janeiro, o povo vivia a
expectativa de novos tempos com a proximidade do ano
novo. A politica no país capengava com incertezas e rumores,
mas o povo mantinha as esperanças em dias melhores Pois
era a semana do Natal, e o espírito cristão e natalino ainda
predominava sobre a maioria das pessoas, fazendo com que
esquecessem por alguns instantes das agruras do mundo. As
lojas estavam enfeitadas para o Natal, com presépios retratando
o nascimento do menino Jesus.







TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO





 Nas vitrines das lojas, bolas
coloridas e luzes piscavam em ritmo cadenciado nas árvores
de natalinas, iluminando o Papai Noel e suas renas em
cenários com neve montados dentro das lojas, aguçando os
sonhos das crianças e suas cores vivas encantando os passantes
nas ruas, vidrados em seu efeito mágico. Nessa época de festa,
todos se mantinham centrados em seus afazeres. O som das
músicas de Natal ecoava nas ruas, vindo das lojas de nome
Rei da Voz e dava o clima festivo do mês de dezembro. “Jingle
Bells” era a música que tocava na maioria das lojas do centro
da cidade. A multidão aglomerada em busca de novidades
se acotovelava nas lojas de discos, pois as vendas de músicas
natalinas aumentavam com novos lançamentos e a maiorias
dessas pessoas preferia a “Noite Feliz”, escrita em 1818 pelo
padre Joseph Mohr e musicada por Franz Gruber”.
O clima era contagiante nas ruas da Alfândega e Sete de
setembro, que estavam cheias de homens mulheres e crianças
aparentemente felizes, na sua maioria consumidores em busca
de presentes. As pessoas se aglomeravam em frente às vitrines
de joalherias e a jovem ficava de olhos bem abertos, vidrados
e arregalados, admirando os homens comprando colares
para suas mulheres ou amantes.

















 Proeminentes senhoras da
alta sociedade avidas por novidades enchiam os magazines
do centro da cidade e carregavam a tiracolo suas empregadas
para carregarem suas compras. Na Rua Buenos Aires, as
crianças em algazarra entravam nas lojas de brinquedos
eufóricas. Do lado de fora da loja, a jovem humilde, enrolada
em um cobertor, observava o movimento dos consumidores
e sorria contagiada pelo clima festivo e admirada com suas
sacolas e embrulhos de presentes envolto em papel coloridos.
Minutos depois, essa mesma jovem estendeu a mão aos ilustres senhores que passavam por ela como se ela não existisse. 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

TEMPOS DE TRAIÇÃO POSSUÍDOS POR AMBIÇÃO

 

TEMPOS DE TRAIÇÃO.

O homem de preto pegou os títulos de terras que completaria o pagamento das minas e coloca sobre a mesa .
por segundos ,a mente de Thomas ficou confusa; aquela voz lhe soava familiar mas sua lembrança o traia  









terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O GRANDE ASSALTO O DECLÍNIO DO PODER

Ribeiro não queria acreditar. Estava demorando pra cair
a ficha. Não que ele fosse inocente ou tão idiota, longe disso,
ele mesmo já tinha se locupletado algumas vezes, mas não com
tanto risco, a ponto de dar cobertura a bandidos.
- Se for verdade, vai ser difícil. Como vamos resolver a
parada?
- É isso, Ribeiro. Você que viver como herói ou viver como
corrupto? Ser preso, sua família vai se envergonhar de você,
seu filho e sua mulher terão que mudar de endereço.
Ribeiro pensou várias situações em segundos, inclusive,
pouco se preocupava com sua mulher, mas seu filho estudava
em um bom colégio, custava caro. Ele e Juliana, sua amante,
não mereceriam. Até porque a sua amante era sobrinha de um
padre celebridade na cidade, com grande influência no governo
local e ele tinha planos. Ribeiro preferia pequenos delitos. Seu
lema? De grão em grão eu banco a Juliana.
- Taí, chefe. Tô dentro. Qual o plano? – Pergunta o detetive
como se fosse um lance pessoal e não uma operação policial.
- Você dirige e eu fotógrafo até onde der, sinto um cheiro
podre no ar e precisamos de provas. - Conclui o delegado,
pegando a máquina fotográfica.

sábado, 13 de dezembro de 2014

O GRANDE ASSALTO O DECLÍNIO DO PODER


O GRANDE ASSALTO O DECLÍNIO DO PODER












Malone convoca Osmar para ir a sua sala. E trava um
diálogo não muito conclusivo. O delegado dirige-se a ele:
- Sei que você é um crápula, mas o que me impressiona é a sua
frieza assassina e inescrupulosa. Você se revelou um grande
ator. Vamos tirar a máscara agora.
- Desculpe chefe, mas não há máscara. Somos o que somos,
não precisamos de máscara. O esquema já estava montado, se
você não gosta, não interfira e acaba tudo bem. Não me
preocupa se não vai querer a sua parte ou não, vai sobrar mais
pra mim. Quando você chegou, já imaginava a sua atitude.
Todos falam a mesma coisa no início, mas com o tempo, todos
entram no esquema. Esta é a minha maneira de trabalhar e não
existe volta. Se eu cair, cai muita gente comigo! - Ameaça o
detetive, aumentando a voz.
- Você pensa que me envolveu num esquema, no qual eu não
pedi para entrar. - Afirma o delegado com o dedo na cara do
detetive.
- Lamento, mas o esquema é este, delegado. Há mais gente do que
você pensa, e se mexer, será como efeito dominó, cai todo mundo..
- Sinto que você se sente dono da situação, Osmar. Você acha que
está acima da lei, tomou conta da delegacia aproveitando-se
desta doença endêmica e confiando na impunidade, mas
comigo será diferente, eu garanto. - E continua.- Vai à merda.
Eu não estou neste esquema, não entro neste esquema, não
quero este dinheiro sujo. Fui bem claro seu filho da...? - Corta a
frase, quase perdendo o controle da situação.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O GRANDE ASSALTO O DECLÍNIO DO PODER

O GRANDE ASSALTO O DECLÍNIO DO PODER


Manhã seguinte
Cidade Rio de Rosário, ano 2015, 07:00 hs.
No saguão hotel BIG HILTON, no bairro dourado da
cidade, um senhor de terno de cor cinza-grafite, Armani Chang,
aparentando 70 anos, de cabelos grisalhos e bigode bem
aparado, com uma maleta metálica fixada a uma algema no
braço, dirige-se ao balcão de atendimento, pergunta pela
reserva de um apartamento, em nome de Germano Malone. A
bela e simpática recepcionista, sorridente, dirige-se ao hóspede,
pede um minuto e checa no computador.
- Sim, temos uma reserva para o Embaixador Germano
Malone.


O embaixador salta do elevador no quarto andar e
percorre um longo corredor com carpete vermelho. Nas
paredes, réplicas de quadros do período renascentista. Germano
toca a campainha do apartamento 406, vizinho ao apartamento
408, um homem entreabre a porta discretamente e diz: - Ok,
Ribeiro tudo em ordem, fique atento! – Rapidamente se
despedem. O Embaixador faz um sinal positivo, abre a porta do
apartamento 408 e entra. Verifica o interior do apartamento,
retira a algema que prende a maleta a seu braço e a coloca
dentro de um armário. Abre a maleta, retira três latas de
refrigerantes e coloca no frigobar.
Dez minutos depois, um táxi para em frente ao hotel.
Dois rapazes saltam, esperam o motorista abrir o bagageiro do
carro, retiram dois embrulhos em formato de quadro. Com suas
mochilas nas costas, entram no hotel. O embrulho em formato
de quadro chama a atenção da recepcionista. Ela se posiciona
em frente a uma colega, demonstrando interesse em atendê-los.
Eles chegam. Logo, o mais afoito, loiro e parecendo ser o mais
velho, pergunta à recepcionista se o Embaixador Germano
Malone está hospedado naquele hotel.
Ela confirma. Ele pergunta se ele deixou algum recado
para eles. A recepcionista pede o nome dos rapazes e os libera
para subir. E diz:
- O apartamento é o 408. Elevador à esquerda, senhores. - Os
rapazes não agradecem, parecem apressados. A recepcionista
pega o telefone e discretamente avisa o Embaixador.
Os dois rapazes saltam do elevador e olham em todas as
direções. Parecem desconfiados. Chegam ao apartamento 408.
Um deles coloca o ouvido na porta tentando ouvir alguma
coisa. Esperam alguns segundos e batem à porta.
Germano abre a porta e os recepciona com um sorriso.
- Até que enfim chegaram! Faz um ano e três horas que espero
ansiosamente por estas maravilhas

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO



TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

Marcos Albuquerque Fernandes estava com doze anos,
e morando nos Estados Unidos da América. Ele e seu pai
passeavam pela Disneylândia, andavam na montanha russa,
faziam compras e almoçavam. Seu pai estava um pouco
agitado e toda hora pegava no braço de Marcos, que já se
sentia incomodado e lhe indagava se estava passando bem,
pois parecia nervoso. Seu pai desconversou e o convidou para
tomar o sorvete que ele mais gostava: sundae de morango
com chantilly. Com essa atitude, eles se descontraíram. Toda
essa ansiedade de Roberto tinha um motivo, nesse dia ele
pretendia contar ao Marcos um segredo, que perdurara por
doze anos.







Ano 1963.
O jardineiro
dava uma pausa ao seu trabalho para apreciar o avião da
Panair pousar no Aeroporto Santos Dumont, sonhando que
um dia iria embarcar em um deles e poder levantar voo rumo
à sua cidade natal no Nordeste, onde alguém o aguardava.
Enquanto ele sonhava com o seu retorno, seguia em frente
assoviando as músicas de sua predileção, que alegravam
seu coração nostálgico. Nessa mesma manhã de primavera
sobre o Morro do Pão de Açúcar, um acanhado raio de sol
surgia entre nuvens sobre a baía da Guanabara e iluminava
o bondinho do Pão de Açúcar parado entre as estações.
Enquanto não amanhecia o símbolo maior da cidade, era
como uma miragem sobre a montanha

domingo, 7 de dezembro de 2014

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

TRECHOS DO LIVRO







TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO



A tropa passou por ela posicionando-se em direção ao
Aeroporto Santos Dumont. Ela recompôs-se, respirou fundo,
tentando manter o equilíbrio do seu corpo e de sua emoção.
Depois de descansar por mais alguns minutos nas escadarias
do prédio do Ministério do Trabalho, ela reuniu a pouca força
que lhe restava, respirando fundo e segurando a sua imensa
barriga, pois teria de seguir em frente. Seu aspecto físico
impressionava os poucos transeuntes que olhavam para sua
barriga imensa, e ironicamente se perguntavam o que seria
dessa pobre criatura desamparada, mas sem nada fazerem
para ajudá-la.
Consciente do seu estado e sabendo que estava só nesse
mundo desconexo, contava apenas com seu esforço, nessa
jornada descomunal.






A noite chegou, as lojas se fecharam e o brilho das luzes
de Natal se apagou. As ruas foram ficando desertas, poucos
carros circulavam pela presidente Vargas, e pouco a pouco
cidade se apagou. Desiludida, ela caminhava cabisbaixa com
um aperto em seu coração, meio perdida na multidão que se
aglomerava em pontos de ônibus para retornar às suas casas.
Ela seguiu olhando as lojas de roupas infantis que ainda se
mantinham acesas, e as vitrines com manequins de crianças
vestidas para noite de festas. Seus olhos brilhavam mareados
enquanto acariciava sua barriga. As músicas das lojas de discos
haviam embalado seus sonhos distantes de sua realidade.
Desilusões momentâneas tomaram conta daquela jovem, que
experimentava as agruras de viver ao relento, mas talvez já
estivesse escrito que ela teria de prosseguir, pois, afinal, de
todas essas penitências que o dia lhe preparava, ela sempre
encontrava uma saída. Isso porque, nesse momento, a vida
estava lhe preparando para superar a adversidade, e quem
sabe se o destino depois de lhe mostrar onde ficava o abismo
talvez já a estivesse testando, para mudar a sua direção. Nesse
momento, ela faria sua caminhada, rumo ao aconchego da
Praça Paris, onde poderia dormir protegida por figuras de
J o ã o M C . J r
3 1
animais em mármore Carrara e sob a sombra das estatuas e a
figura do Marechal Deodoro, que à noite se transformava em

seu guardião.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

TRAPAÇAS DO DESTINO CAUSA E EFEITO

Depois de alguns minutos de conversa
sobre o seu trabalho, fez-lhe elogios pela sua eficiência e lhe
ofereceu uma promoção para função de arrumadeira e um
aumento. Ela aceitou, mas a pobre jovem não sabia que por
trás dessa proposta viria outra. Ela logo percebeu que seriam
feitas outras propostas, dessa vez de forma acintosa.
Sem falar,o dono do hotel deixou claro o que ele pretendia. Com seu
gesto de suposto bom patrão, estava claro que ela teria de
aceitar suas carícias para subir de posto, o que ele insinuou
logo ao começar a pegar em suas mãos e em seguida e a fazer
elogios à cor da sua pele, que grosseiramente dizia ser cor de
jambo. Não tirava os olhos das pernas da jovem. Em seguida,
Juan, em um gesto rápido, a abraçou, tentando puxá-la para
cama e beijá-la. Com esse assédio, ele estava deixando bem
claro que ela teria de fazer favores sexuais para permanecer
no trabalho. Indignada, ela não pensou duas vezes reagindo
ao assédio do congênere dom Juan. Ela desvencilhou-se do
seu abraço de tamanduá e o empurrou, tirando-o de cima
dela e o jogando no chão. Sem reação, Juan ficou sentado
como um idiota malsucedido, com cara de pastel, olhando
a jovem pegar somente um cobertor de listras azuis com que
se cobria e sair porta afora somente com a roupa do corpo,
deixando o pouco que tinha para trás, por estar apressada e
com medo de que viesse lhe ocorrer o pior.
Depois desse dia sua vida, voltou à estaca zero, “como era
a referência de quem começaria tudo de novo’’. Desiludida,
ela voltou a perambular pelo centro do Rio de Janeiro.
J o ã o M C . J r
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APRESENTAÇÃO

https://youtube.com/shorts/qdngHg1eO3M?si=ORq6NhaSUzRvAO5o